O CASTELO DE MELGAÇO NO TEMPO – SÉC XVIII
Vista parcial e interior das muralhas do Castelo de Melgaço
A FORTIFICAÇÃO NO SÉCULO XVIII
Sob o reinado de D. João V de Portugal (1706-1750) uma planta de Manuel Pinto de Vilalobos, datada de 6 de Novembro de 1713, mostra a vila medieval envolvida por uma fortificação abaluartada. A nova fortificação tinha os baluartes orientados para os principais pontos de defesa: dois para o curso de rio Minho e o terceiro, cobria o flanco meridional, voltado ao rio do Porto e à única ponte que atravessava. Dos três baluartes o mais importante era o virado a sul, constituído por dois meios baluartes geminados, no local onde hoje existe a praça fronteira à Câmara Municipal. A tenalha, imponente, tinha acesso ao interior por duas portas quase simétricas, uma no enfiamento do caminho que vinha da ponte sobre o rio do Porto (actual Rua Afonso Costa) e a outra na abertura da porta voltada à Rua do Castelo e à Igreja Matriz, defendida por uma barbacã poligonal, destruindo uma das torres da muralha do castelo, e, consequentemente, desmontando o antigo paiol, reconstruído noutro local. A tenalha e a muralha descobertas na Praça da República a fechar uma das passagens do fosso denotam ser uma construção apressada, que utilizou pedra de qualidade técnica aligeirada, de fraco aparelhamento e assentamento irregular.
Posteriormente, uma planta elaborada pelo sargento Gonçallo Luís da Sylva Brandão, com data de 1758, retrata ainda os três principais pontos de abastecimento de água à época: a cisterna, um poço no interior da povoação e a fonte da vila. No ano seguinte, a 8 de Outubro de 1759, a praça foi inspeccionada pelo Comissário da Vedoria Geral da Província, Estêvão Barbosa de Araújo, acompanhado dos engenheiros Francisco de Barros e José Maria da Cruz.
Em 17 de Dezembro de 1761 o relatório de inspecção, enviado a D. Luís da Cunha pelo Sargento-mor de Batalha, António Carlos de Castro, referiu a necessidade de duas tarimbas no quartel de soldados, de se fazer as duas faces do cunhal sul, de se colocar uma porta nova na barbacã da porta, e de se refazerem as portas de baixo, e serventia da Praça da parte da Galiza. Adicionalmente precisavam-se fazer portas novas para as entradas norte e sul da tenalha, repor cantaria no parapeito da praça na distância de 200 palmos e na altura de 5, mandar fazer as plataformas de madeira para a artilharia, consertar e retalhar os armazéns e o quartel de infantaria, visto estarem em “mizeravel estado”, e recomendava-se ainda olear as portas novas e as janelas dos armazéns das armas e da praça, e fazer a porta interior do paiol, que tinha 6 palmos de altura e 4 de largura.
Em 1786, aquando do falecimento do alcaide-mor Sebastião de Castro Lemos, o castelo estava arruinado ou quase todo caído. Nesse ano procedeu-se à reparação do mesmo, em carácter de urgência, mandada executar pelo juiz de fora Dr. António José Pinto da Rocha, com a renda da alcaidaria, tendo-se, no entanto, reparado essencialmente a torre de menagem.
Entre 1789 e 1800 uma nova inspecção à praça de Melgaço descreve-a como obra antiga com uma torre e uma muralha simples, possuindo da parte de fora alguns baluartes “muito pequenos, de pouca consideração incapazes de poder jogar a artilharia”; os armazéns e os quartéis estavam em grande ruína; declarava-se que a fortaleza não tinha préstimo militar. Nesse período, em 1792 o soberano proibiu a existência de edifício ou cultura dentro dos fossos ou sobre qualquer obra de praças e fortalezas da Província do Minho.
Em Fevereiro de 1797 teve lugar a inspecção pelo Sargento-mor de Engenharia, Maximiano José da Serra, que determinou a reparação de soalhos e telhados, e a construção de portas e janelas com ferragens adequadas. Nesse mesmo ano foi feita a reparação do telhado do paiol e do edifício do corpo da Guarda, onde haviam abatido várias “porções” de paredes, construída lareira na Casa da Guarda nos quartéis e conclusão das tarimbas.
Custódio José Gomes de Villasboas, em 1800 descreveu o castelo de Melgaço como “hum castello de construcção antiga, e muralhas altas, em que laboravão algumas peças de que ha pouco se desguarneceo; tem corpo da guarda, e pequenos quartéis, com huma espécie de obra coroa, dominando a estrada que por alli vai a Cristoval para a Galiza”.
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