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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

FAIJ

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

Mapa do Concelho de Melgaço

 

 

CONCELHO DE MELGAÇO

DEZOITO FREGUEZIAS

TODAS DIFERENTES

TODAS MELGACENSES

 

FAIJ 1950/60

FRANCISCO AUGUSTO IGREJAS JUNIOR

POESIA POPULAR

1989-CAMARA MUNICIPAL DE MELGAÇO

 

 

Eu sou Melgaço, a Vila Lusitana

Sentada em trono d'oiro qual rainha

De todas a mais bela e mais humana;

Que seus vassalos, ama e acarinha.

 

Ei-los que chegam, junto ao trono meu

Alguns com queixas outros com louvores

Todos estrelas a brilhar no céu

E todos eles para nós amores.

 

Eu sou Castro Laboreiro

De Portugal o mais belo

Dizem que foi o primeiro

De todos o meu castelo

 

E eu sou Lamas de Mouro

E adoro o meu Manel

E tenho lá um tesouro

De batatas e de mel

 

O meu nome é Cubalhão

Terra serrana e bravia

Mas tenho no coração

Requintes de fidalguia

 

A minha igreja branquinha

A minha escola e a fonte

Fizeram de mim limpinha

Eu sou Parada do Monte

 

Eram todos criminosos

Os meus filhos. Mas Deus sabe

Que são bons e generosos

Os corações dos da Gave

 

Sou Cousso, vivo contente

Trabalho de sol a sol

Quando canta a minha gente

Faz inveja ao rouxinol

 

Eu sou Fiães a falada,

Na romaria a S. Bento

E tenho a história gravada

Nas pedras do meu convento

 

Eis Cristóval, a dos cadetes

Conhecia-a sem camisa

Agora tem palacetes

Abençoada Galiza

 

Eu sou Paços colossal

Isto aqui é céu aberto

O terror de Portugal

Só por ter o rio perto

 

Sou Chaviães, altaneira

E freguesia de lei

De todas fui a primeira

A pagar tributo ao Rei.

 

Se o Mundo um dia acabar

Ou mesmo for arrasado

Tem por força de ficar

A freguesia de Prado

 

Falam todos do meu povo

E de mim, mas com inveja

Por ter um relógio novo

Na torre da minha igreja

 

S. Paio de boa gente

Do trabalho, do carinho

Do vinho verde, da broa

Posta em toalha de linho.

 

Sou Paderne e sou modesta

A melhor de Portugal:

Tenho um convento que atesta

A glória Nacional.

 

Sou pequeno e pobrezinho

Não tenho inveja aos demais

Lembram aves em seus ninhos

Os filhos de Remoães.

 

Dizei, rapazes dizei,

Podeis dizê-lo sem medo

Não há moças que eu bem sei

Que valham as de Alvaredo

 

Sou Penso pequeno e triste

A falar dos meus tormentos

A riqueza em mim existe

Mas tenho pobres aos centos.

 

Francisco Augusto Igrejas Júnior

FAIJ

 

Ó SENHORA DA PENEDA

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

Santuário da Senhora da Peneda

 

 

Acasalámos em Penso no período das romarias. Palmilhámos até as duas mais soadas romarias: Virgem del Carmo, sobranceira ao rio Minho e Senhora da Peneda.

Lá ouvimos a gaita del pais, muñeras e pandeiradas que conheciamos do circuito: Orense, Ferrol, Corunha, Vigo, La Guardia. Para a Peneda a caminhada esfalfou; desde madrugada por Cousso, Cubalhão - que fresca malga de leite nos ofereceram!- Ribeira, Lagarto, e descer o estreito vale até ao magestoso escadório com patamares e seus obeliscos.

Meio dia a dar no Santuário, quando enfiámos no arraial bilingue. Dançava-se o vira estrepassado, cruzado, o Malhão de Portuzelo, a jota e o fandango. Com a galega que para aqui se desloca desde o principio das novenas, misturam-se a castreja de coques e polainas de branqueta, a melecense de argolas e repas ao lado, a suajense com o saco de borlas p´ra merenda e a arcoense.

Pela meadinha, torcicolos da encosta, a pés-e-pelo desce até adro o povo de Cobalhão e Gave. A súcia com harmónica, viola e pandeireta vinda dos Arcos, Suajo ou Melgaço encaminha-se até aos extremos do vale.

Os foguetes anunciam, de longe até à igreja, as romagens das diversas freguesias com seus amortalhados metidos em caixões. Promessa macabra, mas é mais agastadoura a penitência dos que os carregam aos ombros.

 

Ó Senhora da Peneda,

este ano lá hei-de ir;

hei-de levar-lhe um cravo

que do céu há-de cair.

 

Confrange ver as promessas dos que, de joelhos, sobem trezentos degraus!

Distinguem-se os píncaros escalvados de Espanha; a ribeira pouco se alonga até demarcar a raia.

No arraial, nada de barracas para comedorias. Vendem-se artigos de mercearia e andam de mão em mão púcaras com café.

Nos quarteis da confraria, casarão para os romeiros, com lareiras para os cozinhados, amontoam-se pelo sobrado, com mantas sobre palhas, casais galegos, minhotos e qualquer adventício.

Ali nos estirámos, às escuras, para aquela trituração óssea e para as picadas das setas espigueiras. Pelas janelas abertas via-se o fogo de artifício às luzeiras e estoiros.

Acamaradámos em tal hospedagem com mendigos, atoleimados e muchachas palradoras, indiscretas. Então naquela insónia esfalfante, um dos parceiros que fora fogueteiro entreteve-nos a descrever os grupos de foguetes. "Aquilo são chuvas brilhantes... agora de confettis...de prata e ouro...estrelas...assobios e castanholas... grinaldas... pérolas tremidas... lagartos... bichinhos de seda... bichinhos..." E com eles adormecemos, exaustos!

 

 

 No regresso descansámos em Cobalhão, porque preparavam para após a ceia os cortiços, espadeleiros, linho e raminhos de alfádega para a espadelada.

Ao fundo do lagedo da areia, dois canastros corridos, esteados. As lavradeiras de lenços atados, sentadas em bancada semicircular a espadelarem sobre os cortiços. Atrás, em conversata segredeira, os namorados com violas e outros instrumentos.

O rapazio encarregara-se de regar as falas, daqui para ali, com os cabaços de vinho.

A lua em quarto crescente parecia que ia descendo devagarinho os declives serranos. E o linho crespo amacia-se, aveluda-se com o fio das espadelas. Sumiu-se o luar, mas lá estavam as candeias suspensas nos caniços e mai-lo vinho e o pão para espertinarem, ao cabo da tarefa.

Já a distância, pela noite, por ermos e pedragosos caminhos, ainda ouvíamos cantar na eira, e o singelo coro predileto desse noitada ficou-nos na outiva, sincronizado com a silhueta das minhotas a espadelar.

 

Por Armando Leça

Colecção Folclore

Música Popular Portuguesa

Editorial Domingos Barreira – Porto

Pag. 133/134

 

 

A Caminho da Peneda

 

Recordo os dias em que saía ao nascer do sol, ao encontro dos amigos e ála que se faz tarde e a Sr.ª da Peneda não é ao virar da esquina! Tínhamos que chegar a Lamas de Mouro, subir, subir, até ao Coto do Lagarto que era como uma miragem; acaba a subida e: vamos rapazes que é sempre a descer e a festa já está ali. E o que víamos pelo caminho? Serras a tocar o Céu com os picos assentes num manto de algodão, o cheiro do farnel a fazer morder os lábios que ainda não são horas de comer, as piadas deles p'ra elas e a resposta sempre na ponta da língua, porque nunca foram mulheres para aguentar e calar. A serra, pedregulhos para ali atirados por deuses zangados, o sussurrar sereno do regato que tempos depois será o "ai meu Deus" , que tudo leva em frente, o degelo das neves não é coisa com que se brinque. E sempre à espera do sorriso ou piscar de olho daquela que é a mais arisca mas também a mais namoradeira.! E a festa é já ali, pode-se abrir o farnel.... Bombos, concertinas os braços levantados das moças, enquanto rodam... rodopiam... dançam!

