O CASTELO DE MELGAÇO NO TEMPO – SÉC XIX
Castelo de Melgaço
O SÉCULO XIX
No contexto da Guerra Peninsular (1808-1814) quando da primeira invasão do país pelas tropas napoleónicas (1807-1808), as muralhas de Melgaço encontravam-se arruinadas. Por volta de 1808, em uma nova avaliação do estado das fronteiras do rio Minho o engenheiro militar responsável considerou que seria mais vantajoso gastar o dinheiro na construção de pequenas baterias, que se poderiam estabelecer em tempo de guerra em locais oportunos, do que na reparação e conservação daquelas praças.
GUERRA, Luís Figueiredo da, Castelos do Distrito de Viana (1926), informa que cabe a Melgaço a honra de ser a terra de Portugal que primeiro se levantou contra o domínio francês, erguendo a bandeira nacional a 9 de Junho de 1808. Conservava, naquele momento, 7 peças de artilharia. (Op. cit., p. 675)
No mesmo momento, o Sargento-mor Engenheiro Custódio José Gomes Vilas Boas descreveu Melgaço como um pequeno recinto que encerrava parte da vila com muralhas altas, mas que tinha um terrapleno com parapeito tão escasso que mal se podia manobrar a artilharia; a única serventia era como ponto de reunião e de permanência temporária, de onde se podia partir para defender a Ponte das Várzeas (15 de Junho de 1808).
Em 1810 para a defesa da praça de Melgaço, construíram-se baterias em pontos vitais para a entrada de um exército invasor pela Galiza: uma em S. Gregório, outras na estrada entre a vila e a Ponte das Várzeas, outras ainda foram projectadas mas não construídas. Essas baterias de campanha eram feitas com parapeitos de terra, próprias para receber soldados com armas ligeiras, mas também onde se poderiam colocar peças de artilharia.
Em um documento de 23 de Maio de 1840 a antiga torre de menagem encontra-se referida como “torre do relógio”, informando-se que o castelo era circundado exteriormente por um “caminho de piquetes”, tendo a leste um hornaveque, e a norte algumas obras baixas; a fortificação encerrava um quartel para uma campanha e um armazém convertido em quartel; o recinto magistral estava em bom estado, o castelo tinha uma parte da muralha arruinada, as portas e os quartéis precisavam de concerto; o hornaveque estava arruinado e cheio de casas particulares por dentro e por fora; ao longo do “ramal” sul tinha casas adossadas, algumas mais altas que a muralha; as obras baixas estavam em bom estado.
Neste momento, em meados do século XIX, registou-se a desactivação da tenalha que, por Aviso do Ministério da Guerra de 13 de Agosto de 1856 viria a ser demolida. Uma planta da época mostra a couraça com adarve, ao qual se acedia por escadas interiores. Outra planta, com data de 1857 mostra boa parte da área militar e sua envolvente aproveitada agricolamente. Ainda à época, uma planta com data de 1859 mostra que ainda subsistia a “couraça nova” desenhada por Duarte de Armas no século XVI, embora agora tivesse adossada pelo lado de fora uma casa e, pelo lado de dentro, três prédios.
Entretanto a vila ia crescendo fora de muros e, ao atingir-se o último quartel do século, Melgaço, como outras vilas e cidades muralhadas no país, acabou por ser alvo das ideias desenvolvimentistas que viam nas antigas fortificações um estorvo ao crescimento urbano.
De acordo com um relatório datado de 15 de Dezembro de 1861, a povoação não devia ser sacrificada ao imobilismo da História, pelo que o “recinto magistral” deveria ser demolido e o seu material vendido, tal como o quartel dos veteranos, a casa da guarda das portas de cima, e os terrenos militares no perímetro da praça; deveria conservar-se apenas como “livro histórico” a “cidadela”, que se devia reparar e desembaraçar a entrada dos edifícios civis; à época ainda ali estava estacionado um pequeno destacamento, mas com finalidade mais policial que militar.
Passadas duas décadas foi entregue à Câmara Municipal a parte das antigas fortificações da vila compreendida entre as portas do lado sul e do leste, assim como o reduto que defendia esta última (25 de Abril de 1883); deu-se início, a partir de então, à demolição da cerca da vila. Nesse mesmo ano, a 3 de Novembro, o médico municipal Francisco Luís Rodrigues Passos, requereu à Câmara a venda da pedra da muralha, o que lhe foi deferido no ano seguinte (1884). Pela solicitação o médico comprometia-se a parte da muralha que lhe fosse concedida, e a extrair o entulho da sua demolição no prazo de três anos, contados desde a posse dada pela Câmara. A pedra destinava-se à construção de uma casa a oeste do Rio do Porto, e a sul da Avenida da Feira do gado. Em 1885 aproveitou-se cantaria da fortificação para a construção da sacristia da Igreja Matriz. Num documento de 24 de Junho do mesmo ano, a Câmara reconhecia a justiça das reclamações de vários proprietários da vila devido ao amontoado de entulho que impedia a passagem de água de rega, porque o médico ainda não havia removido o que devia. Em função disso, a Câmara mandou que todo o entulho fosse removido para a zona da feira do gado, para aplanar o lugar e cobrir as raízes das árvores. Entre 1886 e 1892, a Câmara vendeu 3.477 carros de pedra das fortificações, produzindo uma receita de 425.395 e uma despesa de 271.450. Mais tarde, em Dezembro de 1888, a Câmara pagou ao mestre José Rodrigues Grejas da Costa, de São Paio, por desmontar as portas das muralhas leste da vila. À época, apeou-se ainda a porta de Cima. A 31 de Agosto de 1892, o vereador Baltasar Luís de Araújo Azevedo, em substituição do Presidente da Câmara, apresentou o projecto e o orçamento para a rua lateral à Praça do Comércio, que seria feita com o produto da venda da pedra da muralha. A 14 de Maio de 1895 informou-se, em sessão da Câmara, que a venda da pedra da fortificação rendera 2$550, mais as obrigações do arrematante, Germano Augusto do Amaral Albuquerque.
Ao chegar o ano de 1900 ainda subsistia parte do muro da vila, mas o Ministério da Guerra alienou-o, vendendo as parcelas de terreno que ainda possuía da fortificação. Nesse ano, a 4 de Abril, um requerimento enviado à Câmara Municipal referiu a necessidade de demolir o que restava da muralha que circundava a vila porque, segundo os médicos municipais, era um obstáculo à higiene da povoação, podendo considerar-se como uma das principais causas da insalubridade dos bairros por ela circundados.
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