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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

CASTRO NUM FILME GALEGO

melgaçodomonteàribeira, 30.07.13

 

Lugar de Teso

 

 

VIAGEM AO PRINCÍPIO DO MUNDO: CASTRO LABOREIRO

 

 

Sabela Fernández

 

   Conta a hidrografia a todos aqueles que gostam de ler mapas com veias azuis, que as águas do rio Laboreiro venham desembocar no rio Lima, o Lethes grego ou o Leteu: o famoso rio do olvido que denominárom os romanos. Parafraseando livremente Ernesto Vázquez Souza, acho que qualquer viagem como galegos e galegas deveria conduzir-nos sempre aí, a atrevermo-nos a cruzar o rio do esquecimento e situarmo-nos sempre “à outra beira do Leteu”.

   Trespassar a raia da desmemória estabelecida e cruzar para a outra beira do Leteu para procurarmos a nossa história e a nossa língua, esquecida deliberadamente por alguns, é o que a Gentalha do Pichel e as suas comissons venham fazendo desde há anos na quarta, quinta e sexta-feira, também. Mas como a língua também trabalha em domingo, umha expediçom picheleira em outubro vermelho, foi vista no Google maps das serras da Peneda e Laboreiro, atravessando o túnel do tempo e cruzando, se nom o Leteu, sim o seu afluente pequeno, o Laboreiro. Objectivo: remontar a épocas nom fronteiriças entre Entrimo e Castro Laboreiro quando a Galiza chegava até ao Mondego e o castelo de Sam Rosendo ainda nom entendia de Estados e marcos.

   Além de tempos pretéritos medievais, o planalto de Castro Laboreiro esconde, só para aqueles que o queiram achar, um dos conjuntos megalíticos mais importantes da Europa, um Carnac galaico com mais de 110 mamoas e dólmenes: nom é um acaso, pois, que o cineasta Manuel de Oliveira intitulasse o seu filme realizado quase íntegro nos lugarejos de Castro Laboreiro e protagonizado por Marcelo Mastroianni: “Viagem ao princípio do mundo”.

   E quanto a nós, no que diz respeito à nossa iniciática viagem pola história e pola antropologia de Castro Laboreiro, impossível já falar das suas aldeias, sem mais. Os excecionais povoamentos serranos de Castro – as brandas e as inverneiras – levam implícita umha distinçom semântica que é de obrigado cumprimento assinalar. Que a gente de Castro tivesse um sistema de moradia alternada ao longo do ano é algo que as palavras “branda” e “inverneira”, com as suas raízes lexicais, nos podem explicar, para assim entendermos, de vez, o carácter sazonal e rotatório que estas aldeias tinham para os seus moradores. As brandas, localizadas nos enclaves mais altos da montanha, eram aldeias frescas de verão (bram) e serviam para colheitar cereais e ter o gado a pastar em ricos lameiros. Em contraste, as inverneiras estavam para se refugiar no inverno nas zonas  baixas do vale. Estes assentamentos de baixura e altura que semeiam a serra como megalitos modernos, constituem umha espécie de necrópole que algum dia um arqueólogo do futuro estudará: a maioria som hoje em dia aldeias fantasmas, outrora testemunhas privilegiadas do singular fenómeno da “muda”, das batidas aos fugidos e dos contrabandos de mercadorias após a nossa Guerra incivil.

   Umha guerra que levou, entre outros, o deputado galeguista Afonso Rios disfarçado de esmoleiro Sinhor Afránio a fugir precisamente por estas montanhas e ocultar-se na inverneira da Ameijoeira, que ele confundiu como galega por nom perceber diferença de sotaque galego nos camponeses dali. Menos mal que nessa guerra ratoeira a alguns ainda lhes ficou um bocadinho Portugal. Mas isso já é outro filme, e nesta terra chega com o realizador finlandês Aki Kaurismaki, habitante transumante da inverneira do Bico.

   Toda esta viagem ao início do nosso mundo galaico e galego temperado com bacalhau com broa e uivada por lobos e latidos duns cans únicos em toda Ibéria nom teria tido graça se nom tivesse sido explicada por Américo Rodrigues, o nosso particular Leonardo da Crasto, homem do renascimento, entusiasta divulgador da história, da arqueologia, dos cans da raça laboreiro e, com certeza, homem galego da Gallaecia; engraçadamente, o primeiro da sua turma de português quando estudante estava na escola em Braga.