 

Camborio Refugiado

 

INÊS NEGRA

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

 

Nada nos indica que seria realmente Melgacense, mas o contrário também é válido. É sabido, que na idade média, os exércitos do Rei eram compostos pelos homens que os grandes senhores do Reino punham á sua disposição e nem todos serem homens de armas, e sim servos da gleba. Melgaço era na altura rodeado de várias cintas de muralhas e tal como hoje acontece, a população estendia-se por dentro e fora das muralhas. Pode-se assim especular e dizer que Inês era nativa de Melgaço, vivia fora das muralhas aquando do cerco e se juntou ao arraial de D.João I. Por outro lado poderia ser uma das muitas mulheres que seguiam atrás dos exércitos para os mais variados fins. Mas Inês actualmente está de tal forma enraizada no povo, que a questão não se coloca. Como mulher do povo é natural que se revoltasse com os castelhanos que serviam os interesses que não de Portugal. Na idade média, existia o senhor e o vassalo. Ao vassalo estava reservada a escravidão, uma vez que tinha que viver do trabalho e obrigações para com o senhor e é evidente que nunca poderiam, os estrangeiros, serem vistos com bons olhos. Outro facto importante, é a localização geográfica de Melgaço. Autenticamente encravado na Galiza, a guerra era o seu dia a dia, e indo os homens para a guerra o papel da mulher tinha obrigatoriamente de ser diferente. Seria ela a sustentar a família e a sustentar o senhor. Sendo o senhor castelhano, a revolta do vassalo acaba por ser maior e vai-se juntar ao exército do seu Rei. A sua figura poderia ser, meã de estatura, tez morena e cabelos compridos. A mulher Melgacense, tem entre 1,60 e 1,70 metros. Tez morena dos trabalhos no campo de sol a sol. Os cabelos compridos ajudariam a aquecer as longas noites de inverno, sob chuva ou sob neve. Negros, porque é a cor dominante dos nossos cabelos. Não é de afastar a hipótese de ser casada e ter família. Pode-se imaginar Inês a viver numa cabana de pedras sobrepostas, coberta de colmo, mal cheirosa devido á utilização dos excrementos do gado como combustível e por não haver saída para o fumo produzido pela fogueira onde cozinhariam os alimentos, essencialmente vegetais, e com 1 ou 2 catres a servir de cama. Arrenegada não seria muito diferente, excepto no vestuário. Enquanto Inês vestiria de burel áspero e sem graça, o vestuário de Arrenegada obriga-nos a pensar em vestes garridas, com corpetes e outros atavios, porque ela servia os castelhanos e logicamente os castelhanos se serviam dela. Como o cerco a Melgaço durou 52 dias e o combate se deu perto do fim do cerco, fácil será de imaginar os insultos trocados entre as duas. Evidente será que "p*** dos castelhanos" ou "vai-te para o perro" fossem utilizadas. Arrenegada estando dentro do Castelo, obviamente seria Melgacense assim como Inês. Conheceram-se elas? Vamos crer que sim e assim realçar o antes do combate. Tendo em conta a arquitectura da Vila era por mais normal a existência de casas senhoriais, de boa pedra talhada e telha de barro. Arrenegada servindo os senhores em taças de estanho e pratos de madeira, onde os talheres não entravam e Inês servindo o caldo em malgas também de madeira. O agrupamento familiar deveria ser disperso, isto é, o filho casado deveria ter a sua casa, mulher e filhos ( a mortalidade infantil deveria ser muito elevada). Vamos atribuir o nome de Inês Negra á negritude dos seus cabelos. Hipótese de ser negra ponho totalmente de parte, porque deveriam ser muito poucos os existentes na época. A saga dos Descobrimentos ainda não tinha começado.

Como os mouros também estiveram em Melgaço, o cabelo lustroso poderia ser a origem do nome ou alcunha.

O combate que teve lugar, e não há duvidas nenhumas, que teve lugar entre as 2 mulheres não serviria, chamemo-lhe assim, o repouso do guerreiro? É que o cerco já ia demorado. Vamos crer que efectivamente determinou a vitória dos portugueses, A vida no Castelo não seria nada fácil, porque o poço que abastecia a vila de água ficava fora das muralhas, e a cisterna existente no Castelo não daria seguramente para muitos mais dias. Poderemos pensar que Inês foi recompensada de alguma forma pelo seu gesto pelos novos senhores da Vila. Seria lógico, mas não deixaria por isso de ser um trabalhador braçal, se não no campo, pelo menos na casa senhorial. D. Filipa, a Rainha, acabara de conhecer D.João I. Diz-se que D. João quis oferecer a conquista de Melgaço, o único que estava em poder dos castelhanos em toda a fronteira do reino, como prova da bravura militar dos portugueses. Sabemos que a Rainha ficou hospedada no Mosteiro de Fiães, a 1 légua de distância. Será que o Rei a visitava? O casamento real serviu para fortalecer aliança entre ingleses e portugueses, contra aliança de castelhanos e franceses.

Se colocarmos o combate como desfecho final da contenda, então poderemos achar natural que a Rainha estivesse ao lado do Rei.  Se Inês tem perdido o combate, o cerco continuaria e ela seria uma entre muitas das que morreram ás mãos do inimigo. D. João I foi o 1º Rei da Segunda Dinastia e que teve pela frente o trabalho de expulsar de todo o Reino o governante Castelhano. E a mais sítios teve que ocorrer porque as escaramuças fronteiriças nunca acabavam. D. Filipa é-nos apresentada como a mãe modelo, a geradora e educadora da ínclita Geração. Inês deve ter-se juntado ao arraial quando este se formou para o cerco, porque naquela altura todos os braços seriam poucos. Na parte de dentro do castelo deveria haver muitos melgacenses que nada tinham a ver com os castelhanos, mas que cujas casas se situavam dentro das muralhas. Portugueses eram os senhores e seus homens de armas que foram expulsos para Castela após a rendição. Inês, vejo-a como uma mulher dos 23 ou 24 anos de idade e para o historiador não passa dum dado episódio, entre muitos em que foi fértil a reconquista de todo o reino. Duvido que nos cursos de história seja nomeado este episódio. Já o feito da Padeira de Aljubarrota que , diz-se matou vários castelhanos com a pá de fazer o pão é tema nacional. Mas aqui temos que ver o peso dos acontecimentos a nível do Reino. Em Aljubarrota foi derrotado o exército castelhano, o exército do Rei de Castela, que foi a mola real para a derrota dos Castelhanos a nível nacional. Em Melgaço foi a luta dos portugueses contra alguns senhores feudais portugueses por Castela. Não creio que os melgacenses fossem mais nacionalistas depois de Inês, porque continuaram a ver os vizinhos galegos (oprimidos por Castela) da mesma forma. E Melgaço recebera foral do 1ª Rei de Portugal, D. Afonso Henriques pelo qual lhe tinham sido dadas muitas mercês. A Portugalidade dos melgacenses nunca por nunca foi posta em causa. Neves de Antanho, do qual não possuo nenhum exemplar, conta-nos lendas de Portugal. E Portugal tem muitas mulheres como heroínas, tanto locais como nacionais. Foi o Conde de Sabugosa a criar os nomes de Inês Negra e Arrenegada para as 2 mulheres, uma do arraial e outra do Castelo que andaram á luta e venceu a do arraial, como refere as Crónicas de D. João I de Fernão Lopes. Inês foi tirada do limbo pela Câmara Municipal há uns 25 anos. A mulher melgacense teve sempre o destino traçado. Antes era a guerra que lhe levava homem e filho, depois foi a fome a levá-los a correr mundo e por fim outra guerra, esta bem mais longe a levar-lhe outra vez o filho e o homem. Para a mulher, viuva de mortos vivos, ficou sempre a casa, o campo , os animais e os filhos sem idade para partir.

 

Castelhanos - Na realidade portugueses que  detinham o poder na praça forte e se declararam a favor da causa de D. Leonor e contra as pretensões do Mestre de Aviz.

 

MAIS OUI

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

Dia de feira em Melgaço

 

 

— Mais oui, d'acord!

— Eh bien sur!

— E a Ivette?

— Ficou furiosa, n'est ce pas, Luis?

— Ah bien sur, nam?

— Porra, então esse filho da p*ta não viu que se ia foder?

Sentado na esplanada do adro da Igreja Matriz, santificada a Santa Maria da Porta padroeira da Vila de Melgaço, assim designada por ali ao lado se situar uma das antigas portas de entrada para a praça fortificada, bem no coração da vila, recordo os versos de Ferlinghetti: Passo os dias á porta do café do Mike...  O relógio na torre da Igreja abala-me os tímpanos com o pooouuummm do ferro a bater no bronze do sino. São três da tarde, á meia-noite será pior. O céu cinzento, um calor abafado e um vendaval de vozes que impõe o silêncio.

— Pero que és mui guuapaa!

— Adonde quedou a nai?

— Foi a buscar o viño.

— Nosotros bamonos a igrexa.

É só uma família galega que passa.

— ...da-se, esse gajo num tem olhos?

— Mira coño, que guapa!

— À tout à l'heure!

— Onde comemos hoje mai?

— Em nossa casa, bien sur, nom...

