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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

« O AUGUSTO PARTIU DE MELGAÇO E AS RUAS FICARAM DESERTAS… »

melgaçodomonteàribeira, 28.05.13

 

 

AUGUSTO CAÇOLAS

 

 

Filho de Isabel do Nascimento Fernandes. Nasceu na Vila de Melgaço a 16/2/1914, tinha a sua mãe apenas dezasseis anos de idade! Devido a uma grave doença que teve, quando era miúdo, o seu cérebro não evoluiu como o das outras crianças normais. O seu corpo sim: cresceu, e muito – era um latagão! É provável que não tenha frequentado a escola primária. Embora a sua doença não permitisse um diálogo brilhante, uma conversa com princípio, meio e fim, não se pode afirmar que fosse parvo. No entanto, António Eduardo Igrejas, emigrante no Brasil, tinha outra opinião: « … Cerinha e Amadeu Rato, que (…) eram os “moldadores” da mente vazia do Augusto Caçolas. (…) cientificamente, era classificado de “retardado mental”, totalmente incapaz de distinguir emoções: quer boas, quer más. »

(MH 5 de Abril/95). Andava aos recados, os mais simples, e cumpria-os sempre. As pessoas devam-lhe alguma comida, que ele devorava, apesar de em casa não lhe faltar nada. O se estômago era igual ao do leão – insaciável! Nunca ninguém o viu zangado. “Bicas” tomava sempre que alguém lhe pagasse: « Augusto, anda tomar um cafezinho. » « Muito obrigado, bebo, bebo. » A sua mãe, até à sua morte, a 11/3/1984, tratou-o sempre com muito carinho. Tinha outros filhos, do sexo feminino, mas aquele era especial, precisava mais da sua atenção. Era muito engraçado, o Augusto. Quando ia fazer algum recado, a certa distância, por exemplo levar o correio ao colégio da Barronda, em Prado, fingia que punha o motor do automóvel a trabalhar, arrancava em grande velocidade, imitando o barulho do carro, buzinava, as suas mãos pareciam ir ao volante, e depois fazia travagens incríveis! Toda a gente se ria. Dava o recado, sem se esquecer de nada, entregava o que tinha a entregar, e regressava novamente ao “carro”. Uma vez, na ponte do Rio do Porto, um brincalhão, não pensando nas consequências que do acto adviriam, pede-lhe que faça marcha atrás. Augusto, convencido de que era o melhor automobilista do universo, faz a dita marcha atrás e cai da ponte. Chamaram de imediato os bombeiros, que o levaram ao hospital da Misericórdia, onde foi tratado. Por incrível que pareça, passado uns dias já andava a conduzir o seu veículo imaginário. Tinha um vozeirão! Nas procissões de velas a sua voz sobrepunha-se a todas as outras. Escreveu Manuel Igrejas: « Por falar em cantar: quem o fazia muitíssimo bem, com possante voz de barítono, era o Augusto… Era afinado, … ia do barítono ao baixo profundo. » (Ver VM 1009, de 15/6/1994; VM 1010, de 1/7/1994). No dia de Ramos, o seu era o maior – até impressionava! Depois da morte da progenitora foi internado no Lar da Santa Casa, onde faleceu a 18/10/1990. Agora anda no espaço a conduzir os automóveis dos anjinhos. Aquando da sua morte, escreveu Fabiano da Costa: « …era a maior figura típica da nossa terra, onde todas as pessoas o consideravam como homem de bem. » (VM 927 de 1/1/1990). E mais à frente: « Era duma simplicidade ingénua. Quantas vezes perguntava ao sr. Hermenegildo Solheiro, de Galvão, quando é que o piano tinha os pianinhos, para os trazer para casa dele. » Ver também o artigo publicado na VM 928, de 15/11/1990, p. 3: « O Augusto partiu de Melgaço e as ruas ficaram desertas… »

 

Dicionário Enciclopédico de Melgaço II

Joaquim A. Rocha

Edição do autor

2010

Pág. 39

 

A ESPERTEZA DO MESTRE SERRALHEIRO

melgaçodomonteàribeira, 25.05.13

 

 

« ZINONA »

 

 

    José Maria Alves, sobrenomeado o « Zinona », filho de João António Alves e de Maria Teresa Lourenço, nasceu na Vila de Melgaço, em 1871, e aqui casou, em 12-4-1910, com Belmira dos Prazeres Pires, de 38 anos, filha de José Joaquim Pires e Florinda Vitória Lourenço; portanto, primos co-irmãos, já que ambos eram netos de José Maria Lourenço e de Josefa Antónia Gonçalves.