 

Retirado de:

 

A Revista

Suplemento do Novas da Galiza

Nº 51  Novembro de 2012

 

http://www.novasgz.com

 

VIA ROMANA VALENÇA-MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 27.07.13

 

Ponte da Cava da Velha, Castro Laboreiro

 

 

ITINERÁRIO DA VIA ROMANA VALENÇA – MELGAÇO

 

 

   Os vestígios romanos ao longo da margem esquerda do rio Minho podem estar associados a uma via que, derivando da via XIX em Valença, seguia em direcção a Melgaço e daqui para Espanha ou para Castro Laboreiro.

   Esta hipotética via assenta num duvidoso miliário achado entre Ganfei e Verdoejo que seria mais facilmente atribuível à Via XIX que passava ali bem perto em Valença na velha Ponte de Mouro (Barbeita) que na sua forma actual é uma construção medieval aparentemente sem qualquer elemento romano e na Ponte da Calçada em Troporiz que integra pedras almofadadas possivelmente com origem romana. Mas como esta ponte está mais alinhada num eixo N-S, é provável que pertencesse à via com origem em Braga e que vinha por Arcos de Valdevez até à travessia do rio Minho perto de Monção.

   Assim, é mais provável que seja um itinerário com origem medieval, até porque uma via ao longo da margem de um rio não é prática romana.

 

EVENTUAL LIGAÇÃO MONÇÃO-MELGAÇO: Reiriz, Troviscoso (calçada), Bela (povoado no monte de Ns. Ascensão), Barbeita, Ponte Romano?-Medieval de Mouro sobre o rio Mouro, Barbeita (1 arco), Ceivães, Valadares, Sá, Penso, Paderne (Termas do Peso e Cevidade de Paderne), Ponte Romano-Medieval sobre a ribeira da Folia, Remoães (nas Termas do Peso), Remoães, Melgaço.

 

EVENTUAL LIGAÇÃO MELGAÇO-CASTRO LABOREIRO: de Melgaço poderia ligar a Castro Laboreiro por Lamas de Mouro (Ponte Medieval em Porto Ribeiro) e daí para Castro Laboreiro segue pelo CM1160 por Laceiras, Assureira, Ponte Medieval da Cava Velha, sobre o rio Laboreiro, com silhares aparentemente almofadados, Ponte Medieval de S. Brás sobre a ribeira de Barreiro, com silhares almofadados do lado nascente, Assureira, Dorna, Ponte Medieval de Dorna sobre a ribeira de Dorna; também de Ameijoeira sairia uma via para NE pelo CM1159, por Bago de Baixo, Bago de Cima, Curveira, Bico, Cainheiras Ponte Medieval das Cainheiras, sobre a ribeira das Cainheiras, Portas, Barreira e Bande já na Galiza.

 

Retirado de:

 

Itinerário das Vias Romanas em Portugal

 

http://www.viasromanas.planetaclix.pt/#valençamelgaço

 

DR. ANTÓNIO DURÃES, UM ANTI-SALAZARISTA DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 23.07.13

 

 

CANDIDATOS A DEPUTADOS OPOSICIONISTAS

 

 

DURÃES, António Augusto (?) – Angola, 1945 – Advogado, foi presidente da Câmara Municipal de Benguela, nomeado pelo governador Freitas Morna (1942-1943). Em 1945, fez parte da comissão executiva do MUD em Angola, constituída naquela colónia numa reunião realizada em 15 de Outubro de 1945. Nessa reunião, foram escolhidos os três nomes que deveriam fazer parte da lista oposicionista de Angola: o dr. António Gonçalves Videira, o eng. Cunha Leal e ele próprio, como representante dos interesses do centro-sul de Angola. No discurso que proferiu numa sessão oposicionista realizada no Cine-Teatro de Benguela, em 1945, afirmou que só aceitara o cargo de presidente do município por se tratar de uma situação meramente administrativa e de defesa dos interesses locais mas que já o pusera à disposição do governador-geral (Vasco Lopes Alves). Em 1967, proferiu, no Rotary Clube de Melgaço, uma palestra sobre o general Norton de Matos – de cuja comissão de candidatura à Presidência da República fizera parte, em Angola – mais tarde publicada sob o título Angola e o General Norton de Matos – subsídios para a história e para uma biografia (Melgaço, 1976).

