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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

HÁ ANOS ERA ASSIM...

melgaçodomonteàribeira, 29.09.13

 

 

Há anos era assim... 

Hoje, são chineses, angolanos, franceses, galegos...

Hoje, o teu sonho é a nossa realidade.

Hoje, o monte de prado não é só nosso, é do mundo.

Hoje, o contrabando não é uma nódoa.

Hoje, o cinema faz parte da Vila.

Hoje, o alvarinho, no solar, é para todos.

Hoje, quando dizes adeus à presidência da CMM, não te esqueças que Melgaço é um sonho do qual ainda não acordaste.

Contamos contigo.

 

Família Cambório

 

 

 

Centro de estágios

  

SEMPRE CONTIGO, PRESIDENTE

melgaçodomonteàribeira, 28.09.13

 

 

       CONTIGO!

 

Ao Sr. Presidente da Câmara de Melgaço

 

Aqui ‘stamos p’ra jantar

Num convívio de alegria

Todos prontos a votar…!

O que há muito se previa…

Não queremos criticar

Isso daria mal ‘star

Ou anti-democracia!

 

Respiremos bem profundo,

Uma vez que, neste mundo,

Imporemos nossa “força”…!

 

Estrela da nossa terra

Se, assim, podemos dizer!

Tendes hoje, aqui convosco,

Este povo que vos quer

Ver no topo da carreira.

Esperamos, assim, ver,

Sincero labutador!

 

Sabemos e muito bem,

O que queremos, enfim!

Levar-vos para mais além

Hoje, amanhã… e depois…!

Erga-se a voz, desde já:

Ir mais e tudo p’ra frente!...

Reconquistai amanhã

O que perdeu nossa gente!                                                                                     

 

De todos nós recebei

Este voto de amizade:

Pra que a vida vos sorria,

Uma vez na “sociedade”

Tende a nossa confiança

A todos “esses” instantes

De luta e de esperança!!!

O Rui Solheiro é que avança!!!

 

 

José Serrano

Uma Vida Entre Poesia

José Maria Rodrigues

Edição: Câmara Municipal de Melgaço

2007

pp. 102, 103

 

CASTELO DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 21.09.13

 

 

AS FREGUESIAS DO DISTRITO DE VIANA DO CASTELO NAS

MEMÓRIAS PAROQUIAIS DE 1758

 

Alto Minho: Memória, História e Património

 

 

Autor e Coordenador - José Viriato Capela

Março 2005

 

 