    Tal como seu pai, autor dos portões do cemitério municipal e outros trabalhos, o « Zinona » foi um serralheiro competente, e o que mais espanta é como ele conseguia fazer obras tão perfeitas e bem acabadas com tão poucas e deficientes ferramentas que possuía…

    No mister, ajudava-o o seu cunhado Manuel, o « Néné ». Este era semi-imbecil, o que o não impedia ou até talvez por isso… de ir todos os anos de abalada a Braga, gozar o S. João. Ia a pedibus calcantibus, comia e pernoitava onde e como podia e de igual modo regressava a penates, para, assim, não encetar o pé-de-meia angariado no giro da pedincha; e, tanto antes da ida como depois do regresso, invariável e frequentemente dizia ele: quem nam bai a Braga nam bê nada!

    Apesar da sua semi-imbecialidade, era um filósofo este « Néné »…

    Voltando ao nosso « Zinona », este, além de competente artífice, era também um finório. A este propósito, lembro-me muito bem de quando o falecido Simão Luís de Sousa Araújo lhe encomendou os portões para a sua vivenda na Rua Velha, vivenda hoje pertencente a Manuel José Domingues (Mareco). Justaram a obra ao quilo… contrato que ao Simão, à primeira vista, se lhe afigurou ser um verdadeiro negócio da China… Não contou, porém, com a esperteza de Mestre «Zizona », e aqui é que ele havia de ser levado.

    Efectivamente, o « Zinona », para a obra em questão, além de empregar ferro da maior bitola que lhe foi possível, ornou-a exuberantemente com aplicações o mais pesadas que pôde conseguir; e o resultado foi que uma vez a mesma obra concluída quase não havia em Melgaço balança capaz de a pesar… O Simão, apesar de só ter um olho, achou-a pesada em demasia, mas pagou. Era, pois, um finório Mestre «Zizona »…

    Viveu e faleceu na casa que foi sua – o prédio que faz gaveto com a Rua Direita e com o Largo do Município ou Praça do Pelourinho – em 3-4-1941, tendo havido do seu casamento três folhos, dos quais apenas lhe sobreviveu um: a Leonídia. Como, porém, extra-matrimónio, gerou em Lucrécia Augusta da Costa Velho um ranchinho de bastardos, estes lhe tem assegurada posteridade para largos anos…

 

P. Júlio Vaz Apresenta Mário

P. Júlio Vaz

Edição do autor

1996

Pág.s 106, 107, 108

 

O FANTÁSTICO EM CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 21.05.13

 

Foto retirada de fugitivo.skyrok.com

 

 

A JOVEM ENCANTADA

 

   Vivia no lugar de Quinjo, em Castro Laboreiro, uma princesa que tinha sido encantada sob a forma de uma serpente, e que trazia uma flor presa na boca.

   Era esta princesa fabulosamente rica e estava disposta a dividir a sua riqueza com quem a desencantasse. Como ia de 100 em 100 anos à feira de Entrimo, em Espanha, altura em que recuperava a sua forma humana, lá contou como deveria proceder a pessoa que estivesse disposta a desencantá-la: ir ao lugar de Quinjo e dar um beijo à flor que ela, já na forma de cobra, trazia na boca.

   Se os séculos foram passando sem que aparecesse alguém suficientemente corajoso para realizar tal façanha, nem por isso se pode dizer que o tempo tenha apagado nos homens a crença no tesouro escondido ou tenha esmorecido a fé na sua recuperação, mesmo que para tal se tivesse que cumprir o ritual prescrito pela lenda. A cobiça era sentimento mais forte que a repugnância e o medo, sem contar ainda que a astúcia humana é de tal forma atrevida e pretensiosa que, só por si, consegue dar, a quem dela resolva largar mão, uma coragem inicial que na maioria dos casos, se não é condição de sucesso, é pelo menos de chegada à última etapa possível.

   Foi assim que um dia, levados pela cobiça e apoiados na astúcia, um grupo de homens tentaram desencantar a princesa. Se o pensaram, logo programaram a aventura, animados pelo facto de um deles conhecer os segredos do livro de S. Cipriano, que ajudaria a tomar o tesouro escondido e defendido pela serpente.