 

 

Retirado de:

 

CANDIDATOS DA OPOSIÇÃO À ASSEMBLEIA NACIONAL DO ESTADO NOVO (1945-1973) 

UM DICIONÁRIO

Mário Matos e Lemos

Edição Divisão de Edições da Assembleia da República

e Texto Editores, Lda.

 

 

http://www.parlamento.pt/ArquivoDocumentacao/Documents/Candidatos_Oposicao.pdf

 

MELGAÇO, MILITAR E INVENTOR DO SÉC. XVIII

melgaçodomonteàribeira, 20.07.13

 

 

JERÓNIMO JOSÉ NOGUEIRA DE ANDRADE

MILITAR E INVENTOR PORTUGUÊS

DO SÉCULO XVIII

 

 

  Jerónimo José Nogueira de Andrade nasceu em Melgaço em 1748. Era filho de Francisco Daniel Nogueira, médico de exército, e de D. Mariana Josefa Veloso de Campos Andrade. Teve uma educação católica e foi casado com D. Caetana Gregória Nogueira de Carvalho.

  Apresentou praça em soldado no Regimento de Artilharia do Porto em 1 de Janeiro de 1779, sendo sucessivamente 2º Tenente de Bombardeiros do Regimento de artilharia da Marinha em 21 de Janeiro de 1779, prestando serviço na Capitania de Moçambique, Capitão em 4 de Março de 1782, prestando serviço na Capitania de Moçambique, Sargento-Mor do Regimento de Artilharia da Marinha, em 13 de Dezembro de 1791, Tenente-Coronel do Regimento de Artilharia do Algarve em 7 de Novembro de 1797, Coronel do Regimento de Artilharia do Alentejo (Estremoz) em 17 de Dezembro de 1799 e Brigadeiro em 14 de Fevereiro de 1803, sendo Comandante das tropas e Inspector Geral das Fortificações da Capitania do Pará.

  Enquanto Tenente-Coronel, 17 de Novembro de 1795, fez parte de um Conselho de Guerra em que foi presidente.

  Foi aluno da Academia Militar do Rio de Janeiro e de1782 a1784 (?) foi Secretário do Governo de Moçambique “por concorrerem nele todas as necessárias circunstâncias para o dito ministério…”, segundo previsão de Saldanha de Albuquerque de 11 de Março de 1783, na altura Capitão-General de Moçambique, e de cujas ideias Nogueira de Andrade foi entusiástico defensor.

 Em 1790, cumpridas as missões de Inspecção Geral das Fortificações de Moçambique, Nogueira de Andrade regressa a Portugal e em 1791 mora na Quinta da Mineira, Estrada do Convento de São Cornélio ao Poço do Bispo.

 Homem do seu tempo, não podia deixar de participar de uma mentalidade racionalista e de uma filosofia das luzes, unindo à inspiração humanista, uma ideologia do desenvolvimento. Nesta altura, a Maçonaria, instituição que vinha das grandes Academias estrangeiras do séc. 18, provavelmente num desígnio unificador da Europa, forma uma rede que cobre todo o território europeu, incluindo Portugal. Congregando a “intelligenzia” e os nomes mais prestigiados da aristocracia e da alta burguesia, não era fácil para todos os que exerciam funções relevantes em qualquer área do saber não aderiram ao seu fascínio. E Jerónimo José, não fugiu à regra. Foi iniciado na Maçonaria em 1790, talvez em Setembro, numa Loja situada em Marvila, proposto por José Joaquim da Costa, mas em 5 de Dezembro de 1791 acusado de maçonismo denunciou-se à Inquisição bem como a outros Irmãos.

   Jerónimo José Nogueira de Andrade é conhecido como autor da obra intitulada “Descripção do estado em que ficarão os negocios da Capitania de Mossambique nos fins de Novembro de 1789, com algumas observaçoens, e reflexoens sobre os mesmos negocios, e sobre as cauzas da decadencia do Commercio, e dos Estabelecimentos Portuguezes na Costa Oriental d’Africa escriptos no anno de1790”, publicada no Investigador Portuguêz em 1815 e no Arquivo das Colónias em 1917.