Castelo e Muralha de Melgaço – Situada no extremo mais setentrional de Portugal, a urbe de Melgaço recebe a organização foraleira de D. Afonso Henriques, em 21 de Junho de 1183, semelhante à da galega Ribadávia, conforme sugeriram os seus moradores, e que Afonso II viria a confirmar em 1219. Este diploma virá a ser substituído em 1258 por nova Carta de Foral, outorgada por D. Afonso II a 29 de Abril desse mesmo ano. Todavia, perante a resistência feita pelos melgacenses, o novo diploma foi suspenso e o primeiro restaurado em 1261. A colina onde hoje se situa a vila, sede do município, ocupa uma posição estratégica de excelência na rota  de uma das vias de ligação entre a Galiza e o Norte de Portugal. Lado a lado com o rio Minho, é uma autêntica sentinela nas fronteiras terrestre e fluvial com o Reino da vizinha Galiza. Por ordem do rei, o prior do Mosteiro de Longos Vales funda torre de menagem e cidadela em 1190. A defesa do burgo com uma muralha ganha corpo a partir de 1205, embora o início da construção da muralha remonte, pelo menos, aos tempos de D. Sancho II. A necessidade de um sistema defensivo eficaz torna-se crucial à luz da invasão do Norte de Portugal pelas forças leonesas, no cenário da disputa entre D. Afonso II e as Infantas suas irmãs, em 1211-1212, quando a tomada de Melgaço acentua tal desiderato, sendo conhecida em 1245 a intenção de cercar a vila com muralha de pedras quadradas. Inserido na linha estratégica do Minho, o castelo de Melgaço desempenha o papel de castelo de detenção, se na posse dos portugueses, contra Leão durante a Reconquista, e de penetração para os castelhanos, em acção coordenada com os outros da mesma linha estratégica, já reconquistados. O rei bolonhês promove a renovação do castelo na qual comparticipam o mosteiro de Fiães, o próprio concelho e o alcaide. Este esforço régio enquadra-se na estratégia de dotar o país com uma defesa mais efectiva junto da fronteira terrestre e fluvial com o vizinho reino de Leão e Castela. Eloquente testemunho é a epígrafe situada à direita da porta oeste, que facultava o acesso à via que conduzia a Valadares e Monção. Nesta inscrição comemorativa, em latim medieval, gravada ao longo de três silhares da face externa do granito da muralha lê-se: IN TEMPORE DOMINI REGIS ALFONSI / PORTUGALIAE MAGISTER FERNANDUS COM / POSSUIT MURUM ISTUM E. M. CCCI / MARTINUS GONÇALVIS CASTELLARIUS / DOMINI REGIS CIRCUNDAVIT HANC VILLA IN / HAC PARTE. Tradução: No tempo do rei D. Afonso o mestre Fernando compôs este muro Era MCCCI. (1301-38 = 1263) Martinho Gonçalves, Casteleiro do senhor rei, circundara a vila nessa parte. Das quatro portas originais da cerca românica restam hoje duas, a que dá para a rua do Carvalho e a outra para a rua Direita, tendo desaparecido a aberta junto à igreja e a do Postigo. D. Pedro I entrega o castelo de Melgaço, bem como o de Castro Laboreiro, a Vasco Gomes de Abreu em 18 de Junho de1357. A partir de 2 de Abril de 1358 é confiado ao cavaleiro Garcia Anes de Vilar e D. Fernando faz mercê do mesmo a Gomes Gonçalves de Abreu. D. João I entrega-o a João Rodrigues de Sá e como continua a favor de Castela é cercado durante 52 dias em 1388. Para o conquistar é utilizada a catadulpa ou trabuquete, o que veio demonstrar que, contrariamente aos desejos dos castelhanos nele sitiados, não gozava de total invulnerabilidade. Em 1441 é alcaide Martim de Castro e passa para a órbita da Casa de Bragança. D. Afonso V doará Melgaço em 1460 ao Marquez de Vila Viçosa, filho do Duque de Bragança. D. João II nomeia em 1483 Fernão de Castro alcaide-mor, estando referenciada em1492 a entrada de judeus por Melgaço expulsos de Castela. O desenho de Duarte d’Armas, elaborado por volta de 1506, apresenta o castelo de Melgaço defendido por três torres inseridas no círculo com a de menagem ao centro, com duas portas, a maior virada para o rio Minho dando para um pátio com cisterna e acesso à alcaidaria, e a mais pequena para a vila, rodeada por muralha. O castelo e a vila são defendidas por barbacã, muro construído diante da muralha e mais baixo do que ela, para defender o fosso, nesta altura já muito destruído. No século XVII conhece obras de adaptação a fortificação abaluartada que integram o primitivo recinto fortificado. Em 9 de Junho de 1808, Melgaço foi a primeira localidade a insurgir-se contra a ocupação francesa, erguendo no ponto mais alto do seu castelo a bandeira nacional, onde conservava 7 peças de artilharia. A partir de meados do século XIX cresce a tendência para a demolição de partes da muralha, tida como impeditiva do crescimento urbano e de melhor salubridade pública, ao mesmo tempo que a estrutura defensiva conhece o desinteresse militar e a falta de meios do poder central em a conservar, agora que se tornara obsoleta à luz das novas técnicas e tácticas bélicas. Este castelo românico, de planimetria circular, com a sua torre de menagem central e três torres integradas na respectiva linha de muralhas, é classificado como monumento nacional por Decreto de 16 de Junho de 1910. O troço de muralha que integra duas portas, servindo uma delas o principal eixo da vila, e onde se pode ver ainda a barbacã, foi declarado monumento nacional pelo Decreto nº 11.454, de 19 de Fevereiro de1926. A Memória paroquial de Santa Maria da Porta da vila de Melgaço refere-se nas seguintes formas à praça melgacense: «Esta terra e sítio adonde se acha a refferida igreja hé praça de armas fechada, fundação do Senhor Dom Henriques Primeiro Rei de Portugal, a sua fortificação hé de muros altos, tudo em redondo, estes não são muito fortes, nem capazes de resistir aos ataques deste tempo. No meio da praça há hum castello alto que tem em si o relógio e no fundo delle por baixo de huma aboboda o almazem da pólvora. Este Castello está rodeado de muros altos na forma dos que circundam a praça, tanto huns como outros goarnecidos com artilharia, que por todas não paçam de sette peças todas de ferro e só huma pequena de bronze e dentro destes muros que circundam a torre, há caza do alcaide mor e cisterna com huma caza de moinhos de mão e mais almazel de armas bellicas, no sitio que chamam do Carvallo, fora dos muros há também trincheiras e foços para deffenderem a praça. E tem esta praça de goarniçao hum destacamento de soldados, quinze, fora tenente, alferes, sargento e cabo, além de ajudante da praça e hum cappitão de infantaria que serve de Governador por fallecer o próprio Diogo do Valle Rego, com patente de sargento mor de infantaria».