   Havia contudo uma dificuldade que a todos transtornava, e que não viam meios de a superar. Como ganhar coragem para beijar a serpente? Lembraram-se então os nossos heróis de um cego que havia no lugar e que, pelo facto de não ver, não sentiria repugnância em praticar o acto. Bastante instado, mas sem saber bem ao que ia, o pobre lá anuiu a juntar-se-lhes. Reunido o grupo no local certo, no dia e hora combinados, resolveu o animador da proeza, na intenção talvez de melhor avivar os pormenores da façanha, puxar do livro e ler a lenda aos companheiros no próprio cenário onde se iria desenrolar o drama. A um dado passo da leitura, porém, fez-se ouvir um barulho medonho que, repercutindo-se pelas fragas adiante, parecia querer fendê-las para delas fazer sair a figura de um monstro.

   Nem se interrogaram a respeito do estranho fenómeno: gasta a última reserva de coragem, hei-los numa corrida doida, galgando e descendo penedos, na ânsia de alcançar a segurança do lugar onde habitavam que, estranho ao facto, recuperava no sono a energia gasta num dia de luta árdua.

   Sozinho no lugar do Quinjo, ficou o cego, desprotegido de tudo e de todos, e completamente amedrontado. Valeu-lhe o bordão, seu único apoio e guia, para descobrir forma de chegar a chão seguro e sossegado. E chegou, passados uns dias a Pereira, uma pequena povoação espanhola, que lhe deu guarida.

   Depois de conhecida a aventura no lugar, nunca mais ninguém daqueles lugares pensou em repetir a proeza.

   Em tempos mais recentes, um jovem, ao saber, por um pastor, da existência da serpente, logo se lembrou da sua terrível história de amor. A mãe da sua namorada contrariava muito seriamente o namoro e afeição que a filha mantinha com ele, facto que os obrigava a encontrarem-se às escondidas por entre as penedias. Não tardou muito que a mãe desse com o esconderijo dos namorados e, desesperada com a desobediência da filha, lhe lançasse esta maldição:

   « Que de futuro andes de rastos como as cobras no alto do Quinjo. »

   Passados dias, desapareceu a rapariga sem deixar rasto!

   Associando os factos, não restaram dúvidas ao rapaz de que se tratava da namorada que cumpria o fado a que fora condenada pela mãe. A confirmá-lo, lá estava a flor que ele lhe oferecera e que ela, numa atitude garrida, trazia entre os dentes no momento em que recebera a maldição.

   Desesperado pela triste sorte da jovem e também pela sua infelicidade, subiu ao monte e perguntou à serpente quais as possibilidades que havia de lhe quebrar o encanto. Respondeu-lhe esta que bastaria que ele, rapaz, tivesse a coragem de a beijar na boca. Mas, cautela, se à terceira tentativa o não conseguisse, redobraria o seu encanto e não mais podia trazê-la à vida e ao seu amor.

   Voltou o rapaz mais tarde, acompanhado com gente amiga, para realizar o desencanto: porém, na altura em que se aproximou da serpente, esta lançou tais silvos e contorceu-se de tal maneira que pôs em fuga todos os que presenciavam a cena. Não desistiu o namorado e, na segunda tentativa, fez-se acompanhar de um padre para ajudar o ritual com as suas rezas, e, esquecido do que havia acontecido aos outros seus conterrâneos, de um ceguinho que, pelo facto de não ver, poderia substitui-lo no acto de beijar a serpente com menos repugnância. Repetiu-se a cena anterior e tanto o padre como o cego fugiram desaustinados.

    Entendeu o rapaz que teria que ser ele sozinho, e sem a ajuda ou apoio de ninguém, mas amparado pelo amor que nutria pela jovem, a cumprir o feito. Enchendo-se de coragem, aproximou-se da serpente e, sem dificuldade de maior, deu-lhe o beijo, recebendo em troca nos seus braços a namorada. Regressaram felizes a Ribeiro de Baixo, seu lugar de nascimento, e casaram mais tarde na vila.