 

Por: Maria Fernanda Macedo Nogueira de Andrade

 

http://run.unl.pt/bitstream/10362/6686/1/RFCSH5_189_197.pdf

 

   Em 1796, e então Sargento Maior do Regimento da Artilharia da Marinha, Jerónimo José Nogueira de Andrade, foi autor do « Projecto de huma nova arma Portuguesa ». Este manuscrito encontra-se na Biblioteca Nacional, caracteriza-se por uma grande minuciosidade, e nele o seu autor descreve a construção de uma arma balística que designou « foguete incendiário ».

 

                                                                 A. E. Mateus da Silva

                                                                              General

 

 

Retirado de:

 

TECNOLOGIA E APLICAÇÃO DE MISSEIS –            

UM PROJECTO NACIONAL

 

 

http://comum.rcaap.pt/bitstream/123456789/1711/1/NeD64_AEMateusdaSilva.pdf

 

UM DIA COM ÁGUA DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 16.07.13

 

 

UM DOMINGO DE SOL E ÁGUA DE MELGAÇO

 

“A libertinagem manifesta-se sobretudo pelo estômago e pelo

gosto despropositado por nobiliários arcaicos”

 

 

Depois do almoço, o repouso merecido: reunidos em grupo palrador na esplanada do Café Central, a tarde providenciou-nos a sua saborosa Água de Melgaço. Tenho com a Água de Melgaço uma relação enamorada e fiel desde há décadas – amarga e luminosa, ela lembra o tempo em que o Minho era uma nacionalidade e uma referência. A Água de Melgaço fazia parte dessa identidade, à semelhança de uma cédula pessoal ou de uma declaração de contribuinte para a repartição de Finanças. Vinda em caixas de madeira para a casa de Ponte de Lima ou, mais tarde, para este eremitério de Moledo, é hoje uma espécie de recurso da memória que vamos periodicamente buscar ao Café Central e à sombra dos seus guarda-sóis.

 

Esta semana comentávamos uns grafitos que foram misteriosamente deixados na fachada do edifício da Câmara. Entre um gole de Água de Melgaço e o pedido de um novo café, Maria Luísa, a esquerdista da família, concedeu que se tratava de um acto de barbárie cometido por estranhos (murmurava-se que duas estrangeiras e ainda por cima holandesas). Depois, uma nuvem passou arrastando a sua beleza disforme sobre a foz do Minho e as colinas de Santa Tecla.

 

O meu médico de Viana quis ainda mostrar-nos a estrada florestal de Venade. Maria Luísa levou algumas garrafas de Água de Melgaço que bebemos entre os freixos e um abeto deslocado da paisagem. Eis um domingo.

 

 

Por: António Sousa Homem

Publicado no jornal Correio da Manhã

25 de Setembro de 2011

 

NA TERRA DE INÊS NEGRA

melgaçodomonteàribeira, 13.07.13

 

 

« Na Terra de Inês Negra » é título que demarca, per si, o âmbito geográfico dos assuntos que são tratados. Queremos, no entanto, assinalar, também, a limitação no tempo: abarca factos do último século.

Melgaço, desde a época medieval até ao século XIX, tem bons trabalhos, saídos das penas de Manuel Bernardo Pintor, Doutor José Marques e Dr. Augusto César Esteves (1).

Entendemos, por isso, que deveríamos debruçar-nos sobre o último século.

Não se estranhe que no primeiro capítulo – « O que o rio Minho não separou » – se faça a ligação da Galiza com o Alto Minho, em cuja zona se situa Melgaço. Faço-o como elemento indispensável ao conhecimento da nossa terra após dezenas de anos em que a emigração das duas margens do rio Minho pode vir a alterar hábitos, costumes, tradições e afinidades que eram riqueza desta zona luso-galaica, e que importa registar num momento em que as « novidades » trazidas pela Comunidade Europeia nos eliminam as fronteiras permitindo-nos um convívio mais íntimo e frequente.

Afora esta inserção, todos os demais capítulos do « Na Terra de Inês Negra » abordam realidades locais do último século.

Desejamos oferecer à Terra-Mãe o nosso preito de gratidão e de saudade, quando a neblina desce do alto da serra a envolver-nos para o « adeus » da despedida…

Nascido em Fiães entre o rio Trancoso e o mosteiro secular cisterciense, no lugar da Adedela, ali cresci em ambiente maravilhoso de uma maravilhosa família, onde ao calor da lareira bebi, com o leite materno, as lições que me guiam.