 

Guerra da Aclamação

A. Maranhão Peixoto


PADRES INCRÍVEIS

melgaçodomonteàribeira, 14.09.13

 

 

Os Vaz, nados e criados em áspera serra, em má hora, foram mandados para o seminário de Braga.

Findo o curso sacerdotal, para que bem cedo mostraram não terem nascido, conseguiram anichar-se no Paço Episcopal e por lá ficaram largos anos.

Eram três irmãos, parecidos, fisicamente; moral e intelectualmente, iguais. Neste último aspecto, um pouco, muito pouco, acima do zero, como seus actos vieram a esclarecer e aqui se demonstra.

O Senhor Arcebispo de então, pessoa notabilíssima era de avançadíssima idade.

Como sempre acontece em semelhantes circunstâncias, acreditava nas falsas blandícias dos manos.

Pelo menos, um deles ficava, em todos os momentos, de plantão a Sua Excelência Reverendíssima… não viesse acontecer qualquer mal…

Com sua audácia, que era aos montes, foram conseguindo os melhores e mais pingues lugares. Isto causava verdadeira estupefacção a todos que bem os conheciam…

O bondoso purpurado, velhinho, faleceu.

Seu ilustre sucessor, sabendo do que se passava – era notório -, como se lhe impunha, modificou as coisas, que é como quem diz, principiou a fazer justiça. Breve, esses homens, arrancando a máscara, se mostraram tal qual são.

Rebentou a guerra indecorosa que lhe moveram. É do conhecimento geral.

Desalojados do Paço, fixaram a Sede da Sociedade «Vaz», por eles constituída, no Largo da Senhora-a-Branca da cidade de Braga. Feridos na barriga, por lá se quedaram a fazer das suas…

Um dos primeiros sensacionais destemperos foi a «tomada» do quinzenário A Voz de Melgaço fundado por um sincero católico, o respeitabilíssimo e respeitado médico Dr. Júlio Esteves, que os associara.

O médico não tardou em conhecer o íntimo desses homens, fugindo, alarmado, de semelhante companhia. Para isso, não hesitou em deixar-lhes o periódico, apesar dos notáveis prejuízos económicos resultantes.

Seguidamente, em tristíssimo e desconexo escrito, cometido pelo mais audacioso dos Vaz, foi o Dr. Esteves injuriado.

Isto passou-se em 1950.

Tão descabida e ingratona atitude deu causa a processo crime contra o autor da nojeira do escrito.

Tive que ser advogado do ofendido, como tudo expliquei no meu livro Denúncia Caluniosa, a págs. 66 e seguintes.

O exercício dessa minha actividade profissional deu causa a ter nascido nos esterquilínios, que são os corações dessa gente, autêntico ódio contra mim.

 

O último dos meus livros a referida Denuncia Caluniosa, foi publicado em 1957. Nele se mostra a intervenção dessa gente na roncorosa campanha contra mim e a sua qualidade.

Tanto assim que, querido condiscípulo meu, famoso advogado da cidade do Porto, depois da sua leitura, produziu o seguinte comentário. «os padres ficaram merdificados».

Não obstante, continuaram a bolsar ódio, a evacuar o seu veneno, contra várias e respeitáveis pessoas nos seus descontrolados escritos publicados na sua folha, que, para eterna vergonha do concelho, se intitula Voz de Melgaço.

São inúmeras as pessoas grave e injustamente agredidas, a partir do seu próprio superior hierárquico, para o que violaram julgamento solene de obediência prestado.

Efectivamente, têm difamado honestíssimas senhoras casadas, para atingir seus maridos; caluniado funcionários públicos e sacerdotes respeitáveis, persistente, canalha, indecorosamente.