Brum...brum... um carro, matricula francesa, desce a Rua Direita. Transito só para moradores, diz o sinal. Durante este mês ele também é morador.

— Oi Ilídio, não vai na praça, não?

Cumprimento o primo Manuel, há cinquenta anos no Brasil. Desde 1965 que não vê Melgaço. Mora no Rio, trabalha em pintura sobre azulejo com vários trabalhos oferecidos a instituições melgacenses. Passou com seu trabalho na tv num programa cultural e intercâmbio musical com grandes nomes portugueses e brasileiros. Tem uma página no jornal A Voz de Melgaço, onde dá conta da movimentação de melgacenses e suas iniciativas, principalmente no Rio. É o meu confidente e principal apoio em relação ao Melgaço antigo.

Poouummm, passou meia-hora, ás quatro volta a tocar.

Um amigo senta-se e logo salta a bola, grande remate e... é mais um golo do FC Porto. As cores auis e brancas ganharam a noite passada para a Liga dos Campeões Europeus e o resto é conversa. Quem não é portista é mouro e é bom que hoje não se aproxime.

Ouve-se um solo de trompete; bombos e pratos marcam o ritmo. Uma charanga galega dirige-se para nós. Acabada a musica é hora de molhar a garganta... Não demora a fazerem um circulo e a gaita de foles a gemer uma muiñera. Estão a pagar o vinho que beberam.

— Fernando, traz uma água e uma cerveja.

A água é para mim... Uma figura sobre andas, vestes encarnadas e negras aparece de uma ruela. Para o Padre, que acabara de chegar, ela representa uma feiticeira. Á porta da Igreja debato com o Padre a importância das feiticeiras na medicina da Idade Média argumentando forte com a ajuda de Jules Michelet. Não entramos no Santo Oficio, e ainda bem, senão a minha cotação junto do representante de Cristo na vila, descia para valores negativos e não seria do agrado de minha mãe, que aos 84 anos faz parte do coro da Igreja. Anda cansada, porque Agosto é o mês de casamentos e baptisados e o coro está a ser muito solicitado.

Trabalham 11 meses, são jovens, carros de gama alta, vem para casar na Igreja da sua aldeia... encravada na serra, soalheira e verde, mas onde não serão enterrados. Falam francês com as copines da sua aldeia uma delas irá ser sua mulher.

Foguetes rebentam no ar. Não é na vila, sabe-se lá em que lugar é a festa. Muitos santos padroeiros tem o concelho, todos venerados e festejados. Ou será a festa do reencontro? Será que os Santos nasceram todos no mesmo mês?

Ando uns metros e paro no cimo da Praça da Republica que hoje e sempre será o Terreiro, a praça dos papa-café. Carros e mais carros, Mercedes e BM's com musica a rebentar. Um parou no meio da rua para que o condutor trocasse beijinhos com uma copine sentada na esplanada. A sinfonia de buzinas mistura-se com o som tecno. Atravessar o Terreiro está fora de questão, a confusão é total. Descanso um pouco junto ao Parque na Alameda Inês Negra. Os rouxinóis no escorrega seguem o exemplo dos pais, a lingua francesa é predominante. Falo a um ou outro conhecido, as muletas obrigam a repetir a ladainha da enfermidade. Desisti de dizer o que se passa com o meu pé, agora a resposta é, a praticar desportos radicais. De todos recebo um sorriso, está maluquinho, e votos de melhoras que eu prontamente agradeço. A Assossiação Melgaço Radical já é bem conhecida no meio. As descidas dos rios Minho e Mouro, afluente do Minho que nasce nas nossas serras, slide, rapel, caminhadas, está felizmente em crescendo. Passo pela esplanada da Alameda mas não paro. Descanso junto da estátua de Inês e logo atravesso a porta das muralhas. O Solar do Alvarinho fica para trás, não apetece estar fechado. Todos detestam este calor, não venha por aí uma trovoada que só faz estragos. E se for de escaravana nada se salva.

No adro da Igreja sento-me a matar a sede. Água, na terra do vinho, eu só bebo água. Aparece um amigo, logo outro, o calor diminui e eles saltam da toca. Discute-se a noite, levanto-me e vou para casa. A noite não se discute, vive-se. Depois do jantar, uma volta de carro pela serra de Fiães, para apreciar a panorâmica da vila. O Castelo tudo domina. Melgaço é belo. Um mau encontro a seguir. Um filhote de raposa atravessa a estrada e o choque é inevitável. Fugiu mas não sei se sobriverá, a pancada foi forte. Descemos para a Vila, estacionamento não há mas parece deserta. A noite está fria mas no largo da Câmara o calor é muito. Centenas gritam, saltam e dançam com o som dum grupo galego. De seguida será a vez dum grupo da terra.

Sentamo-nos numa barraca, logo chegou costela assada, broa e vinho tinto. O grupo aumentou, a conversa é de loucos, o sino bate as cinco da manhã.

Vou dormir porque mais logo há festa e eu vou estar sentado na esplanada do adro da Igreja. 

 

25 ANOS

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

 

Em 24/11/82 num cartório da kapital.

Em 28/11/82 na Igreja de Santa Maria do Campo na Vila de Melgaço, acto oficializado pelo Padre Justino Domingues, conforme registo da dita Igreja, também chamada de Igreja da Misericórdia.

 

MELGAÇO NA HISTÓRIA

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

Torre de Menagem do castelo de Melgaço

 

 

MELGAÇO NA HISTÓRIA DE PORTUGAL É UM TRABALHO DE HOMENAGEM A TODOS OS HOMENS QUE SE DEDICARAM AO ESTUDO DA HISTÓRIA DA NOSSA TERRA, NOMEADAMENTE PADRE MANUEL ANTÓNIO BERNARDO PINTOR, AUGUSTO CÉSAR ESTEVES E PROF. DR. JOSÉ MARQUES, DE AGRADECIMENTO AOS PROF. DR.VITOR OLIVEIRA JORGE E SUSANA OLIVEIRA JORGE PELO TRABALHO DE ESTUDO ARQUEOLÓGICO LEVADO A CABO NO PLANALTO CASTREJO, TORRE DE MENAGEM – NÚCLEO MUSEOLÓGICO DE PESQUISA POR TODO O TRABALHO QUE TEM VINDO A DESENVOLVER EM PROL DA CULTURA MELGACENSE. A TODOS OS MELGACENSES.

 

 

MELGAÇO NA HISTÓRIA DE PORTUGAL

 

REIS DE PORTUGAL

Ed. Circulo Leitores

 

D. AFONSO I – (1143-1185) – O CONQUISTADOR

P/ José Mattoso

Castro Laboreiro, castelo de

Pag. 137,138

-A referência cronológica estabelecida pela carta de couto do mosteiro de Paderne, dada por Afonso Henriques em 16 de Abril de 1141, para compensar a comunidade por lhe ter cedido 100 áureos, um cavalo avaliado em 500 soldos, algumas éguas e seus potros e 30 moios de vinho, quando tinha conquistado o castelo de Castro Laboreiro, perto de Melgaço.

-Foram restituídos os castelos que tinham tomado um ao outro (incluindo, decerto, o de Castro Laboreiro, tomado por Afonso VII rei de Leão).

Melgaço

Pag. 137

Paderne, mosteiro de

Pag. 96,137

-Só se encontram diplomas régios em favor de 4 ou 5 mosteiros governados por abadessas, todos eles na década de 1140. Rio Tinto em 1140, Vairão em 1141 e 1143, de Arouca em 1132 e 1143, de Paderne em 1141 e de Recião em 1146

 

D. SANCHO I – (1185-1211) – O POVOADOR

P/Maria João Violante Branco

Pag. 175

-Em Coimbra acabava a Torre Quinaria em 1198 e em Melgaço em 1199, uma torre tinha sido construída para ele há relativamente pouco tempo.

Pag. 177

-A única iniciativa de que podemos ter a certeza é da construção, antes de 1199, de uma torre, em Melgaço, com o auxílio dos monges de Longos Vales.

Pag. 178,179

-É o caso de uma menção que refere que – Veio o rei dom Sancho o 1º a Melgaço e filhou Santa Maria da Orada para si e deu a Fiães por ela Figueiredo e 100 maravedis; e ora têm os frades essa Sancta Maria de Figueiredo – deslocação acerca da qual não temos qualquer outro registo, muito embora a chancelaria nos prodigalize o documento no qual Sancho I consumou este escambo que foi passado a 11 de Dezembro de 1199 e no qual se confirma que Sancho I recuperara Santa Maria da Orada, que seu pai dera aos frades de Fiães ao conceder-lhes quatro casais em Figueiredo. Mas o documento foi feito em Santarém, e nada nos é dito de qualquer ida a Melgaço, onde aliás poderia ter ido até ver o andamento da sua torre, tal como sugere um documento que o rei teria feito quando estanciava no Porto, no Verão de 1199, segundo o qual coutava uma herdade ao mosteiro de Longos Vales por causa de esses monges lhe terem construído a Torre de Melgaço.