Lugar incrustado na serra, ali funcionava a escola primária frequentada por jovens de várias freguesias, donde saíram alunos que honraram a cultura e a educação recebidas.

Como lembro, saudoso, a casa que os pobres, em quantidade, demandavam nos anos vinte e trinta e ali se « hospedavam » e a « hospedagem » incluía refeição e dormida, que a família lhes proporcionava!

Recordo as visitas semanais dos parentes, que, após a missa na capela do Sagrado Coração, passavam pela nossa casa em visita e convívio familiar!

Não olvido os encontros das férias nos quais participavam os numerosos alunos que frequentavam o liceu e o seminário!

De frente, para a Galiza, serrana e áspera, contemplo a ascensão do sol a anunciar-nos a chegada da noite, que, nas tardes de Inverno, nos empurrava para a « sala de estar » que era a lareira. E vivo, ainda, a visita Pascal, o Compasso, que, depois de nos abençoar em nossas casas, reunia a todos os habitantes do lugar na eira comum para, ali, beijarem a cruz com um beijo celestial e humano que nos congraçava a todos.

Tantas vezes, nas minhas viagens por terras longínquas, o meu coração e a minha alma corriam saudosos à casa paterna… a casa da Adedela, onde aprendi a amar a Deus, a Família, a Pátria, e a respeitar todas as convicções políticas.

É que essa pequena-grande casa recebeu e agasalhou políticos de vários quadrantes.

Sobre João de Almeida lê-se em « A Voz de Melgaço » (2): « Faleceu em Lisboa este notabilíssimo fidalgo que em horas difíceis da política esteve na Adedela, em casa do saudoso padre João Vaz, a estudar planos militares em que haveria de intervir como um dos chefes mais categorizados » (3).

Na vigência do Estado Novo, dois estudantes universitários de Aveiro, fugidos à repressão, agasalharam-se na casa da Adedela, donde os senhores da mesma os acompanharam à vizinha Galiza, confiando-os ao carinho do prestigiado e influente pároco de Monterredondo.

E, na casa da Adedela, esteve em fins de 1937 o advogado António de Araújo para, junto do padre João Vaz, buscar agasalho para Paiva Couceiro, que, vindo do exílio forçado nas Canárias, pretendia entrar em Portugal.

Os senhores da Casa eram católicos, monárquicos e salazaristas. Mas praticaram, sempre, as exigências de amizade, e respeitavam as preferências políticas dos demais.

Foi a pensar em tudo isto, não obstante o local isolado e serrano em que nasci, que decidi escrever este livro só com temas da minha terra natal.

 

Esclareço o leitor que estranhe haver trazido para este livro um capítulo cuja matéria se desenrola na cidade de Braga com o arcebispo de então D. Francisco Maria da Silva.

« Actualização », livro de que sou Autor, aborda o problema dos Seminários em Portugal.

Fui o único sacerdote português que estudou o problema a esse nível. Sou de Melgaço…

Aconteceu que bispos, catedráticos, sacerdotes e a crítica se pronunciaram sobre esse trabalho. E deste conjunto resulta um juízo objectivo sobre o livro que me apraz ressaltar, ao mesmo tempo que da análise de sacerdotes se depreende como se processavam, nessa altura, as relações Padre-Bispo o que é, também, muito importante para o estudo da vida eclesial nessa época.

 

Os derradeiros capítulos do « Na Terra de Inês Negra » referem-se a Castro Laboreiro com trabalhos que me não pertencem e, ainda, a temas da pré-história.

Nos anos quarenta, essa vila castreja pôde sonhar com ser a aldeia mais portuguesa de Portugal. Hoje, até o sonho se desfez. Ruiu com as casas castrejas.

Ora Castro Laboreiro, se tivesse mantido as suas características, seria, hoje, uma zona privilegiada de estudo e de turismo nacional e internacional. Para que os Melgacenses, as novas gerações, possam ter um retrato do que era Castro Laboreiro e do « crime » que ali se cometeu, arquivamos trabalhos de valor, que ajudarão não só a conhecer a nossa terra, mas também a recriar a alma castreja que ressuscite a histórica vila.