 

Retirado de:

Lendas do Vale do Minho

Álvaro Campelo

Associação de Municípios do Vale do Minho

2002

 

www.lendarium.org

 

PADRE MANUEL A. BERNARDO PINTOR

melgaçodomonteàribeira, 18.05.13

 

 

   O essencial da biografia do saudoso Pe. Manuel António Bernardo Pintor foi resumido por ele próprio, no boletim paroquial Voz da Nossa Terra, de 30 de Setembro de 1984, dedicado à notícia da inauguração da Igreja Nova de Riba de Mouro, em 9 de Setembro desse mesmo mês e ano, dia em que também celebrou as bodas de ouro sacerdotais, actos a que tivemos o grato prazer de nos associarmos, como amigo convidado. Com esse resumo pretendia responder à insistência com que algumas pessoas desejavam conhecer as linhas gerais da sua biografia.

   Nascido a 21 de Dezembro de 1911, no lugar do Ribeiro de Cima, freguesia de Castro Laboreiro, concelho de Melgaço, era filho de Manuel Joaquim Bernardo, de alcunha Pintor – cuja origem remontava ao primeiro quartel do século XVIII e por ele ciosamente integrada no seu nome literário – e de Maria Custódia Martins, do lugar da Peneda, freguesia da Gavieira, Arcos de Valdevez.

   As primeiras letras, como ele próprio informa, foram-lhe ensinadas pelo avô paterno, em 1918 ou 1919. Em 1920, frequentou a escola da vila de Castro Laboreiro, tendo passado, no ano seguinte, a residir na Peneda, em casa do tio Manuel, a fim de poder frequentar a escola do lugar do Baleiral, freguesia da Gavieira, que, embora sendo distante, era mais próxima do que a de Castro Laboreiro.

   Estes primeiros tempos não foram fáceis, pois, com a 3ª classe incompleta, em 1922, deixou a escola e passou a ajudar a família nos trabalhos do campo e no pastoreio dos gados. Hoje poderíamos dizer que, à partida, estaríamos perante o caso de um jovem bem dotado, que as difíceis condições de escolaridade iam transformando num caso de insucesso, felizmente neutralizado por uma circunstância que, agora, não será ousado considerar providencial.

   Em Junho (?) de 1923, por ocasião da visita pastoral de D. Manuel Vieira de Matos a Castro Laboreiro, o prelado perguntou se haveria algum « pequeno » que quisesse ir para o seminário. O Pe. Matias Vaz, conta o nosso homenageado, apresentou ao prelado o « Neto do Pintor », do Ribeiro.

   Em Outubro desse ano, passou a frequentar a escola de Fiães, no lugar da Adedela, onde leccionava o Pe. João Vaz, irmão do Pe. Matias Vaz. A qualidade do ensino e as condições de aprendizagem alteraram-se radicalmente e, no exame da 4ª classe, obteve a classificação de 18 valores. No mês de Outubro foi admitido ao Seminário de Braga, onde só viria a entrar com os alunos de 1º e 2º anos em 7 de Janeiro de 1925, quando abriu o novo seminário da Rua de S. Domingos, da cidade de Braga, com que o mesmo prelado acabava de dotar a Arquidiocese, em 1911, espoliada do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, e do Seminário menor, dedicado a Santo António e S. Luís Gonzaga.

   Tendo beneficiado de uma reforma experimental de estudos, felizmente, sem continuidade, que reduzia o curso de preparatórios para seis anos, terminados com aproveitamento, em 1930, ingressou no Seminário de Teologia, na Rua de S. Barnabé, vindo a ser ordenado, na Sé Primaz, em 15 de Agosto, de 1934.

   Com toda a franqueza, esclarece que as sua notas foram sempre medianas, sem atingir 15 valores, tendo, em 1930, repetido o exame em Outubro, por se ter dedicado a leituras de investigação histórica, que, então, muito o apaixonavam e continuariam a atraí-lo, ao longo da vida. Mesmo assim, podemos adiantar que concluiu o 4º ano de Teologia com 13 valores. Mas se contrastássemos esta nota com a escandalosa e generalizada inflação que atingiu os diversos níveis do nosso ensino, nas últimas décadas, teríamos de lhe dar, no mínimo, a equivalência a 16 valores.

   Ordenado sacerdote, em 15 de Agosto de 1934, na Sé de Braga, celebrou a missa nova, no Sameiro, no dia seguinte, que viveu apenas com os pais, irmãos e alguns parentes, sendo, no total, onze pessoas.

   Como escreveu na Voz da Nossa Terra, de 13 de Agosto de 1959 ao comemorar as bodas de prata sacerdotais, o dia da ordenação sacerdotal foi o dia mais feliz da sua vida.