E a sua malvadez é tão cega, tão empedernido seu coração – se o têm -, que chegaram à extrema ignomínia e ímpar baixeza de injuriar e difamar exemplares pessoas falecidas para ferir seus filhos, maridos ou outros familiares.

Dessa baixeza, que nunca se pode perdoar, fui vítima, como se verá.

Antes de mim, além de outras pessoas, já tinha sucedido isso ao Dr. Augusto Esteves. Para o magoar, consentiram a publicação no seu pasquim de escrito de paranóico, em que se procurava ofender a memória de sua Esposa e Filhinha, as Senhoras Dona Esmeralda Esteves e menina Belarmina Cândida Esteves, esta falecida em 1936 com 20 anos de idade! Eram Senhoras estimadas por toda a gente, dadas as suas raras qualidades e virtudes. Os seus funerais foram grandes manifestações de pesar de todos os habitantes do concelho, mormente o da filha, por ser pouco mais do que criança quando foi ceifada pela morte.

Essa nojenta canalhice – feita num jornal de padres!!! - deu causa a uma extensa carta daquele Dr. Esteves, publicada no Notícias de Melgaço de 1 de Outubro de 1961.

É muito longa, ocupando a maior parte do jornal, pelo que a não podemos publicar aqui toda, o que se lamenta. Vamos transcrever alguns esclarecedores passos. É endereçada ao Padre Júlio Hilarião Vaz. Principia assim:

«Embora eu ande, há muito, com a vista doente e já me custe a enxergar a miséria moral, que sem os mais pequenos reparos do respectivo arcipreste (1) por aqui se estadeia à vista de todo um  concelho, não me tem escapado o bocadinho de peçonha que a sua sotaina, ó padre, nunca soube esconder na Voz.»

Ainda:

(…) já que a dignidade do sacerdócio se aviltou a ponto de nenhum sentir vergonha na cara ao permitirem o insulto soez a uma senhora e a uma menina virtuosas que Deus me levou para o Além, donde se não volta e que nesta terra onde toda a gente se conhece e sabe quanto valem vivos e mortos, os insultadores respeitosamente cumprimentaram e sinceramente louvaram suas virtudes, não é justo ó Padre Hilarião, que eu surja nesta tribuna com um tagante?»

Relativamente àquele Júlio fala:

«No seu vingativo coração.»

Depois, referindo-se ao jornal:

«… onde se não vêem páginas de moral, mas onde algo sobra, porque sobra a manifestação de ódios vesgos e há a mais louvores tributados a uma trindade vulgar (os irmãos) sem qualquer recomendação especial a distinguir.»

E:

«Essa folha assim tão à mercê das simpatias ou antipatias pessoais do sei director organizada, só nos pode levar e conduzir à falta de confiança na acção dos bispos e à descrença na religião de Cristo.»

Também, referindo-se ao autor do escrito em apreciação:

«È um farrapo sujo e como tal o tenho eu. Os meus irmãos em Cristo, Padre Júlio Hilarião e seus tristíssimos irmãos, são já outra coisa; desde que tanto se rebaixaram procederem como procederam, aquele escrevendo e todos consentindo, pouco melhores podem ser, se é que não são piores por não terem um curso literário e serem ministros de um Deus todo perdões.»

Basta de transcrições. As feitas são eloquentes.

 

Findo os vários processos contra mim, incluindo o de abuso de liberdade de imprensa, resultante dos meus referidos livros, de que fui absolvido por distintos e íntegros Juízes, que nesse tempo também havia, voltou a paz. Era tempo, dado que tinha decorrido pouco menos de uma década de constantes lutas.

Os meus inimigos, perfeitamente esmagados, silenciaram.

Apenas o Senhor Júlio da Voz quis refilar. Logo o obrigamos a silenciar.

Aqueles a quem era possível, procuraram bater em retirada. Pediram transferência para longes terras, onde não chegassem os ecos da sua vergonhosa intervenção na mera campanha contra mim, em que alinharam, como se viu.

Isso sucedeu com Mário Marques Maduro, tesoureiro da Fazenda Pública; José Cunha, secretário de finanças e Carlos Luís da Rocha, notário.

O último apesar de ser de cá natural e aqui pensar fazer a sua vida, acompanhou os outros comparsas.

Ao saber da determinação desses indivíduos, procurei dar a notícia em jornais. Impossível, pois a implacável censura nunca o consentiu.

