UM HOMEM DO PARTIDO PROGRESSISTA EM MELGAÇO
UM POLÍTICO MELGACENSE
Os seus estudos literários principiaram em Paços, na escola régia do seu tio Joaquim José Durães – o entrevado de muitos anos recuperado para o estudo e o ensino pelo carinho fraternal do João e por um esforço da vontade própria – e foram acabar em Coimbra, na Faculdade de Direito da Universidade.
Ai se matriculou em Outubro de 1876 e se bacharelou em 1881, deixando ver aos condiscípulos quão prometedor era o seu espírito logo no dia seguinte ao da primeira prelecção do lente Dr. Pedro Penedo da Rocha Calhau.
Conta-o num dos seus livros o Dr. António Cabral, contemporâneo do melgacense, ao dedicar à sua memória estas palavras: «No dia imediato chamou à lição o último aluno do curso, o número 81, António Joaquim Durães, que foi depois governador civil de Évora e morreu há anos. Conheci-o muito bem, como conheci todos, ou quase todos os condiscípulos dos meus irmãos, com muitos dos quais, apesar de caloiro, tratava por tu. Era aquele um minhoto cerrado, de cara quadrada e cabelo às ondas, inteligente, vivo e alegre. Como era o último do curso, não esperava dar lição, logo no primeiro dia da chamada. Não tinha estudado a matéria, portanto, nada sabia mas, como era rapaz de talento, foi vencendo as dificuldades do lance, auxiliado pela sebenta e pelo que lhe iam soprando os vizinhos caridosos.»
De posse do canudo com as cartas na mão veio para a terra natal, trazendo de Coimbra acarinhados no coração Alexandre Cabral e os irmãos, o Gaspar Malheiro, o António Feijó e tantos outros, que enveredaram pela política e foram marechais no campo progressista; aqui. Porém, seu pai era regenerador e ele ficou militando na órbita da casa do Rio do Porto. Mas à custa apenas do esforço pessoal foi vincando na terra a sua personalidade a par e passo da carreira do tempo.
Orador de palavra fluente, quantas vezes no tribunal não encantou todo o júri e o levou a escrever veredictos favoráveis aos seus clientes? O profundo conhecimento das legislações civil, comercial e fiscal eis o principal chamariz por ele usado para atrair os demandistas ao seu escritório, onde muitas vezes se viu desfazer uma tormenta iminente, só por as partes se deixarem guiar por conselho daquele letrado para um acordo amigável e extra judicial. Em fins de 1887 por iniciativa de um pequeno grupo de melgacenses, bairristas todos e brasileiros, apareceu aqui O Melgacense, o primeiro jornal a publicar-se na terra e aí sobre a direcção do Dr. António Joaquim Durães se debateram vários problemas ligados ao progresso do concelho e fustigada foi com aplauso de uns tantos a política de José Cândido Gomes de Abreu, homem público não tolerado por algumas figuras do meio devido ao seu génio dominador.
Por esse tempo andava na Câmara, como substituto em exercício, o progenitor deste advogado e andava também o pai de quem estas linhas escreve e ambos sob a presidência desse famigerado José Cândido.
Corria Setembro de 88 quando aos ouvidos do primeiro chegaram boatos de haver já em campo trabalhos para o prolongamento do caminho de ferro de Valença a Monção e isso bastou para, por iniciativa sua, a Câmara representar ao governo progressista solicitando «a continuação deste melhoramento de largo alcance até comunicar com a Espanha em raia seca, e ao menos até à capital deste concelho, que muito lucraria para a exportação dos seus produtos, e importação dos géneros de que precisa para consumo, como são os de mercearia, líquidos oleosos e os que mais ninguém ignora.»
Ora essa representação organizada foi pelo filho advogado e remetida por José Cândido às instâncias superiores por intermédio do governo civil, contra a opinião do proponente, que se bateu para ser endereçado ao deputado para este concelho, no que foi apoiado pelo «vereador Esteves, que se havia levantado por motivo urgente e regressando disse, que votava com o seu correligionário João Manuel Durães, atendendo a ser o deputado o representante do concelho.»
Mais ou menos por estes dias e, por isso, também em 1888 se não erro, foi o novo advogado transferido de Vila Pouca de Aguiar para a conservatória do Registo Predial privativa do nosso concelho, acabada de criar pelo governo progressista.
A política afastara-o dos regeneradores e da direcção de O Melgacense, mas em 1896, com dinheiro seu, surgiu na terra um Melgacense a propalar ser o órgão do partido progressista e dos interesses concelhios, mas então, infelizmente, já nenhum dos jornalistas de qualquer das folhas locais foi de craveira a elevar-se às regiões superiores do pensamento para poder colher a consagração ou os aplausos do público em geral. Filiara-se alguns anos atrás trabalhado quiçá pelas velhas amizades de Coimbra no partido progressista e como arrastara consigo quase todos os quarenta maiores contribuintes, velhos satélites da órbita da Casa do Rio do Porto, do próprio campo progressista afastou o velho chefe Dr. Gomes do Convento e em sucessivos períodos eleitorais foi coleccionando vitória sobre vitória até a morte chegar.
(Publicado em Notícias de Melgaço de 4/10/1959)
Obras Completas
Volume 1 tomo 2
Augusto César Esteves
Edição da Câmara Municipal de Melgaço
2002
pp. 599-601