   Por provisão de 21 de Setembro desse mesmo ano, foi nomeado vigário cooperador na Matriz da Póvoa do Varzim, até 30 de Junho de 1935, funções que acumularia com as de Reitor da igreja da Lapa da, então, referida vila. Esta nomeação, a termo certo, sugeria que o Prelado tinha outros desígnios sobre ele. Expirado o tempo previsto na provisão para estar na Póvoa do Varzim, em 30 de Junho de 1935, foi nomeado para a freguesia de Sequeira, Braga, de que tomou posse, no dia 21 de Julho seguinte, tendo-lhe sido renovada a carta de encomendação nesta mesma paróquia, em 30 de Junho de 1936, mas, em 12 de Setembro, foi-lhe  passada a provisão de pároco encomendado de Riba de Mouro, onde já tinha entrado, segundo escreveu, no dia 23 de Agosto de 1936.

   Não cabe no âmbito desta nota biográfica traçar o perfil da sua vasta acção pastoral, já exposta noutro lugar, que será divulgada em momento oportuno. Aqui, pretendemos e basta deixar o enquadramento cronológico suficiente à compreensão dos seus livros e artigos reunidos neste volume.

   Este breve curriculum, elaborado com os elementos por ele fornecidos e complementados pelos recolhidos na Cúria Arquiepiscopal  de Braga, termina com duas notas, que, certamente, constituíram os seus dois maiores amores: a fundação da Voz da Nossa Terra, em 1953, e a construção da nova igreja de Riba de Mouro, projecto, cuja concretização, demorou, desde1965 a 1984.

 

   Quando a idade e o estado de saúde já não lhe permitiam assegurar as funções paroquiais, acolheu-se ao Colégio-Seminário de S. Teotónio, em Monção, onde faleceu, em 1 de Março de 1996, sendo sepultado, no dia seguinte, como desejava, no cemitério do Ribeiro de Cima, Castro Laboreiro, sua terra natal.

 

J. Marques

 

 

DOAÇÃO DE AFONSO PAIS E OUTROS AO MOSTEIRO DE FIÃES EM 1157

(Pergaminho inédito)

Obra Histórica - I

 

Autor: Pe. Manuel A. Bernardo Pintor

 

Edição: Rotary Club de Monção

 

Patrocínios:

CÂMARA MUNICIPAL DE ARCOS DE VALDEVEZ

CÂMARA MUNICIPAL DE MELGAÇO

CÂMARA MUNICIPAL DE MONÇÃO

 

2005

 

O MENSAGEIRO DO CONDE

melgaçodomonteàribeira, 14.05.13

 

Convento das Carvalhiças e capela da Senhora da Pastoriza

 

 

CAPELA DA SENHORA DA PASTORIZA

 

FUNDAÇÃO

 

« ... havendo respeito a estar vago o posto de capitão da Companhia de Infantaria da Ordenança da freguesia de S. Paio, de Remoães e Várzea, da vila de Melgaço, por promoção de Matias de Sousa e Castro, Capitão dela ao posto de sargento mor da mesma ordenança, e a Domingos Gomes de Abreu me representar que indo ao Reino de Galiza por ordem do conde de Atalaia Governador das Armas da Província do Minho a negócio que podia ser útil a meu serviço aonde fez o que se lhe ordenou, de que resultou ser preso e metido nas minas do Castelo de Castro, onde esteve cinco dias, e daí foi remetido ao castelo de Santo António da Corunha donde foi levado preso e manietado e acompanhado de sete soldados a cavalo e outros tantos de pé ao de Cárcere Real, aonde lhe deram tratos e o sentenciaram a que não entrasse mais nos domínios de Espanha, fazendo muitas súplicas, para conseguir liberdade; e que também acompanhara o Governador da dita vila de Melgaço no rebate que nela houvera em 10 de Maio do ano passado de 1704 com sua pessoa e criados; e que fora também reconhecer o inimigo que vinha lançar ponte à barca nova de Valadares, animando o povo para defesa da passagem... »

