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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

OS LIMITES DA FREGUESIA DE LAMAS DE MOURO

melgaçodomonteàribeira, 18.03.23

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igreja de lamas de mouro

 

PORTO DOS ASNOS OU DOS CAVALEIROS

 

Neste lugar meeiro de Lamas de Mouro e Castro Laboreiro se iniciaram todos os autos de limitação e demarcação de ambas as freguesias. No tombo da comenda de Castro Laboreiro de 1565 e nos da comenda de Távora é identificado como Porto dos Asnos, aparecendo com a designação de Porto dos Cavaleiros nos tombos de 1754 e 1785. Ainda são visíveis as ruínas do local primitivo, que foi abandonado há muitos anos.

A demarcação feita em Junho de 1785 principiou e terminou no marco ou marcos do Porto dos Cavaleiros. Segundo o documento eram dois marcos: o maior deles, na face voltada para o nascente, estava cheio de letras que os louvados não conseguiram perceber, mas que, no seu entendimento inculcam muita antiguidade; ambos estariam localizados no meio (da parede) da estrada que ia para Melgaço. No muro do rossio da única casa que ainda resta foi aproveitado um marco de pedra irregular com inscrições das eras de 1788 e 1796. Ao lado esquerdo do portão de entrada está também uma pedra com uma cruz parcialmente danificada, mas que parece ter servido de sinal limítrofe. Tempos anteriores houve em que o marco do Porto dos Asnos era um carvalho, conforme consta na concórdia amigável para se erigir a capela de Alcobaça lavrada, no dia 8 de Julho de 1635, junto ao carvalho do Porto dos Asnos, que servia de marco divisório entre os concelhos de Castro Laboreiro e o de Valadares (freguesia de Lamas de Mouro).

Embora a comissão do tombo de Castro Laboreiro de 1565 tenha reunido na bifurcação dos caminhos, o ponto exacto onde se juntam as duas freguesias de Castro Laboreiro e de Lamas de Mouro e a região da Galiza é onde o caminho que vem de Castro Laboreiro passa o rio Trancoso, no sítio do Porto dos Asnos ou dos Cavaleiros. Nesse mesmo sentido atesta a marcação do concelho de Castro Laboreiro, feita a 26 de Julho de 1538 – “E dahi pelo valle abaixo das Concellas ao porto do Malhaom a agoa do Porto do Malhaom todo per agoa agoa (sic) abaixo te onde se mete a sob o Porto de Mey Joanes como se vay meter n’agoa do sobredicto porto do ryo de Portelynha e que hy acaba o termo próprio desta desta (sic) vyla de partyr com a Galiza”; esta passagem é esclarecida no final do documento, com referência expressa ao Porto dos Asnos: “Item. Somente de Milmanda porque vem ter o seu termo a agoa do Porto do Malhao que vem por hy a estrada pubrica pera Melgaço chama se hy o Porto dos Asnos e por hy vai a estrada de pasar outra agoa que vem per dentro de Portugall e se junta em baixo com a de cyma aquy vem” –, integrada no projecto régio de D. João III definir toda a linha de fronteira entre Portugal e Castela, desde Castro Marim até Caminha.

Não há sombra de dúvida que, há muitos séculos, nesta precisa travessia começa a raia seca com a Galiza – corroborando na demarcação de Valadares, feita a seguir à de Castro Laboreiro, no dia 27 de Julho de 1538 – O tratado internacional de limites de 1864, v. g., partindo da confluência do Trancoso com o Minho segue a fronteira pelo rio Trancoso até “ao sitio chamado Porto dos Cavalleiros ponto em que atravessa este rio um caminho que de vários povos vae para Alcobaça. A demarcação da raia seca começa neste ponto”.

 

OS LIMITES DA FREGUESIA DE LAMAS DE MOURO

E OS CAMINHOS DA (IN)JUSTIÇA

José Domingues

1º Edição

Novembro 2014

 

CONTRABANDO DO CARO, DO ALTO

melgaçodomonteàribeira, 11.03.23

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UMA CARGA DE COBRE

Tanto o estanho como o cobre vinham em barras com a forma de um jugo das vacas, pesando cada uma vinte e cinco quilogramas. Conforme nos informou o nosso interlocutor de Caballeiros (San Martiño) ia adquiri-las à Vila, em Castro Laboreiro, ou, à fronteira, ou então, a um sítio combinado com os homens de Castro, onde eram escondidas, para em Caballeiros, ou, no Valoiro serem colocadas, durante a noite, num camião, que as transportava para Ourense e outras cidades.