Pag. 180

-; em 1199, em Melgaço, recupera a terra que seu pai dera a um mosteiro trocando-a por uns casais,

Pag. 280

Forais outorgados durante a regência e reinado de D. Sancho I (1169-1211)

7. Melgaço (?) (1181) Forais outorgados entre 1169 e 1185 por Afonso Henriques, durante a regência de Sancho

 

D. AFONSO II – (1211-1223) – O GORDO

P/ Hermínia Vasconcelos Vilar

Pag. 105

Identificaram as restantes localidades atacadas e conquistadas: Valença, Melgaço…

Pag.274

-Data 1219-8    Local  Santiago de Compostela    Destinatário  Melgaço   Confirmação  Foral concedido por Afonso Henriques

 

D. SANCHO II – (1223-1248) – O CAPELO

P/Hermenegildo Fernandes

Pag. 272

-Nº na regesta  VI    Data  s.d.    Destinatário  Concelho Melgaço     Transmissão   Ref.     Posição   Chanc. A III

Pag. 275

-326   1245   Com.. De fase construtiva? Ermida N. Sra. Orada (Melgaço)

 

D. AFONSO III – (1248-1279) – O BOLONHÊS

P/Leontina Ventura

Pag. 110

-Com excepção ainda de Melgaço (1256) …

Pag. 111

-Para além de Chaves……. E de novo em Melgaço).

-Povoadores (revogação dos de Melgaço e Monção em 1261

-Para além de Melgaço e Monção já referidos

Pag. 113

-Às já existentes Melgaço e Valença, cujos forais confirma,

-Cujo melhor exemplo será o balcão com matacães que coroa a porta da muralha de Melgaço.

Pag. 273

-Data   1256     Norte do Douro  Melgaço    Quantitativo   1000 soldos leoneses     Fonte   Chanc. I, fl. 15V

-   “      1258                “              Melgaço (350 povoadores)     Quantitativo   350 morabitinos     Fonte   Chanc. I, fl. 27V

-   “      1261                “              Melgaço                                           “          1000 soldos leoneses     Fonte   Chanc. I. fl. 50-50V

 

D. DINIS – (1279-1325) – O LAVRADOR

P/ José Augusto Pizarro

Não é feita qualquer referência

 

D. AFONSO IV – (1325-1357) – O BRAVO

P/ Bernardo Vasconcelos e Sousa

Não é feita qualquer referência

 

D. PEDRO I – (1357-1367) – O JUSTICEIRO

P/ Cristina Pimenta

Pag.99

7. Privilégios, comportando escusa de determinações gerais: apesar de haver uma lei que impedia tais privilégios, o monarca autoriza certas excepções. Tal caso ocorreu com o mosteiro de Paderne, que recebia anualmente dos concelhos de Monção e de Melgaço um pagamento de setecentas libras relativas a herdades que aí detinha, as quais estavam agora em risco de ser arrecadadas pela Coroa, em função das leis de D. Afonso IV. Assim, D. Pedro I autoriza o mosteiro a continuar a arrecadar a verba indicada, por carta de 23 de Julho de 1365.

Pag. 128

Assim ……….., em Outubro de 1359, Paderne vê desembargadas umas casas, herdades e outros bens que corriam em contenda com o procurador da Correição

Pag. 148

… o que trazia prejuízo às populações, neste caso de Melgaço…..

Pag. 229

Alcaidarias mencionadas na Chancelaria de D. Pedro I

Entre Douro e Minho        Castro Laboreiro …. ….. …. Melgaço ……

Pag. 230

Localização das alçarias mencionadas na Chancelaria de D. Pedro I

2  Melgaço

3  Castro Laboreiro

Pag. 241

Instituição   Mosteiro de Fiães       Conteúdo do diploma    Confirmação de privilégios        data    1357.09.02       Fonte   doc. 192, pag. 73

       “          Most. Paderne                             “                   Rei desembarga umas casas, herdades e outros bens que estavam em contenda com o procurador da correição       Data   1365.07.23       Fonte   doc. 1023, p. 484-485   doc.  1024, p. 485    doc. 1025, p. 486

Pag 265

Concelho   Melgaço          Tipo de privilégio    A terra de Valadares é integrada no termo de Melgaço. Obrigação dos caminhantes entre Galiza e Portugal e vice-versa passarem pela localidade.      Data   1360.10.30     1361. 05. 28        Fonte   doc. 473 p. 186   doc. 567 p. 253-254

Pag. 268

Concelho    Castro Laboreiro         Data    1358.01.15       Fonte    doc. 248 p.87

Pag. 270

Concelho    Melgaço                      Data    1359.11.06       Fonte    doc. 419 p. 169

 

D. FERNANDO – (1367-1383) – O FORMOSO

P/ Rita Costa Gomes

Não é feita qualquer referência

 

D. JOÃO I – (1385-1433) – O DE BOA MEMÓRIA

P/ Mª Helena Cruz Coelho

Pag. 116

O encontro entre o monarca e o duque teve lugar em Ponte do Mouro, entre Monção e Melgaço, no dia de Todos os Santos de 1386

Pag. 119

Na verdade em 1387, D. Filipa rumou até Monção, com alguns conselheiros e homens da corte, como o doutor João das Regras e João Afonso de Santarém, aproximando-se do monarca, que estava em Melgaço, certamente para dar execução a algumas deliberações régias. Estacionava a rainha no mosteiro de Fiães, quando a 3 de Março de 1388, D. João a mandou chamar para assistir ao desempenho da bastida que fora engenhosamente construída para tomar o castelo. E aí terá permanecido, vendo a direcção das manobras de guerra do seu consorte, até à rendição da vila e castelo, havendo depois regressado com o seu rei, primeiro até Monção e depois para Lisboa.

Pag. 304

1388  João I cerca Melgaço, que acaba por se render (Janeiro, meados – Março, inicio)

 

D. DUARTE – (1433-1438) – O ELEQUENTE

P/ Luís Miguel Duarte

Não é feita qualquer referência

 

D. AFONSO V – (1438-1481) – O AFRICANO

P/ Saul António Gomes

Não é feita qualquer referência

 

D. JOÃO II – (1481-1495) – O PRINCIPE PERFEITO

P/ Luís Adão da Fonseca

Não é feita qualquer referência

 

D. MANUEL I – (1495-1521) – O VENTUROSO

P/ João Paulo Oliveira e Costa

Não é feita qualquer referência

 

D. JOÃO III – (1521-1557) – O PIO

P/Ana Isabel Buescu

Não é feita qualquer referência

 

D. SEBASTIÃO – (1557-1578) – O DESEJADO

P/ Maria Augusta Lima Cruz

Não é feita qualquer referência

 

D. HENRIQUE – (1578-1580) – O CASTO

P/ Amélia Polónia

Não é feita qualquer referência

 

D. FILIPE I – (1580-1598) – O PRUDENTE

P/ Fernando Bouza

Não é feita qualquer referência

 

D. FILIPE II – (1598-1621) – O PIO

P/ Fernanda Olival

Não é feita qualquer referência

 

D. FILIPE III – (1621-1640) – O GRANDE

P/ António de Oliveira

Não é feita qualquer referência   

 

D. JOÃO IV – (1640-1656) – O RESTAURADOR

P/ Leonor Costa-Mafalda Cunha

Pag. 71

A de Barcelos incorporava as jurisdições minhotas dos concelhos de Barcelos, Melgaço, Esposende, Castro Laboreiro …..

 

D. AFONSO VI – (1656-1683) – O VITORIOSO

P/ Ângela Xavier-Pedro Cardim

Não é feita qualquer referência

 

D.PEDRO II – (1683-1707) – O PACIFICO

P/ Mª Paula Lourenço

Não é feita qualquer referência

 

D. JOÃO V – (1707-1750) – O MAGNÂNIMO

P/ Mª Beatriz Nizza da Silva

Não é feita qualquer referência

   

D. JOSÉ – (1750-1777) – O REFORMADOR

P/ Nuno Gonçalo Monteiro

Não é feita qualquer referência

 

D. MARIA I – (1777-1817) – A PIEDOSA

P/ Luís Oliveira Ramos

Não é feita qualquer referência

 

D. JOÃO VI – (1817-1826) – O CLEMENTE

P/ Jorge Pedreira Costa

Não é feita qualquer referência

 

D. PEDRO IV – (1826-1828) – O REI SOLDADO

P/ Eugénio dos Santos

Não é feita qualquer referncia 

                                                    

D. MIGUEL – (1828-1834) – O REI ABSOLUTO

P/ Mª Alexandre Lousada/Mª Fátima Ferreira

Pag. 242

De Melgaço o governador militar pedia esclarecimentos a Lisboa e a Ourense sobre o rumor segundo o qual D. Miguel tinha desembarcado na Catalunha, manifestando receio de que houvesse partidários seus que quisessem atravessar a fronteira e de que partidários de D. Carlos viessem para Portugal.