    Esta singela e brilhante apresentação do fundador da Capela de Nossa Senhora da Pastoriza aparece assim feita pela filha de D. João IV, a senhora « Dona Catarina, por graça de Deus Rainha de Inglaterra, Escócia, França e Irlanda, Infante de Portugal, como Regente destes Reinos, no impedimento de meu irmão, o Senhor Dom Pedro, por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, Senhor da Guiné, etc. » na carta patente passada em 19 de Agosto de 1705 ao fogoso capitão de ordenanças nascido em Melgaço. Falando-lhe de vitórias e de amarguras, e lembrando-lhe os dias fulgurosos de glória e os sombrios dos tratos de polé, a Regente fez dele um segundo Prometeu, gravando-lhe no cérebro um outro abutre – a lembrança do passado no cárcere da Corunha. A noite, as horas silenciosas da noite, traziam-lhe à mente a obrigação contraída com a Mãe de Deus na Corunha, numa das horas de mais abatimento e de maior temor; o dia esplendoroso mais os cuidados inadiáveis da vida quotidiana faziam-lhe, porém, esquecer o compromisso tomado.

    A memória, contudo, nunca o deixou olvidar nem os trabalhos passados nem as angústias sofridas no Reino da Galiza pelo mensageiro do Conde da Atalaia.

    Uns e outros tinham penetrado fundo no seu peito e amarfanhado o seu coração; queimavam-lhe ainda o cérebro quando em 1707 dirigiu este requerimento a Dom Rodrigo, Arcebispo Primaz: « Diz o Capitão Domingos Gomes de Abreu, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, e familiar do Santo Ofício na vila de Melgaço, que no ano de 1703 foi mandado pelo Conde da Atalaia ao reino da Galiza a certo negócio de serviço de sua Majestade que Deus guarde de que resultou prendê-lo o governador de Vigo em sua Casa metendo-o nas minas do Castelo de Castro, onde o teve cinco dias e daí o passaram a Corunha ao Castelo de Santo António e de lá o passaram a Cárcere Real para lhe darem questão de tormento, e vendo-se nestas aflições invocou e chamou para seu amparo a Nossa Senhora da Pastoriza, por ter ouvido dizer os inumeráveis milagres que naquela terra fazia, e tinha feito, prometeu-lhe fazer uma capela na sua terra, se ela permitisse vir ele para ela, e como alcançou da Senhora o que lhe pediu como pecador, quer este fazer-lhe a Capela no Coto da Pedreira desta freguesia por ser lugar pouco onde costumam ir os clamores desta vila não havendo neste lugar mais do que uma cruz e ser o lugar que ele com individuação elegeu no tempo que fez a promessa, que farão cinco meses e cinco dias até que por decreto especial foi degradado para fora dos Estados de Espanha, com a pena de vida, prevendo o cómodo da parte para a dita capela, a quer fazer à sua custa e pôr-lhe os ornatos necessários e nomear-lhe bens livres dízimos a Deus que valham melhor de dois mil cruzados que serão postos por avaliação de louvados pelo que – Pede a V. Ilustríssima, informado desta verdade do sítio, lhe conceda licença para fazer a dita capela, por ter já a pedra disposta e com esta concedida mereça V. Ilustríssima a protecção da dita Senhora em permitir o voto prometido

E.R.M.»

 

                                       (Publicado no Notícias de Melgaço em 15/1/56)

 

Obras Completas: Augusto César Esteves

Nas Páginas do Notícias de Melgaço

Edição Câmara Municipal de Melgaço

Volume I Tomo 2

2002

Pág.s 438, 439

 

INCIDENTES FRONTEIRIÇOS NO SEC. XII

melgaçodomonteàribeira, 11.05.13

 

Antiga entrada da vila de Melgaço

 

 

A FRONTEIRA LUSO-CASTELHANA NA IDADE MÉDIA

 

 

    (…)

    Os incidentes fronteiriços entre Castela e Leão, na segunda metade do século XII, deram lugar à fortificação das fronteiras entre Leão e Castela e Leão e Portugal, na zona galega, muito embora as tentativas de implantar concelhos tenham fracassado*, em parte pela resistência posta pelos senhores eclesiásticos e pela recusa dos povoadores livres de se instalarem em zonas controladas pelos senhores feudais.

 

    *Constitui excepção o caso de Melgaço que recebeu um primeiro foral de Afonso Henriques em 21 de Julho de 1183, no qual se refere já a existência de uma feira (ou mercado).