Em 18 de Agosto de 1957, no Notícias nº 1 252, publiquei um artigo patrioteiro, intitulado «Já fogem! Já fogem!» (2). Toda a gente alcançou a intenção… menos os da censura. Foram anjinhos…

 

Tudo principiara para mim por ódio, sem causo, de um incrível agente do Ministério Público interino, como disse nas minhas publicações. Fora nomeado para esse melindroso cargo depois de ter saído de casa de saúde. É verdadeiramente inconcebível que a pessoa assim fosse dado lugar de tanto melindre e responsabilidade. Era, segundo ele afirmava, sobrinho de um bispo… Maus os tempos então decorrentes!... Ainda os processos contra mim corriam termos quando tal delegado foi transferido para Lisboa, ocupar cargo ainda mais alto dentro da Magistratura do Ministério Público!!!

Coisas… que então podiam suceder!...

O «órgão» dos Padres Vaz deu a notícia, com rasgado panegírico do «ilustríssimo Magistrado»…

Não chegou, porém, e apesar de tudo, a aquecer o novo lugar.

Foram obrigados a mandá-lo para Serpa metamorfoseado em conservador do R. Civil.

Acerca dele o jornal República, de 30 de Janeiro de 1965, apágina 13, publicou esta notícia:

«Estranha atitude de um Conservador do Registo Civil. Serpa: De quando em vez, as terras da província, com as suas intensas relações consanguíneas, os seus feudos e festivais coloridos, são sacudidos na sua simetria bíblica, pela agitação que certos casos provocam. É o caso, por exemplo, provocado pelo Conservador do Registo Civil desta vila, Dr. Octávio Medeiros, que, há dias, quando passava por um dos corredores do edifício onde presta serviço, agrediu a soco um infeliz cego, que foi salvo da prepotência do agressor graças à oportuna intervenção de pessoas que acorreram aos seus gritos. Outras atitudes «ventripotentes» e insólitas são atribuídas ao ilustre Conservador do Registo Civil, congeminados de conflitos verbais nem sempre próprios da ética dos bons costumes, da posição do cargo e, até, da educação recebida e de necessária prática.»

Não sabemos onde este homem pára, se não faleceu já, como chegou a constar. Se tal sucedeu, que Deus lhe perdoe, se for possível.

 

Nos meus anteriores livros, outros prometi escrever.

Em virtude dos absorventes serviços oficiais e também de advocacia, a que sempre me dediquei entusiasticamente, fez-se-me impossível cumprir. Acabo de ser aposentado. Também, infelizmente, por imposição médica, não posso advogar. Esta profissão, apesar de, em boa medida, estar na base dos maus bocados que tive que passar, deixou-me grande saudade.

Dois males: idade e doença, fizeram com que fique com todo o tempo ao meu dispôr.

É de notar que sempre consegui alguns momentos para escrever para a República. Fui colaborador deste grande e famoso jornal desde os meus bons e saudosos tempos de estudante. Até à morte do meu querido amigo Carvalhão Duarte, seu ilustre Director e sempre que ele mo solicitava, nunca deixei de enviar a minha modesta colaboração. Esta era publicada sempre que o activo lápis censório a não cortava.

A nefasta censura era de particular severidade para com a República, diga-se a talho de foice.

Por Carvalhão Duarte senti sempre a mais subida consideração, dada a firmeza dos seus ideais, ser dotado de forte personalidade e possuidor de raro e inquebrantável espírito de lutador.

Também colaborei no Notícias de Melgaço. As chicotadas que neste periódico desferi a esses ditos padres tornavam-se-lhes mais dolorosas, visto ser lido, no seu meio por toda a gente.

O objecto do presente livro, que espero seja o primeiro de série a publicar, desde que a precária saúde mo permita, é a reunião de alguns daqueles meus escritos. Dado o plano estabelecido, cabe aqui um pequeno número deles. A amostra que segue bastará para se apreciar o carácter dessa gente, a sua frivolidade, megalomania e rapacidade.

São tais homens – ó Céus! – ministros de Cristo, todo perdão, amor e bondade! Perante isto, temos que recitar estes maravilhosos versos do genial Guerra Junqueiro:

 

«Nem sei dizer qual é mais sacrossanto exemplo,

Se o Cristo quando chama a si os pequeninos,

Se, quando incendiado em ímpetos divinos,

Expulsa e azorraga os vendilhões do templo.»