 

D. MARIA II – (1834-1853) – A EDUCADORA

P/ Maria de Fátima Bonifácio

Não é feita qualquer referência

 

D. PEDRO V – (1853-1861) – O ESPERANÇOSO

P/ Maria Filomena Mónica

Não é feita qualquer referência

 

D. LUIS – (1861-1889) – O BOM

P/ Luís Silveira/Paulo Fernandes

Pag. 242

Outros comícios teriam lugar no Porto, Portalegre, Covilhã, Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez, mas contra a anunciada subida dos impostos.

 

D. CARLOS – (1889-1908) – O DIPLOMATA

P/ Rui Ramos

Não é feita qualquer referência 

                                                                      

D. MANUEL II – (1908-1910) – O PATRIOTA

P/ Mª Cândida Proença

Não é feita qualquer referência

             

 

MELGAÇO EM OLIVEIRA MARTINS

Ed. Guimarães Editores

                                                                                                                                          

 

HISTÓRIA DE PORTUGAL

Pag. 26

As fronteiras do norte e leste, no além-Douro, eram já, ao tempo da acessão de Sancho I ao torno, as mesmas de hoje: margem esquerda do Minho, por Melgaço a Lindoso, daí a Bragança por Miranda, entestar com o Douro no ponto em que agora se estremam Portugal e Espanha.

 

A VIDA DE NUN’ÁLVARES

Pag. 244

Enquanto Nuno Álvares assim defendia o Sul do Reino, D. João I, ao Norte, ia, de Braga, cercar Melgaço (698). Repelido o assalto, passou o Minho, tomou Salvaterra, na Galiza, em frente de Monção, e voltou contra Melgaço que se rendeu depois de um ataque terrível (699). Consolidada a fronteira do Minho, o rei desceu a Lisboa                                                                                                                                           

Pag. 367

(698) Janeiro. – Lopes, Crón., CXXXIV a VI.

(699) 3 de Março

Pag. 402

1388

CONTINUAÇÃO DAS HOSTILIDADES

Ao Norte

? – Cerco de Melgaço por D. João I, malogrado.

Tomada de Salvaterra.

Fevereiro (?) – Volta sobre Melgaço.

Março, 3 – Capitulação de Melgaço

 

 

MELGAÇO EM JOSÉ  MATTOSO

 

IDENTIFICAÇÃO DE UM PAÍS

Ed. Editorial Estampa

 

    

Pag. 137

Começando pelo vale do Minho, encontramos, primeiro, na terra de Valadares, nas encostas da serra de Castro Laboreiro, perto de Melgaço, a família de Valadares, a quem já Afonso Henriques concedeu um couto. Não fazia mais do que reforçar a autoridade de Soeiro Aires de Valadares, que era justamente o rico-homem da terra em 1173 (65) e aparece a confirmar documentos régios entre 1169 e 1179. A terra de Valadares, ao menos segundo a divisão de 1258, ocupava quase toda a encosta setentrional das serras da Peneda, do Soajo e de Laboreiro e, a oeste, as margens do Minho até à foz do rio Douro, o que constituía uma grande extensão. Mas os domínios do senhor de Valadares não deviam ser muito consideráveis. Reduziam-se, decerto, às terras mais férteis na estreita faixa do vale que fica abaixo dos 200 ou 300 metros. De facto, a poucos quilómetros do seu curso, para além de Badim, Cousso, Paderne e Fiães, é a montanha agreste, habitada então apenas por pastores ou por comunidades isoladas nas altitudes. A serra extremamente recortada sobe, nos seus cumes, acima dos 300 metros e protegia-os dos senhores dos vales. Ainda hoje as tradições comunitárias de organização das aldeias aí se mantêm vivas (66). Os seus contactos com os senhores de Valadares deviam ser reduzidos. Estes tinham que respeitar as comunidades das montanhas (67).

(65) DR 318, ib, ref. 80

(66) M. Graça Silva, M. Manuela Castro e Olga M. Figueiredo, 1983, mapa da p. 252.

(67) Acrescente-se a estes dados os reunidos por Leontina Ventura, 1992, I, pp. 337-338; II, pp. 724-726, onde se estuda também a evolução da família do século XIII.

Pag.140

Os favores do rei exprimem-se pelo facto de coutar a povoação de S. Vicente, perto de Melgaço (DR ref. 80) e de lhe conceder ou confirmar o governo de Valadares pelo menos em 1173 (DR 318).

Pag. 198

Algumas transformaram-se, mesmo, em comunidades femininas sob a Regra de S. Bento ……… , como as de entre Lima e Minho (Vitorino, Merufe, Paderne, Loivo)

Pag. 206

O facto de muitos destes se instalarem perto de mosteiros e comunidades eremíticas (249)

(249) Como na Senhora da Orada, perto de Fiães;

Pag. 270

Poderão ainda existir indivíduos deste género nas terras altas como o Soajo, onde a caça deixou tradições ate aos dias de hoje (54),

(54) Raquel S. Brito, 1953; ver Inq. 396: “ et dixerunt ca sunt monteiros “; “ Carta daquilo que os monteiros de Soajo ande dar ao alcaide de Leboreiro” 1283

Pag. 283

Ao mesmo tempo, é possível que a área senhorial alastrasse também a partir do território leonês, a norte, tendo então como pólos as terras de Chaves e Bragança e mosteiros como os de Fiães e astro de Avelãs.

Pag.285

Quer nas fronteiras do rio Minho, para constituírem centros de recrutamento e organização militar contra eventuais invasões galegas, como em Caminha, Valença (Leg. 570), Monção, Melgaço (DR 353), Penha da Rainha (Leges, pp. 710-712) e Castro Laboreiro.

Pag. 289

É o que se pressente, por exemplo, na serra do Soajo, onde em 1282 D. Dinis estabeleceu os foros que se devia pagar ao alcaide de Castro Laboreiro.

Pag. 290

Os locais da região onde elas existem ainda são, naturalmente, os concelhos mais próximos das serras da Peneda, Soajo e Laboreiro. 

Pag. 295/296

O de Nossa Senhora da Orada, perto de Melgaço, sob a influência da Abadia de Fiães, por monges cistercienses;

Pag. 395

Ora alguns forais acentuam ainda mais esta prescrição. O de Melgaço, por exemplo, prevê a multa de 300 soldos para o vizinho de outra comunidade que prender um dos seus, sem especificar se é ou não por vindicta; mas reduz a 5 soldos a compensação a pagar pelo homem de Melgaço que prendesse alguém de outra terra, também sem restringir esta eventualidade a qualquer motivo razoável (Leg. 685).

 

 

MELGAÇO EM HISTÓRIA DE PORTUGAL

                                                                                                                                                 

Ed. SRD

 

                                                                                                                             

ORIGENS – 1245

 

P/ Rui Centeno

Pag. 210

Numa estela de Paderne (Melgaço) aparecem representados dois defuntos, certamente marido e mulher, e em cima de um vaso;

 

P/ José Mattoso

Pag. 522

Nas margens do rio Minho, finalmente, deu carta de foral a Valença, em data desconhecida, e ocupou-se da construção de fortificação da torre em Melgaço (1199), obtendo para isso a ajuda dos monges do Mosteiro de Longos Vales.

Pag. 548

Os Leoneses ocuparam então o castelo de Valença, nas margens do Minho, e ainda os de Melgaço, Freixo, Urros, etc., apoderando-se assim de quase toda a província de Trás-os-Montes.

 

P/ Armando de Castro

Pag. 660

Povoações e locais que tiveram foral – séculos XI e XII (1055 a 1200)

5 – Melgaço – 1181

Pag. 703

Consultando o mapa sobre as feiras medievais, são escassíssimas as feiras deste género existentes antes de 1245: Melgaço, Constantim …

P/ Mª José Ferro Tavares

Pag. 715

Recordemos o foral de Melgaço, onde o soldo vem cotado em 12 dinheiros.