Arquivamos, ainda, algumas notas da pré-história. Finalmente, como fecho deste modesto trabalho, inserimos, para conhecimento e orgulho dos melgacenses, a leitura do Brasão do Concelho.

Estes últimos textos são precedidos de um breve mas notabilíssimo capítulo que titulei: « Herói Melgacense ». É uma página formosa e brilhante que perpetua, nos nossos dias, a imortal Inês Negra.

A Melgaço, terra secular e nobre, de nobres gentes e de valentes soldados, ofertamos, ao por do sol da nossa vida, este pedaço do nosso coração.

 

(1)E no ano de 1991: « O VI Centenário da Tomada do Castelo de Melgaço ».

(2)« A Voz de Melgaço » de 15 de Janeiro de 1950.

(3)O estudo era sobre a incursão de Paiva Couceiro.

 

Melgaço, Casa do Cerdedo, 28 de Janeiro de 1993

 

NA TERRA DE INÊS NEGRA

 

Autor: P.e Júlio Vaz

 

1993

 

O ADMINISTRADOR E O REVERENDO

melgaçodomonteàribeira, 09.07.13

 

 

O CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

(CARVALHIÇAS)

 

 

                                                   «ILL.mo e Ex.mo Senhor

 

  O reverendo António Bernardo Gomes da Cunha, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, e abade da freguesia de São Paio de Melgaço, não pode deixar de levar à presença, e conhecimento de V. Ex.ª os violentos factos praticados na sua propriedade pelo Administrador do Concelho de Melgaço. Tendo o representante arrematado o edifício do convento de Santo António de Melgaço, e dele tomado posse, e em que habita, requereu ao Governo para mandar fechar as portas que comunicavam a Igreja com o Convento: mandou Sua Majestade fechar esta comunicação: cuja ordem V. Ex.ª transmitiu ao Administrador deste concelho para a cumprir. Acontece que indo este para cumprir a ordem exorbitou dos seus limites por paixão e sinistros fins particulares; querendo fazer repartimentos na casa do suplicante para coro e púlpito; fechou as portas dos claustros; fazendo-os despejar, e considerando-os como pertenças da Igreja e sagrados por juízo de três sacerdotes que para isso mandou chamar, querendo desta maneira tornar sagrado aquilo que está legitimamente profanado, e é pertença do edifício, e não da Igreja! Fechou várias portas, que dão serventia do claustro para o edifício, para a casa da hospedaria, e outras casas baixas, etc., e não fechando aquelas que dão comunicação para a Igreja, e desta para o edifício, que são as que a Ordem de Sua Majestade lhe manda fechar, e não as que dão serventia para o edifício e casa do representante. Estes excessos, Ex.mo Senhor, cometeu este Administrador no dia 5 do corrente, fazendo e introduzindo, para os cometer, carpinteiros e vários homens em casa do representante; chegando até a dar-lhe a voz de preso à ordem de Sua Majestade por lhe dizer que não consentia que em sua casa se fizessem repartimentos e obras sem sua licença; não lhe embaraçando, que fechasse aquelas portas que devia fechar; que eram só as que comunicam a Igreja com o convento e este com a Igreja e que este era o sentido literal e espírito da Portaria de Sua Majestade. Porém, todos estes violentos excessos e procedimentos são filhos da inveja, e malevolência, que tem ao suplicante por ele ter comprado os bens dos extintos frades; por quem quase todo este Povo ainda suspira! Além disto, também procede isto do representante não consentir de que não passe pelo claustro a procissão da quinta-feira santa, que no tempo dos frades passava. Por cuja continuação instam, e trabalham de conluio todas as autoridades deste concelho, e a Misericórdia; querendo atacar e violar com um uso ou costume por sua natureza extinto, a propriedade deste representante, que a arrematou em hasta pública à Fazenda Nacional, que não pode nem deve enganar.

