A ESPERTEZA DO MESTRE SERRALHEIRO
« ZINONA »
José Maria Alves, sobrenomeado o « Zinona », filho de João António Alves e de Maria Teresa Lourenço, nasceu na Vila de Melgaço, em 1871, e aqui casou, em 12-4-1910, com Belmira dos Prazeres Pires, de 38 anos, filha de José Joaquim Pires e Florinda Vitória Lourenço; portanto, primos co-irmãos, já que ambos eram netos de José Maria Lourenço e de Josefa Antónia Gonçalves.
Tal como seu pai, autor dos portões do cemitério municipal e outros trabalhos, o « Zinona » foi um serralheiro competente, e o que mais espanta é como ele conseguia fazer obras tão perfeitas e bem acabadas com tão poucas e deficientes ferramentas que possuía…
No mister, ajudava-o o seu cunhado Manuel, o « Néné ». Este era semi-imbecil, o que o não impedia ou até talvez por isso… de ir todos os anos de abalada a Braga, gozar o S. João. Ia a pedibus calcantibus, comia e pernoitava onde e como podia e de igual modo regressava a penates, para, assim, não encetar o pé-de-meia angariado no giro da pedincha; e, tanto antes da ida como depois do regresso, invariável e frequentemente dizia ele: quem nam bai a Braga nam bê nada!
Apesar da sua semi-imbecialidade, era um filósofo este « Néné »…
Voltando ao nosso « Zinona », este, além de competente artífice, era também um finório. A este propósito, lembro-me muito bem de quando o falecido Simão Luís de Sousa Araújo lhe encomendou os portões para a sua vivenda na Rua Velha, vivenda hoje pertencente a Manuel José Domingues (Mareco). Justaram a obra ao quilo… contrato que ao Simão, à primeira vista, se lhe afigurou ser um verdadeiro negócio da China… Não contou, porém, com a esperteza de Mestre «Zizona », e aqui é que ele havia de ser levado.
Efectivamente, o « Zinona », para a obra em questão, além de empregar ferro da maior bitola que lhe foi possível, ornou-a exuberantemente com aplicações o mais pesadas que pôde conseguir; e o resultado foi que uma vez a mesma obra concluída quase não havia em Melgaço balança capaz de a pesar… O Simão, apesar de só ter um olho, achou-a pesada em demasia, mas pagou. Era, pois, um finório Mestre «Zizona »…
Viveu e faleceu na casa que foi sua – o prédio que faz gaveto com a Rua Direita e com o Largo do Município ou Praça do Pelourinho – em 3-4-1941, tendo havido do seu casamento três folhos, dos quais apenas lhe sobreviveu um: a Leonídia. Como, porém, extra-matrimónio, gerou em Lucrécia Augusta da Costa Velho um ranchinho de bastardos, estes lhe tem assegurada posteridade para largos anos…
P. Júlio Vaz Apresenta Mário
P. Júlio Vaz
Edição do autor
1996
Pág.s 106, 107, 108