 

P/ Flórido de Vasconcelos

Pag. 730/731

As igrejas de Monção e Melgaço são dois pequenos templos sem quaisquer características que os notabilizem dentro da grande série das suas irmãs espalhadas pelo Norte do País. Já o mesmo se não pode dizer da igreja de Nossa Senhora da Orada, perto de Melgaço, cuja fachada não só lhe dá uma elegância invulgar como marca uma acentuada evolução para formas e proporções mais próximas do gótico. Aliás, a data de uma inscrição na nave – única –, de 1245, confirma cronologicamente esta impressão. A decoração escultórica dos dois portais e dos cachorros que sustentam a cornija, como veremos, são também factores do grande interesse desta igreja. Por ultimo, nesta zona, vamos encontrar a igreja de S. Salvador de Paderne, em que parece estarmos em face de dois edifícios construídos em épocas diversas: uma pequena igreja à qual foi adicionada outra, maior, de uma só nave, mas com transepto, figurando a primitiva igreja como um dos braços desse transepto – disposição insólita, mas de certo modo semelhante ao que aconteceu em outros locais e épocas (por exemplo, na Conceição Velha de Lisboa). No entanto, só um aprofundado estudo arqueológico e documental – que está por fazer – poderá vir a esclarecer-nos quanto a este enigma arquitectónico. Para além desta singularidade, a igreja de Paderne oferece-nos dois pórticos de idêntica feitura, embora mais rude no da igreja menor. A data que consta de uma inscrição da fachada principal indica-nos o ano de 1311 – o que leva a considerar esta obra (pelo menos a da igreja maior) como uma notável manifestação de arcaismo.

 

   

1245 - 1640

P/ José Hermano Saraiva

Pag. 23

Seguindo a ordem por que no-los refere o autor da crónica quatrocentista do reinado, foram então construídos os castelos de Moura, Serpa, …. … … Miranda do Douro, Monção, Castro Laboreiro…..

Pag. 93

Só em Novembro o duque de Lencastre se avistou com o rei português; o encontro decorreu na fronteira, na Ponte do Mouro, entre Melgaço e Monção, e aí se ajustaram os pormenores da colaboração

militar anglo – portuguesa.

 

P/ José Mattoso

Pag. 177

Os burgos já antigos, do Porto, Guimarães, Mesão Frio, Constantim de Panóias e Castro Laboreiro constituem ilhas numa região fortemente senhorial. Ao norte do Cavado aparecem também alguns concelhos rurais isolados, mas a sua fisionomia é híbrida, porque mantêm bastantes prestações senhoriais. É preciso aproximarmo-nos da fronteira galega, das margens do Minho, para aí encontrarmos, de Viana do Castelo a Melgaço, uma série de municípios que seguem o foral de Guarda-Salamanca e que, de resto, tendem a adquirir características urbanas, porque a sua população vai aumentando.

Pag. 178

No segundo, havia apenas um tabelião para Castro Laboreiro e para Melgaço.

 

P/ Armando de Castro

Pag. 206

Povoações e locais que tiveram foral nos séculos XIII a XV (1201 a 1495

1 – Paradela  -  1254

2 – Melgaço -1258

Pag. 234/235

O fenómeno acentua-se sob o governo de D. Afonso III e acentua-se ainda depois. Encontrámo-lo por exemplo em forais: em Melgaço, no ano de 1258, o monarca fixa os encargos a pagar pelos 350 moradores em 350 morabitinos velhos, “ por todos os direitos, foros e calúnias “ (isto é, multas criminais).

Pag. 247

Feiras criadas antes de 1245      Melgaço

                                                                                              

P/ Pedro Dias

Pag. 294

Entre os rios Minho e Lima, o grande foco de desenvolvimento da arte de edificar durante o século XII a Igreja de S. Salvador de Paderne, sagrada em 1264 e a Igreja de Nossa Senhora da Orada, também datável da segunda metade do século XIII, são os mais destacados exemplos desta corrente de construções pesadas, fiéis ao românico, de muros espessos, só iluminados por pequenas frestas com portais e cachorradas de tradição onzecentistas.

Pag. 312

Mas, ocupado com a continuação das campanhas militares, só em 1388, quando do cerco a Melgaço, é que D. João I se decidiu a entregar a obra à Ordem de S. Domingos, facto a que não deve ser estranha a influência do seu confessor, frei Lourenço Lampreia, e do próprio doutor frei João das Regras.

 

1640 – ACTUALIDADE

P/ José Hermano Saraiva

Pag. 136

Em Melgaço, a revolta declara-se a 9 de Junho, a aclamação do príncipe é marcada para o dia seguinte, porque não existe na vila nenhuma bandeira portuguesa; o primeiro acto revolucionário consiste por isso na convocação dos alfaiates para confeccionarem as bandeiras que devem ser hasteadas na cerimónia solene da restauração. Na torre do castelo arvora-se a insígnia da guerra, e pouco depois corre o rumor de que o juiz de fora a mandara arriar. Isso provoca o furor dos camponeses, que assaltam a vila dispostos a matar o magistrado. A notícia não tinha fundamento. Em muitos lugares se verifica a mesma desconfiança popular contra as autoridades legitimas.

P/ Francisco Mendes Magro

Pag. 686

Por uma casa comercial de Prado, Melgaço (Cândido Augusto Esteves e Cª). Trata-se de uma nota – vale no valor de 4 centavos.

 

 

MELGAÇO EM FERNÃO LOPES

                                                                                                                                    Ed.Civilização Editora

 

Crónica de D. João I

Pag. 295

Cap. CXXXV

E nesse dia escaramuçaram duas mulheres bravas, uma da vila e outra do arraial e andaram as duas aos cabelos e venceu a do arraial.

 

OS MEUS LIVROS

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

 

Padre Manuel António Bernardo Pintor – Obra Histórica I

Edição Rotary Club de Monção 2005

 

Francisco Augusto Igrejas – Poesia Popular

Edição Câmara Municipal de Melgaço 1989

 

José Alfredo Cerdeira – O Tomaz das Quingostas

Edição de Autor 2007

 

Augusto César Esteves – Obras Completas

Edição Câmara Municipal de Melgaço 2003

 

Ricardo Gonçalves – Carneiros em Transumância Emigrantes Clandestinos

Edição Perspectivas & Realidades 198?

 

Manuel Domingues – Uma Campanha na Guiné 1965/67

Edição do Autor

 

José Marques – O Mosteiro de Fiães

Edição do Autor 1990

 

VI Centenário da Tomada do Castelo de Melgaço

Edição C.M.M./RTAM/ jornal A Voz de Melgaço

 

Manuel Beites - Amor e Ódio na Fronteira

Edição Editora ausência 2005

 

Manuel Domingues – O Pegureiro e o Lobo

Edição Núcleo de Estudos e Pesquisa dos Montes Laboreiro 2005

 

Boletim Cultural

Edição da Câmara Municipal de Melgaço (anual)

 

O MANCO

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

 

O Ti António era manco, mas manco mesmo de verdade, daqueles que perderam uma perna e agora usam uma de pau. Só se vê o toco, revestido de pneu de bicicleta a sair pela perneira da calça azul escuro suja, que acompanhava sempre o casaco a condizer e o chapéu negro cinzento preto conforme a posição do observador e da luz incidente ser directa ou difusa.

Recebeu de alcunha o nome do lugarejo onde habita e assim dá pela graça de Manco da Carneiriça. Reformado do Estado adoptou a profissão de testemunha. Testemunha dispotadíssima pelas partes em confronto via-se muitas vezes obrigado a receber das duas partes. Era a parte mais chata da profissão, quase igual á que ocorria quando o juiz já farto de o ter pela frente o proibia de entrar no tribunal.

— Estou de férias – retorquia quando era procurado por réu ou acusador.

Na verdade, Ti António, aproveitava essas pausas que não eram muito prolongadas porque os juizes não morriam de amores pela Vila e só estavam de passagem, para praticar os seus passatempos favoritos: beber e muito do tinto da região e jogar ás cartas. Aliás jogar ás cartas era divertido porque lhe permitia com uns passes de batota mostrar como se joga. E os mirones que não faltam nunca, alguns dos quais que por isto ou por aquilo ou porque não gostam de mancos com perna de pau, espreitam a ocasião de o demonstrar.

A mesa de jogo de ferro forjado e tampo de marmore, com nódoas de vinho tinto, coberta por pano verde é o centro do mundo. Ti António o Manco da Carneiriça é o ultimo a sentar, bem de costas para quem passa. Os mirones sempre atentos ao jogo, trufo é copas e urina é mijo, estão como que suspensos das cartas manejadas pelo manco.

— Cortaste ouros e agora tens...