  Nestas circunstâncias torna-se este Administrador (e todas as mais autoridades) deste concelho muito e muito suspeito ao suplicante. Portanto, digne-se V. Ex.ª mandar que este Administrador feche só as portas que comunicam a Igreja com o edifício do Convento: que é justamente o que Sua Majestade manda na indicada portaria, e que se abstenha de praticar violências e excessos de tal natureza, ou então haver V. Ex.ª por bem mandar, que qualquer dos Administradores dos Concelhos mais vizinhos vá cumprir a Real Ordem da Sua Majestade na forma da mesma. Chegando a paixão daquele Administrador a tanto de querer fechar a porta principal da entrada do edifício, e assim privar o representante da serventia da entrada para a sua casa; não tendo este edifício mais do que duas portas de entrada: uma, a portaria ou porta principal, e outra é o portal da cerca por onde entram os carros.

  Digne-se pois V. Ex.ª atender a tão justa e verdadeira exposição e dar prontas providências.

 

               Melgaço, 12 de Agosto de 1839.

 

                                                                             Como procurador

                                                                    José Manuel Gomes de Sousa.»

 

 

  Castel-Branco, em Viana, limitou-se a despachar assim este papel:

 

  «O Sr. Administrador do Concelho, cumprindo fielmente a portaria remetida por cópia, limite-se a tapar unicamente todas as portas que dão comunicação da Igreja para o edifício do Convento, sendo só pertenças da Igreja a Sacristia e não os claustros.

 

               Viana, 13 de Agosto de 1839.

             O Administrador Geral interino

 

8 – 6 – 1951.

 

Obras Completas Augusto César Esteves

Nas Páginas do Notícias de Melgaço

Edição Câmara Municipal de Melgaço

Volume I Tomo 2

pp. 400, 401

 

D. FERNANDO, O FORMOSO

melgaçodomonteàribeira, 06.07.13

 

 

MIRANDA OU MILMANDA

 

    Esta Vila encontra-se situada em zona fronteiriça ao reino de Portugal desde a sua fundação, no concelho de Cela Nova e integrada na província de Ourense foi das primeiras localidades que por sua voz tomaram partido por D. Fernando a quando da invasão de Castela em Junho de 1369, pelo assassinato de D. Pedro I por seu irmão bastardo Henrique de Transtâmara, mais tarde Henrique II, respondendo o nosso rei Formoso ao apelo da sociedade e nobreza galega pelo direito que tinha à sucessão da coroa Castelhana por morte do seu primo.

 

    A fronteira era um espaço de convivência galaico-minhota no relacionamento entre os habitantes de um e de outro lado, como escreveu José Marques.

 

“Não obstante as dificuldades que o ‘zelo’ dos oficiais régios levantavam ao intercâmbio e convivência das populações de um e de outro lado das fronteiras, sabemos que os moradores de Araújo e Milmanda vinham a Ponte da Barca, onde se abasteciam de mercadorias que aí chegavam por via fluvial, regressando a suas terras, subindo ao longo do rio Lima e que muitos outros vinham abastecer-se a Valença, donde seguiam até Valadares, desviando-se depois pelo monte da Cumieira, rumo a Lamas de Mouro e ao Porto dos Asnos aí passando para a Galiza. Evitavam assim a passagem por Melgaço reclamada pelas autoridades locais a fim de taxarem a mercadoria transportada.”

 

“… as cartas régias de privilégio outorgadas a cada uma destas localidades há pormenores específicos, como o caso dos pastores de Baiona virem apascentar os seus gados a Portugal, ou os de Castro Laboreiro invocarem que a terra é fragosa e que não poderiam sobreviver sem o comércio com Araújo e Milmanda, na Galiza.

 

Assim os pastores de Baiona e de outras localidades galegas entravam em Valença ‘sem contradiçom alguma’ com gados, cavalos e armas  e  moedas e todallas outras cousas vedadas”…

E em defesa dos moradores de Baiona, os homens bons dessa localidade galega vizinha, alegavam junto de D. Afonso V, que eles não se dedicavam ao contrabando, mas recebiam essas coisas ‘em sorte de casamento’, reagindo assim, contra as ‘muitas injúrias’, que os oficiais régios lhe faziam, revistando-os, contra o antigo costume, na mira de encontrarem ouro, prata, armas e impedirem a entrada de gado bovino e cavalos. Interessado como estava na conservação das boas relações entre as populações fronteiriças, D. Afonso V, transformou esse costume em privilégio, que lhes permita ‘levar pam, vinho pêr terra pêra sua provisom e mantimento de suas casas cada hua pessoa e nam pêra averem de vende’

 

