O GUARDA BRINCALHÃO
Antigo posto da extinta Guarda Fiscal, São Gregório
Junto à fronteira havia um posto da Guarda Fiscal. Um dos soldados, considerado o mais brincalhão dos brincalhões, um certo dia chegou a casa cabisbaixo. A esposa, habituada a vê-lo sempre alegre, pergunta-lhe: «Querido marido, por que estás assim?» «Ó mulher, então não sabes? A filha de sicrano vai casar no domingo e não nos convidaram para a boda!» «Ó homem, não te importunes por causa disso; não nos falta comida em casa.» «Isso é verdade, mas a festa… nós vamos!» Gizou um plano de mestre, a mulher entrou no jogo, e ei-los no domingo a caminho de casa dos pais da noiva, onde decorria o banquete. À cerimónia religiosa não estavam interessados em assistir. As horas passam. O cortejo nupcial finalmente chega. O casal estava atentíssimo. Aguarda que os convidados se sentem à farta mesa e comecem a devorar a vitela, os cabritos, o bom presunto, o arroz de lampreia, etc. O guarda vira-se para a mulher e diz-lhe: «Chegou a hora. Não falhes. Foste sempre uma óptima actriz.» A esposa, encorajada por aquele piropo, avança resolutamente. Entra pelo casamento dentro aos gritos de «quem me acode; o meu marido quer matar-me, salvem-me por amor de Deus.» Aqueles dentes pararam de mastigar. As mulheres rodearam a senhora, prometendo defendê-la com a própria vida, se necessário fosse. A falsa vítima rejubilava. O plano estava a funcionar. Sentou-se à beira delas e dali a pouco já estava a encher a barriguinha. Subitamente surge o malandrete aos berros, cabelos desgrenhados… «Onde está essa maldita? Eu mato-a!» Os homens aproximam-se dele, pedem-lhe para se acalmar, era um dia importante para aquela família, ele que se sentasse, comesse e bebesse até toupar. Adorou ouvir essas palavras. Era música angelical para o seu estômago vazio. Acalmou, deu um jeito ao cabelo, sentou-se à beira dos comilões e ei-lo a regalar-se com todos aqueles manjares. Dali a pouco já ria, contava anedotas picantes, e tudo acabou no melhor dos mundos. À noite, quando chegam a casa, diz à cara-metade: «Fomos ou não fomos à boda? E sem dar prenda!» A mulher, bem bebida, exclama: «Tu és um génio, meu amor!»
Dicionário Enciclopédico de Melgaço II
Joaquim A. Rocha
Edição do autor
2010
Pp. 22, 23