De imediato duas mãos enterram o chapéu na cabeça do manco e quando ele se vai levantar uma palmada obriga-o a ficar sentado. O cigarro eternamente no canto da boca é cuspido, o manco levanta-se dá um passo enquanto roda e espalha-se ao cumprido pelo chão. Esqueceu-se que lhe ataram a perna de pau á perna de ferro da mesa de jogo. Resmunga enquanto se levanta, o vinho a saltar no estômago, quem foi o...

A sala de jogos está vazia, só patrão Tano atende um freguês na outra sala do café.

— Malandros, corja de malandros, Tano dá-me uma tigela. Ó Tano...

— Espere aí que já salta o zarapulho.

Manco da Carneiriça espeta um cigarro no canto da boca e vai resmungando para consigo próprio, um olhar turvo ao patrão Tano, queima os dedos com o fósforo.

— Seu malandro, seu patife, de dedo no ar exclama patrão Tano, o que é que fez á freguesia que fugiu toda a correr... não há vinho p'ra borrachos.

— Ó Tano, só uma tigela...

— Fez batota não foi? Está-lhe bem, há-de pagá-las todas.

— Uma tigela Tano...

— Borracho, só de zarapulho!

Mas o manco não é homem de sermões e senta-se a beber a tigela de tinto, resmungando e chupando o cigarro, resmungando e chupando... Passam-se as horas e aumenta o numero de tigelas emborcadas e caminha rapidamente para o ponto perigoso da noite. Insulta um, insulta outro, berra o manco da Carneiriça. Encosta-se á ombreira da porta entre as salas, a luz apaga-se, o clarão do cigarro, o som do zarapulho a embater.

— Esteve-lhe bem – rosna o manco.

A luz acende-se e Ti António o Manco da Carneiriça, está a pingar a mistura de borras de café e vinho azedo que encharca o zarapulho. Sempre a resmungar atravessa a sala do café cambaleando muito mais que o normal, mas não excessivamente para dia de borracheira. Pela frente tinha agora uns km's a percorrer, triplicados por mor da bebedeira e mais a perna de pau, pela estrada principal e mais umas centenas de metros pelo caminho que atravessa os campos de milho e leva á casa de pedra mal amanhada e telhado roto. Mais que a distancia a percorrer o problema eram os tombos para dentro das valetas. E sair? Se não fosse a perna de pau ... assim lá tinha que comer um pouco de erva com terra á mistura. Nessa noite as quedas foram três que não deixaram marcas a não ser no fato azul escuro sujo. A terceira foi como costume no degrau de pedra que dá acesso à porta da casa e tem a particularidade de o fazer cair de costas.

Resmungos e mais resmungos até encontrar uma beata que enfiou no canto da boca. Fósforos não tinha. Abriu a porta com estardalhaço. Á sua frente um corredor com dois metros de comprimento, devidido ao meio por uma corda com lençóis estendidos. A casa está dividida ao meio. No quarto da cama ouve-se forte ressonar. De boca aberta Maria, a mulher, dorme.

— Sua p*ta, a dormir na minha cama!

Maria não acorda e Ti António bota a mão á roupa da cama e espalha-se ao comprido no quarto. Maria dorme. Ao procurar apoio a mão encontra o penico em baixo da cama e num ai é despejado em cima de Maria que acorda sobressaltada e mijada.

— Sua p*ta, sai já da minha cama.

— Esta cama é minha.

Agarra-se á Maria a cambalear e puxa-a para fora da cama. A mulher sai do quarto, rosto fechado de anos de sofrimento e dirige-se para a sua parte da cozinha.

Ti António o Manco da Carneiriça tira a perna de pau e cai sobre a cama. Em segundos está a roncar, dorme perfundamente.

Na cozinha, Maria bebe um pouco de aguardente p'ra matar o bicho que o dia já se levanta.  Bebe outro copo enquanto aquece o café. no fim do terceiro copo dirige-se segura de si para o quarto de onde foi expulsa. Os socos cardados ressoam pela casa mas nada acorda o manco. Maria sorri enquanto afaga a perna de pau e a baixa sobre o corpo adormecido.

— Toma malandro, borracho filho da p*ta...

— Ai que me matas minha p*ta...

A tareia demorou minutos e se deixou marcas a mulher não perdeu tempo a olhá-las, mais uns minutos e o marido ronca, daí a dois dias não se lembrará de nada e há milho a sachar enquanto o sol não aquece.

 

MELGAÇO HISTÓRICO

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

 

O celta Melgacus, um dia chegou a um planalto distante uns passos da margem do Minho, ergueu uma fortaleza com duas ou três ordens de muralhas, baptizou os habitantes de melgaceos e eis que Melgaço desabrocha. Durante a reconquista cristã da Peninsula Ibérica, o francês Conde D. Henrique, encontrou em ruinas uma fortaleza islamita dos finais do Sec. IX. Mas é seu filho, Afonso Henriques, I de Portugal que faz Melgaço entrar na História ao conceder-lhe foral em 1183. A importancia atribuida a Melgaço leva-nos a 1361 em que foi fixada a obrigatoriedade de ser feito por esta Vila o transito entre Portugal e a Galiza e em 1492 ser um dos cinco lugares fronteiriços utilizados para receber os judeus expulsos de Castela. Em 1388, Melgaço era a ultima fortaleza na posse dos partidários de Castela. D. João I, Mestre de Aviz, põe cerco á praça durante 52 dias, tiros de trons e escadas ineficazes contra as muralha, deu de si uma partigária dos castelhanos, melgacense alcunhada de Arrenegada que do alto das muralhas escarnecia e emporcalhava o nome dos sitiantes. Estando o arraial farto de a ouvir e não a conseguir calar, o Mestre recebeu uma melgacense de alma bem portuguesa, Inês Negra de nome, que se propunha lutar com a dita Arrenegada e decidir que dessa luta resultasse o futuro, negro de Castelo ou risonho de Portugal.

Ahiii, toma p*ta, ahiii os meus cabelos, pum. pum e muitos mais murros, cabelo arrancado, bofetadas choviam de todo o lado, Arrenegada no chão, nódoas negras da porrada, cabelos nas mãos de Inês e um grito terrível a cortar os ares:

Vencemos, Melgaço és do Rei de Portugal.

Grandes banquetes e Acção de Graças nos dois mosteiros, o de Fiães onde se encontrava D. Filipa de Lancaster e o de S. Salvador em Paderne para comemorar a vitória enquanto o povo só queria matar a fome. Mais tarde, El-Rei D. Manuel I, o Venturoso, confirmou o foral de Melgaço. E abrindo o livro da História o que é que os nossos antepassados nos deixaram?

Nove pontes romanicas, uma ponte celtica, dois mosteiros, um convento, duas capelas e seis igrejas todos referênciados como Monumentos Nacionais ou Monumentos de Interesse Publico.

Destaco o mosteiro de Fiães, que no Sec. XII adopta a Regra de Cister. Foi um dos mais ricos do Reino, cujo Abade era sempre um alto e influente dignatário da Coroa. 

 

AS MULHERES DE VIRTUDES

melgaçodomonteàribeira, 04.03.13

 

 

Ao vento uivante não escapa frincha para entrar e faz redopios dançantes com o fumo de bosta a arder que a urze já acabou há muito! O nevão foi rijo e o comer para os animais não sobeja. Lacrimejante devido ao fumo da lareira onde coze um caldo de farinha e uma folha de couve meia comida pelo gelo, Adelina deita contas à vida.

O Manel está p'ras Franças, esteve na matança e só volta p'ras sementeiras não manda dinheiro há dois meses, dos filhos, do Toino sabe que junta do Nelo já sabe menos. E que falta ela sente naqueles dias passados recolhida no casebre que partilha, pode-se dizer, com as duas vacas da família. Nem uma noticia pelos vizinhos, uma folha escrita que daria ao prior p'ra ler.

Pegou na roca e começou a fiar, uma capa nova que esta já precisa de descanso.

Com a Primavera há que levar o rebenho p'ra branda, onde há pasto e o ar é mais fresco. A mudança não custa que os haveres são poucos.

Mas as preocupações são muitas, de França nem tidas nem achadas, nem o Zé do Ribeiro que trabalha no mesmo cjhantier não sabe nada q'eles se mudaram. Já falara qu'a Ti Zefa dos Poldros e a unica coisa que ela lhe deu foi p'ras dores de barriga cada vez mais fortes:

— Toma duas vezes por dia q'isso passa, são só nervos.

Adelina nota que à sua passagem se sussurra e ai coitadinha... ao fim da missa é assaltada pelo molherio sedento de mexericos.

Tem é qu'ir á bruxa... coitadinha tanto tempo sem notícias... o melhor é ir á bruxa... as terras p'ra trabalhar... á bruxa...