    Teresa de Jesus Rodrigues em “A fronteira do Minho nos finais da idade média: aspectos sócio-económicos” num parágrafo descrevia o relacionamento entre vizinhança, com este pequeno texto:

“… Quanto aos moradores de Castro Laboreiro, por carta outorgada por D. Afonso V, sabemos que era costume antigo vizinharem com as vilas galegas de Milmanda e Araújo, substanciando no privilégio de fronteira livre, que lhes permitia transaccionar e transportar, sem quaisquer” “embarguo” ou “contradiçom”, pão, vinho e outras coisas necessárias e na regalia de irem lá apascentar os seus gados, podendo por sua vez, os moradores das referidas vilas galegas apascentar os seus nos montes de Laboreiro.”

 

Por:

Laudo Baptista

 

Retirado de:

 

www.numismatas.com

 

O CASTELO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 02.07.13

 

Castelo de Castro Laboreiro

 

 

AS FREGUESIAS DO DISTRITO DE VIANA DO CASTELO NAS

MEMÓRIAS PAROQUIAIS DE 1758

 

Alto Minho: Memória, História e Património

 

 

Autor e Coordenador – José Viriato Capela

Março de 2005

 

 

    CASTELO DE CASTRO LABOREIRO (Melgaço) – Implantado em cima de um monte com1033 metrosde altitude, o castelo de Castro Laboreiro ou Laboredo situa-se entre as bacias dos rios Minho e Lima, no município de Melgaço. Este exemplar da arquitectura militar românica apresenta planta oval, orientada no sentido norte-sul, com restos de pano de muralha erguidas sobre as fragas, por vezes constituindo reentrâncias, adaptando-se à morfologia natural do terreno, que corresponderão às antigas 5 torres quadrangulares assinaladas no desenho de Duarte D’Armas, elaborado por volta de1506. Aentrada principal, Porta do Sol, foi rasgada a nascente e a da traição, Porta do Sapo, a norte, de arco pleno assente em pés-direitos. O pano de muralha estendido no sentido este-oeste cria um recinto fechado, acessível através da ponte de arco pleno sobre pés-direitos, que era utilizado para a recolha do gado e de bens em época de conflito. Afonso III, rei de Castela deu a povoação de Castro Laboreiro ao conde D. Hermenegildo, avô de S. Rosendo, por este ter vencido o revoltado Vitiza. Em 1144, D. Afonso Henriques conquista-o aos mouros e restaura-o no ano seguinte. Arrasado em 1212 durante a invasão leonesa, viria a ser reconstruído pelo rei D. Dinis em 1290, sendo a alcaidaria assumida durante muitos anos pelos Gomes de Abreu, de Merufe, juntamente com a de Melgaço. No tempo de D. Fernando, a partir de 1375, o alcaide é Estêvão Anes Marinho. D. João I, após a conquista de Melgaço, torna Castro Laboreiro um ponto estratégico para fazer frente às várias incursões castelhanas provenientes da Galiza. Já no século XV, em 1441, dá-se o afastamento do alcaide-mor Martim de Castro devido às queixas feitas pelos moradores da vila. Em Maio de 1666, Baltazar Pantoja, toma de surpresa o castelo e entrega-o ao Governador D. Pedro Esteves Ricarte, que acabaria por se render ao terceiro conde Prado, D. Francisco Sousa. Estabelecida a paz com Espanha, fica desguarnecido a partir de 1715. De1746 a1779 Manuel Araújo Machado é Governador da vila de Castro Laboreiro. E entre 1766 e 1778 foram recolhidos neste castelo 400 homens e mulheres que se negaram a apresentar seus filhos recenseados para o serviço militar, por ordens do conde de Bobadela, Governador das Armas da Província. Em 1801 chegou a ser ocupado por tropas e quatro peças. Na Memória paroquial vai assim brevemente descrito: « Somente tem um castelo antiquíssimo e se acham as casas que dentro em si tem, adonde habitavam os soldados e o governador do mesmo, todas arruinadas e sem portas e também se acha arruinada parte da muralha do dito castelo ». Hoje, nas suas ruínas, subsiste a cintura de muralhas envolvendo a torre de menagem central, bem como a antiga cisterna.

    Classificado Monumento Nacional pelo Decreto nº 33.587, de 27 de Março de 1944.

 

Guerra da Aclamação

A. Maranhão Peixoto