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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

SC MELGACENSE: O ABISMO

melgaçodomonteàribeira, 23.03.13

 

 

NOVA COMISSÃO ADMINISTRATIVA DO SPORT CLUBE

MELGACENSE CRITICA « ACTO DE IRRESPONSABILIDADE »

DA ANTERIOR GESTÃO

 

   

     Já na segunda metade da tabela da IIIª Divisão – Série A, que ditará a despromoção –, o Sport Clube Melgacense prepara-se já para o reajuste orçamental e para outra realidade. Com o fim da IIIª Divisão e perante uma série de promessas que não passaram além de intenções, não restará ao clube de Melgaço senão reorganizar-se e repensar a estratégia desportiva.

     Depois da demissão da Comissão Administrativa liderada por Jorge Domingues em Assembleia Geral Extraordinária, no dia 8 de Janeiro, que tinha como ponto único a discussão da situação do clube, os elementos da nova Comissão avançam com um projecto que não se compadece, num futuro próximo, com os desejos competitivos do histórico clube local.

     « A Voz de Melgaço » esteve à conversa com Paulo Azevedo e Abel Pereira, elementos da recém formada Comissão Administrativa, que traçaram um cenário diferente daquele a que os sócios têm assistido desde o inicio da época desportiva 2012/2013, que dá nova luz sobre os factos da vida do Melgacense e que aparentemente justificou esta mudança na equipa de gestão do clube.

     « Percebemos que estávamos a ser enganados: afinal a equipa que era a custo zero não estava a receber; os jogadores das camadas jovens, de que os pais pagaram as inscrições, nenhum deles estava inscrito e estavam a jogar sem seguro; havia processos em Tribunal aos quais os responsáveis do clube não apareceram; havia novos credores de restaurantes… Chegámos ao fundo, a partir de agora não dá para descer mais. »

     « Temos um projecto estrutural para salvar o Melgacense em termos financeiros », avança Paulo Azevedo, considerando que « o grande erro desta época » terá sido apostar de novo num plantel que acabaria por representar um custo mensal de 7800 euros, incluindo a equipa técnica. O prometido suporte financeiro de empresários da zona do Porto, numa campanha de apoios que incluiria a participação do jogador do Real Madrid Fábio Coentrão, acabou por não se materializar e, depois de quatro meses sem receberem o ordenado, o plantel formado por jogadores das Caxinas foi-se desmoronando. «  Para trás », nota Paulo Azevedo, « fica mais uma factura que o clube de Melgaço terá de pagar. » Para o novo membro da Comissão, o apoio empresarial que assumiria os custos com o plantel nunca terá passado de uma boa intenção. « Não conheço a pessoa, e desde a primeira reunião que nunca acreditei muito nisso. »

     Cerca de cinco meses após o início da época desportiva, surge nova polémica. Em Janeiro, a Associação de Futebol de Viana do Castelo (AFVC) suspende os jogos do S.C. Melgacense nos campeonatos distritais de Juniores, Iniciados e Infantis. Acabaria por levantar essa suspensão dias depois, a 11 de Janeiro, três dias após a Assembleia Geral Extraordinária convocada pelo clube. Serviu este comunicado para pôr a descoberto as irregularidades do clube no que respeita às inscrições e pagamento de seguros dos jovens. É o próprio presidente da AFVC, Jorge Sárria, que confessa à Comunicação Social a irregularidade no processo de inscrição dos jogadores das equipas de formação do S.C. Melgacense.

     « O que aconteceu nesta época é um acto de irresponsabilidade», analisa Paulo Azevedo. A dívida total, que a Comissão actual avalia em cerca de 290 mil euros, poderá vir a ter novo tecto. « Agora temos uma equipa de futebol que, neste momento, está a custar 7800 euros por mês, que já não recebe há quatro anos e que vai estar até ao fim da época sem receber, como é que a dívida não vai aumentar ? », questiona, enaltecendo a compreensão que o actual plantel de jogadores tem demonstrado para com a situação do clube.

     « Não haverá IIIª Divisão (na próxima época), mesmo que houvesse um empresário a pagar os salários aos jogadores, para que queríamos uma equipa de futebol sénior destas, se sabemos que esta Divisão vai acabar ? Nós não temos capacidade para ter uma equipa na IIIª, por que é que iríamos subir para a IIª ? », lança Paulo Azevedo.

     Concebendo apenas a existência de uma equipa para as competições distritais, a Comissão Administrativa que tomou posse em Janeiro pensa já num processo de recuperação a médio prazo, com prioridades diferentes das que têm sido notadas desde o início da época em curso. « Nós vamos cumprir, mas não estabelecemos prazos. Esta época vai ser difícil levá-la até ao fim porque temos imensos problemas, mas vamos tentar levar esta época com dignidade. Há um projecto (para a próxima época) que se está nas tintas para os resultados desportivos. »

     O processo de liquidação de dívidas é também uma forma de « credibilizar » novamente o S.C. Melgacense junto da sua comunidade, sugere Paulo Azevedo. « Actualmente, o Melgacense não tem credibilidade em nenhum sítio. Deve a toda a gente, sem se saber quanto. Devemos no restaurante, devemos na loja, devemos a muita gente... É algo fora do normal! Muita paciência os credores têm tido porque, se o Melgacense fosse uma empresa, tudo isto já estaria em tribunal, num processo mais complicado. »

     No plano para o relançamento da vida desportiva do clube, a Comissão promete apostar definitivamente nos talentos locais. « Na próxima época, vamos avançar definitivamente com o apoio à formação. Na equipa de Juniores, vamos dar-lhes um apoio que não tem tido até agora. Tem-se criado a ideia de que as equipas de formação têm sido construídas por causa do subsídio e nós não podemos dar-lhe razão: o nosso projecto prevê ter equipas de formação base, dedicando-nos inteiramente às equipas de formação. »

     O apoio aos jovens é, de resto, o maior trunfo desta Comissão que prevê, num cenário em que privilegia a formação e a criação de uma equipa sénior sem custos, resolver o problema das dívidas num prazo de cinco anos. « Está fora de questão o Melgacense ter equipa Sénior com orçamento enquanto não resolvermos os problemas dos credores. Actualmente, o clube tem de ser encarado como uma empresa que tem um défice e que cada ano está a dar prejuízo. Temos de estancar essa corrente para que ela depois possa começar a ter lucros. Com um trabalho bem feito, entendo que serão precisos quatro ou cinco anos para pagar a todos os credores», refere Paulo Azevedo.

      Será numa campanha assente no apelo à participação activa dos sócios, angariação de fundos em feiras e eventos locais e na verba atribuída pela Câmara Municipal que a actual Comissão pretende levar a bom porto a tarefa de liquidação de uma factura que se aproxima já dos 330 mil euros.

     Decidida a formar uma lista candidata à Direcção do clube, a actual Comissão apela aos melgacenses para uma participação activa em todo o processo de recuperação do clube.

     « Queremos que as pessoas sejam mais activas, porque o S.C. Melgacense é de todos. Não somos nós que decidimos, são os sócios, nas Assembleias. Não é bom aparecer só um ou dois, as pessoas têm de querer saber como está, o que se pode fazer, ajudar a escolher o melhor rumo », nota.

 

João Martinho

em

A Voz de Melgaço

1/2/2013