O sono no catre de madeira foi agitado... a bruxa... a bruxa... Levantou-se ainda madrugada, acendeu o lume e foi olhar-se no espelho. E s'ele tiver outra? Comeu uma côdea de pão e pôs-se a caminho da casa da Ti Zefa.

— Entra mulher que parece que viste o demónio!

— Antes visse... Ó Ti Zefa, e s'ele tem outra na França e os filhos num querem dizer?

 — E como queres tu qu'eu saiba mulher de Deus, eu curo males num sou adbinha! Vai á bruxa se queres saber.

Adelina não tarda a saber que há um taxista na vila que a leva direitinha á bruxa mas primeiro há que passar no banco que a bruxa é na Galiza. Com dinheiro na saca vai direita ao Fifi por informação do homem do banco, e convidada a entrar senta-se atrás e diz ao que vai.

— Á bruxa á Galiza?...

— Tenho com que pagar se é esse o problema.

— Não, não, é que é um bocado tarde e já não a encontro em casa, tenho que a procurar...                 

E assim começou uma amena cavaqueira onde Adelina desafiou os seus temores, identificação esperanças e outras coisas que a conversa proporciona. E o Fifi que já tinha levado a mulher do capador da aldeia ao lado da dela e ficou fina...

— Se ficou... quem a viu toda tolhidinha...

— Olhe, senhora Adelina, vamos parar aqui a comer qualquer coisa que já são horas.

Taberna modesta mas de bons cheiros, Fifi sentou Adelina numa mesa do canto mais afastado e foi encomendar o jantar - já sou conhecido! Quando Fifi voltou trazia atrás a empregada com pratos fumegantes.

— Bá a comer todo qu'inda ai mais.

E Fifi atirou-se a um cozido galego como se fora a sua ultima refeição. Adelina de olhos baixos mal tocava na comida apesar dos incentivos do Fifi.

— Coma senhora Adelina, qu'eu inda num trouxe ninguem que num fosse curado p'ra casa.

Meia hora depois Fifi pára o carro na berma da estrada e desaparece por um carreiro coberto por uma latada de uvas. Adelina torce o lenço e reza, funga, pensa nos seus e na vida que a espera se ficar só.Tempo infinito quando Fifi regressa.

— A canalha foi chamá-la, anda a sachar milho, já não demora. Senhora Adelina acalme-se, são só uns minutos.

— Ai senhor Fifi é esta alição que não me larga... apertasse-me o coração...

— Num se aflija, Dona Maruxa aí vem.

Sem uma palavra seguiram em fila até uma poprta que já fora azul, encravada no meio de grossas pedras. Fifi despede-se com um até logo, fico no carro e enquanto elas entram contornou a casa e abriu a porta da adega..

Adelina entrou numa saleta pequena com uma mesa ao centro e duas cadeiras. Num canto um altar com Cristo crucificado, outros santos menores e cartões, cartas e outros papéis. Dona Maruxa sdentando-se e fazendo sinal a Adelina para fazer o mesmo, apontou o altar.

— São Graças recebidas.

E de seguida passou a uma lengalenga, com Sinal da Cruz e outras bençãos. Quando parou, pegou nas mãos de Idalina, benzeu-as e recomeçou a ladainha. Começou a falar, sempre com o olhar longe da visitante a cabeça a rodar e um ar que Adelina nunca tinha visto. E começou a falar... e Adelina ouvia de boca aberta aquela mulher a relatar todos os seus problemas... até os de França.

— Tens alguma coisa contigo que seja dele que me possas deixar?

— Num senhora, só este fio qu'era da mai dele...

— Num serve porque já foi usado por ti, tena que em trazer uma coisa só dele. Mas tem fé em Nosso Senhor que eu vou rezar por ti.

Fifi, com três tigelas no buxo dormitava sentado ao volante quando Adelina chegou. Sentou-se no banco de trás, hirta, olhos lacrimejantes.

— Atão – perguntou Fifi

— Temos que cá voltar.

— E quando, Dona Maruxa, não disse?

— Voltamos amanhã.

Fifi conduz com cautela que as estradas são más e vai divagando sobre isto e aquilo até Dona Maruxa. Que a vai ajudar isso garante ele, e...

— Ela levou-lhe dinheiro?

— Num senhor, até quis deixar o fio q'era da mai do Manel e ela num quis...

— É uma santa mulher... podia estar rica se quisesse...

A viagem continuou até perto da casa de Adelina.

— Ficamos aqui. Canto é?

— Um conto de reis... e amanhã?

— Ás sete que tenho que tratar do gado. Até manhã se Deus quiser.

— Até manhã.

Fifi assobia enquanto desce a estrada da serra em direcção á vila. Um conto, amanhã outro e sem precisar de ter pressa em fazer o telefonema para Dona Maruxa saber os males que atormentam as clientes, pode bem ir beber uma tigela ao Biqueira que o dia está ganho.

Adelina começou a rebuscar a rebuscar a roupa que Manel deixou, era tudo farrapos, até que encontrou o lenço bordado que ela lhe tinha oferecido quando ele a pediu em namoro. Só ele o tocou depois que ela lho metera no bolso da samarra já lá vão tantos anos. Sorriu contente consigo própria, a salvação estava ali. Ainda cantarolava quando foi tratar dio gado. A névoa levantava quando Fifi buzinou. Não foi preciso segunda que Adelina sorridente já afria a porta a seu lado. Os bons dias foram dados com um:

— Sim senhora, o que Dona Maruxa fez num sei mas que está com melhor cara lá isso está.

— Sinto-me melhor sim senhora senhor Fifi, olhe qu'á muito tempo qu'eu num dormia tam bem.

E a viagem decorreu já numa conversa mais aberta de quase vizinhos, nem pararam para matar o bicho. Com o aproximar da fronteira Adelina começou a ficar murcha, as certezas a tornarem-se mais fracas. Quando o carro parou junto ao carreiro, Adelina saltou lesta e dirigiu-se para a porta de Dona Maruxa que se abriu ainda ela não tinha batido.

— Buenas filha mia, anda, anda...

A saleta estava envolta num fumo suave, as velas no altar estavam acesas. Adelina pousou o lenço sobre a mesa mesmo antes que Dona Maruxa falasse. Olheram-se nos olhos e Dona Maruxa benzeu o lenço e começou a ladainha da véspera. Uma corrente de ar sacudiu a chama das velas e Dona Maruxa benzeu Adelina.

— Que o senhor te proteja fillha mia que em breve terás novas do teu homem.

Adelina levantou-se, corada, boca entreaberta, sem conseguir dizer palavra.

— Quando saíres deixa qualquer coisa no vaso á entrada, servirá para quem nada tem.

Á vista de notas de mil pesetas, separou cuidadosamente cinco notas de conto de réis que deixou escapar entre os dedos com um sorriso. O Manel e os rapazes estão bem e logo darão noticias. A viagem de volta foi num instantinho que decorreu, mesmo com a paragem em duas tabernas, uma galega a outra portuguesa para Fifi dar um recado.

Quando se levantou de manhãzinha para começar a tratar do gado Adelina soprava para afastar o ar gelado e cantarolava... e cantarolava ainda quando se enrroscou nas mantas junto ao borralho. Dias passaram... até que a Bia da Micas da mercearia apareceu afogueada – até parece que foges do Demo – e lhe entregou uma carta, uma carta com aqueles selos que ela conhecia tão bem! Abraçou e beijou Bia quase até ao sufoco e largou a correr p'ra casa do padre.

— Senhor Prior... senhor Prior... é carta senhor Prior!

Com os gritos de Adelina o padre Timóteo pousa o breviário e abre a porta da rua:

— Que se passa mulher, estás possessa? que gritaria é esta?

— Carta... carta senhor Prior e do meu Manel, eu sei, eu sei...

— Ora vamos lá ver... é do Manuel sim senhor...

— E que diz ele? os rapazes?

— Deixa-me ler porra, tem paciência que quem escreveu não escreve melhor qu'o Manuel nem os rapazes que tu teimaste que não podiam ir á escola p'ra tratar do gado...

— Que diz ele?

— Olha, estão a trabalhar noutro sitio e eles são os unicos portugueses, os outros são todos algerianos ou marrocans e só agora arranjou quem escrevesse. Já foi pôr o dinheiro que poupou na banca e espera que tu e os animais estejam bem. Os rapazes mandam-te abraços e ainda te vem dar uma mão nas sementeiras. Se demorar a escrever é porque continuam sózinhos no meio dos arabes.

As lágrimas corriam pela face de Idalina que agarrada á mão do padre a enchia de beijos. E por dentro gritava:

— Obrigada Dona Maruxa.