 

(1)   O arcipreste era o Padre Carlos Vaz, irmão do Júlio, pouco depois substituído no cargo.

(2)   Termina assim: os que se batem ardorosamente e sem desânimo por causas justas, esmagam, agora ou logo, inimigos muito mais numerosos e os põem em debandada. As causas justas estão sempre destinadas ao êxito, desde que se saiba lutar por elas.

 

 

PADRES INCRÍVEIS

 

Autor: José Joaquim de Abreu

 

Edição: do autor?

 

Composição: Centro Gráfico

                      Vila Nova de Famalicão

 

1976

 

ABEL BARRENHAS, O MESTRE DA TALHA EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 10.09.13

 

Abel Augusto Rodrigues, mais conhecido por Abel Barrenhas

 

 

CARTAS DE MELGAÇO

 

 

    É Cubalhão uma das nossas freguesias do monte, pequena e pobre, sim; mas constituída por fregueses de todo devotados à sua terra e à sua igreja. Há poucos meses ainda é que está a pastoreá-la o nosso bom e velho amigo ver. P. Custódio Domingues, a quem neste momento enviamos muitos e muitos parabéns. São eles merecidos, ninguém o duvide, pois em pouco tempo a sua acção paroquial conseguiu transformar a igreja matriz, alindá-la e engrandecê-la com um novo e lindo altar mor. E fê-lo porque ele tem sempre debaixo dos olhos o salmo de Moisés: O Senhor é a minha graça, o Senhor é o objecto dos meus louvores, porque ele se fez o meu Salvador. E levou a efeito esta sua obra, como é mister que os párocos trabalhem na vinha do Senhor, sem declamações nem espalhafatos; pois lê-se na Vida de Cristo segundo as revelações de Catarina Emmerich, «Então o Senhor lhes mostrou como deviam trabalhar no silêncio, e sem se gloriarem das obras praticadas», quando os seus discípulos, corria já o último ano das pregações, perguntaram ao Mestre: - Então como é que o vosso reino será conhecido? Isto não anda a cotio, eu o sei; como sei que é essa a razão por que em alguns jornais se publicam a propósito de tudo e de nada relatórios encomendados para engrandecerem homens insignificantes de minúsculos recursos; para encomiarem actos que repugnam a muita consciência pelo sabujismo de que vêm impugnados os artigos e pela malquerença e até pelo ódio em que mergulham as suas raízes. Ora esse altar mor é uma linda obra de arte riscado pelo entalhador Abel Augusto Rodrigues, um melgacense como nós, mas um artista de talha como poucos; trabalhado à guiva e ao formão pelo popular Abel Barrenhas, ele já está colocado no seu lugar e é uma obra que honra quem a encomendou e quem a fez, como honra e muito os sentimentos religiosos do povo da freguesia de Cubalhão, a quem neste momento felicitamos também. E felicitámo-lo por se não ter deixado imbuir pela ideia de ir buscar a Braga um mamarracho qualquer, quando aqui na terra há um artista de talha competente para as obras da igreja. Eu o afirmo, e para os leitores o acreditarem não esperem que lho digam também os de fora, pois é velha sina dos portugueses, reconhecer valor às obras dos nossos artistas só depois delas terem sido decantadas lá pela estranja.

 

                                  (Publicado em Notícias de Melgaço de 12/1/1958)

 

Obras Completas: Augusto César Esteves

Nas páginas do Notícias de Melgaço

Volume I Tomo I

Edição Câmara Municipal de Melgaço

2003

p. 51

 

MELGAÇO, GUERRA DA RESTAURAÇÃO 1642

melgaçodomonteàribeira, 07.09.13

 

 

CASA DE SEZIM

 

 

  Ares pesados, a terra sufocada, assombrada aqui e além por relâmpagos. Escaramuças, sortidas, entradas « a parecerem mais de bandoleiros que de soldados ». Gente sem disciplina, sem comando, a rastejar pelas veredas, a fugir com os despojos. Chicotes a zunirem, a estalar nas costas dos mais temerosos, a obrigá-los a combater. Do outro lado da raia, impiedosas mãos de oficiais, tomadas de fúria, estrangulam soldados apavorados a recusarem o combate. Terras da fronteira, aldeias cobertas de colmo e paz, a saque, a arderem inocentes!