 

    (…)

    Após as Inquirições, a sua acção incidiu sobre a fronteira minhota. Melgaço, que tivera um primeiro foral de Afonso Henriques em 21 de Julho de 1183, confirmado por Afonso II em 1219, substituído por uma nova carta foral em 1258, suspenso devido a contestação dos munícipes, vê-o restaurado em 1261. A construção da sua muralha data de 1263, muito embora o seu início remonte a Sancho II e a necessidade de dotar esta Póvoa de um sistema defensivo eficaz se deva equacionar no quadro das contendas entre Afonso II e as infantas suas irmãs que conduziram à invasão do Norte de Portugal em 1211-1212, altura em que Melgaço foi tomada. Data de Fevereiro de 1245 o compromisso do mosteiro de Fiães de participar na empresa com a construção de 18 barças de muro, data que nos obriga também a ligá-la, como faz Mário Barroca, com os conturbados tempos que o país atravessara e que culminariam em verdadeira guerra civil desde meados desse ano de 1245, levando Afonso III ao poder. A parte referida na inscrição estudada por Mário Barroca é a que foi construída por responsabilidade do Casteleiro do concelho Martim Gonçalves e erguida no tempo de Afonso III.

 

Retirado de:

Revista da Faculdade de Letras

Leontina Ventura

Universidade de Coimbra

 

http://ler.letras.up.pt

 

PESQUEIRA "NOVAS DO BRAÇO", ALVAREDO

melgaçodomonteàribeira, 07.05.13

 

 

Notícia do Jornal de Melgaço, nº 1189, de 05/01/1918

 

   « Selvajaria.

   Alguém de sentimentos baixos e canalhas, cobarde de mais a mais, receando medir forças, frente a frente, com o respeitável cavalheiro de S. Martinho de Alvaredo, Sr. José Manuel Fernandes; que não podendo vingar-se na sua pessoa, o procura atingir pelas costas e feri-lo nas suas propriedades, no dia 21de Dezembro findo, procurou destruir-lhe por meio de bombas de dinamite uma pesqueira "Novas do Braço".

   Felizmente, o criminoso não conseguiu atingir o seu fim pois além de cobarde é ignorante.

   Foi o que felizmente valeu aquele nosso respeitável amigo, porque a bomba colocada em largo buraco não encontrando resistência ao rebentar; e apenas abriu algumas fendas no peal das "Novas do Braço".

   Ataques destes, atentados assim dirigidos, provam apenas uma baixeza de sentimentos, verdadeiramente lastimável e exigem, por parte das autoridades, uma repressão séria e rápida. O caso, porém, foi entregue à Policia Judiciaria. »  

 

 

Notícia do Jornal de Melgaço, nº 1225, de 05/10/1918

 

   « As "Novas", essas pesqueiras da costa de Alvaredo onde duas infâmias foram praticadas, uma a prisão de cinco homens que nelas trabalhavam havia por 3 dias, alcunhando-os de emigrantes e ao nosso amigo Fernandes denunciando-o como engajador; outra o bombardeamento a dinamite praticado nas mesmas a 23 de Dezembro último, as "Novas", repetimos, já se encontram devidamente reconstruídas.

   Ao nosso amigo Fernandes aconselhamos que em ocasiões das cheias do nosso Minho, mande lá postar duas sentinelas, munidas cada uma com um canhão de 42, ordenando que ao estampido do novo dinamite lançado pelos infames, façam ecoar os canhões, soltando as suas granadas. »

 

Retirado de:

 

ACER – Associação Cultural e de Estudos Regionais

 

http://acer-pt.org

 

AMOR E ÓDIO NA FRONTEIRA

melgaçodomonteàribeira, 04.05.13

 

 

Manuel Henrique Rodrigues Beites, natural de Paderne, Melgaço, cresceu no Porto (Ramalde) até aos 10 anos, estudou no extinto Externato Liceal de Melgaço, até aos 15, completou o Curso dos Liceus no Sá de Miranda em Braga, ao que se seguiu uma errante vida de emigrante até aos 32 anos, altura em que se estabeleceu na Maia como consultor comercial.

Aos 49 anos publica a sua primeira obra.

 

« A sua mente iluminou-se. Não era a Dores quem ela odiava. Era este lado do rapaz que jamais seria seu. Não se odeia o adversário. Odeia-se o que a pessoa que amamos lhe dá. Quando muito sente-se inveja e confunde-se com ódio, numa promiscuidade que é a sua fronteira com o amor. »

 

AMOR E ÓDIO NA FRONTEIRA

 

Autor: Manuel Beites

 

Edição: Editora Ausência

 

2005

 

Com o apoio de

 

CAMÂRA MUNICIPAL DE MELGAÇO