   A Guerra. O horror da Guerra. Pior ainda é verem os castelhanos a entrarem, a Pátria mais uma vez a correr perigo. Vamos! Marchemos com a Companhia de Ordenanças de Frei Pedro Cirne de Sousa. Entre os fidalgos vai também o Capitão Dionísio do Amaral Barbosa, já experimentado em vários rebates, filho mais novo de Gregório do Amaral. Avante! Sempre a direito, rumo ao Castelo de Lindoso. Prestes, a cumprir a ordem: juntar-se aos de Braga, entrar pela Galiza.

  Na iminência daquele monte, o inimigo! Avistam-se 200 homens; tem mosquetes, arcabuzes e outras armas. Pelo vale, junto ao Lima, avançam mais 400. Portugueses são só 70. Não se hesita, escala-se o monte. Ataca-se como « leões os peitos descobertos ».

    — « Atirai inimigos, que lá vos imos buscar! Atirai! ».

   A primeira carga. Desbaratam-se as trincheiras castelhanas. No encalço, as forças de Guimarães. Mais um reencontro, continuam a fugir. Vamos! Pela Galiza adentro, a marchar a saquear seis lugares, a espalhar o medo. Nesta entrada « q se fez por Castro Laboreiro foi Dionísio do Amaral dos primeiros que se empenhou com os inimigos e ajudou a por fogo em vários lugares com tão particular valor que se lhe atribuiu grande parte do bom sucesso desta empreza ».

    Duas léguas acima de Melgaço, fica Lamas de Mouro, « terra da Galiza » já tomada pelos portugueses. Para reforçar a defesa: a hoste vimaranense, duas companhias pagas, outros soldados. Queimam o reduto, esperam com balas, pólvora e cordas o adversário que não chega. Agora o objectivo é Padrenda, entre Porto de Cavaleiros e Ponte das Várzeas, bem guarnecida pelo exército castelhano. Entram os portugueses pela Portela do Homem, por Lindoso, avançam de Melgaço. Atacam. Há quem fuja, há quem roube, há quem combata com valentia. Vencemos. Fazem-se prisioneiros. Ardem as vilas de Lobios e Compostela. « Tomam-se assim num só dia nove redutos rompendo ao inimigo dentro dos seus mesmos quartéis e fortificações ». Dionísio do Amaral « cumpre como devia ».

    A desalojar os galegos passa-se em escaramuças o ano de 1642.

 

Retirado de:

Velhas Casas – Casa de Sezim

Maria Adelaide Pereira de Moraes

Guimarães: Arquivo Municipal Alfredo Pimenta

1985

 

www.csarmento.uminho.pt

 

FEIRA DE PADERNE EM 1846

melgaçodomonteàribeira, 03.09.13

 

 

NOTÍCIAS DE MELGAÇO DE 13/12/1959

  

    (…)

 

    Na verdade, em 1846, quando aqui neste concelho se arrastava ainda a revolta popular de Maria da Fonte assoprada pelos miguelistas, vieram à feira de Paderne de 18 de Julho os aduanas de Monção e sem qualquer facto o justificar… fuzilaram o povo, matando com suas balas certeiras pelo menos um homem, João Manuel Fernandes, casado, do lugar de Cabreiros, da freguesia de Rouças, um dos pacatos e sossegados feirantes. Embora logo se levantasse protestos contra a selvajaria dos aduanas, estes foram continuando no exercício do cargo. Houve contudo um homem que pediu o castigo dos mesmos ao Ministro da Junta Provisória do Governo Supremo do Reino, José da Silva Passos – o subdirector da alfândega de Valença e director interino do círculo das alfândegas terrestres de Valença, António Marinho Fetal. E a prova está no seu ofício de 28 de Novembro seguinte, por assim se exprimir: « que na alfândega de Valença ainda se conservavam dois guardas, João Manuel da Assumpção e António José da Cunha; os quais não convinha que continuassem ao serviço por terem ido em Julho de1846 aMelgaço fuzilar o povo, propondo que fossem substituídos por José Bento Xavier e António Joaquim Brazão ». E acrescentava: « que na alfândega de Vila Nova de Cerveira estava um guarda a cavalo, José Guilherme Vaz, que tomou parte nos fuzilamentos de Melgaço e que propõe a sua substituição por Bento José Pereira ».

 

 

Obras Completas: Augusto César Esteves

Nas páginas do Notícias de Melgaço

Volume I Tomo I

Edição Câmara Municipal de Melgaço

2003

Pág. 110