Desconhecia os verdadeiros mentores deste esquema de contrabando, que intitulou como um contrabando caro, do alto, quer em Portugal, quer na Espanha, mas, o responsável pelo “negócio” em Castro “acertava” com a guarda fiscal uma determinada quantia por cada carga efectuada, eliminando, deste modo, os perigos da “transferência”.

Contudo, houve percalços, como o caso da noite em que os Carabineiros surpreenderam na Cabeça Vella, próximo da Terracha (Entrimo), uma carga de barras de cobre, transportada por vinte e duas mulas, que nos foi mencionada, de forma espontânea, pelos residentes, quer no vale do Grou, quer no de Pacín, preocupando-se, contudo, os nossos interlocutores da Illa em esclarecer que a apreensão se tinha verificado devido a uma denúncia, por represália.

Mas, voltando, propriamente ao caso das barras, eram transportadas em mulas (cada mula carregava 100 Kgs), ou então, pelos rapazes novos e fortes (um rapaz conseguia carregar 50 Kgs).

O nosso interlocutor de Caballeiros, por exemplo, conduzia catorze mulas vazias para a Vila, em Castro, sendo duas mulas “controladas” por um homem, que recebia 400 pesetas por dia, ou melhor, noite.

O estanho e o cobre eram matérias-primas utilizadas nas fundições. Contudo, se o “escoamento” do cobre em barra predominou na década de cinquenta, com a implementação e alargamento da rede eléctrica, a procura “voltou-se”, na década de sessenta, para o fio de cobre.

 

LIMA INTERNACIONAL: PAISAGENS E ESPAÇOS DE FRONTEIRA

Volume I

Elza Maria Gonçalves Rodrigues de Carvalho

Tese de doutoramento em Geografia

Ramo de Geografia Humana

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

Julho de 2006

 

MONGES A TRABALHAR EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 04.03.23

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desenho a. sousa  paradise tatoo

 

VILAS, PODER RÉGIO E FRONTEIRA:

O EXEMPLO DO ENTRE LIMA E MINHO MEDIEVAL

Sabe-se que os combates ainda continuavam em 1199 uma vez que se noticia o cerco de Bragança por Afonso IX e um combate entre leoneses e portugueses em Ciudad Rodrigo o que faz intuir uma vez mais, a importância estratégica crescente da fronteira leste, o que contribuía para secundarizar uma Galiza que começava a assumir-se como região periférica no jogo de poderes e influências que opunha os diferentes reinos peninsulares. Alguns indícios, contudo, fazem pensar que, em 1199, se a guerra não estava presente na frente galega, a zona, todavia, preocupava Sancho I. Com efeito, as concessões de carácter económico que, nesse mesmo ano atribuiu a dois mosteiros fronteiriços – Longosvales e Fiães – bem como à nascente vila de Melgaço* fazem crer na necessidade de garantir ou recompensar apoios prestados ou a prestar em caso de enfrentamento militar. Auxílio que era mencionado pelo monarca como uma das razões que o tinham levado a conceder carta de couto ao mosteiro de Longosvales, uma vez que se pretendia recompensar a construção de uma torre levada a efeito pelos monges em Melgaço.

 

*Trata-se da carta de couto ao mosteiro de Longosvales (cf. DS, nº 234) e uma doação ao mosteiro de Fiães (cf. DS, nº 122) de quatro casais e meio em villa Figueiredo feita para compensar o facto de Sancho I ter utilizado Sta Maria de Orada, que tinha sido atribuída por seu pai ao mosteiro, para doação aos povoadores de Melgaço.

 

Dissertação para doutoramento em História da Idade Média, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

 

Amélia Aguiar Andrade

Lisboa 1994

 

ALMAS CASTREJAS

melgaçodomonteàribeira, 25.02.23

830 b -Castro Laboreiro, Largo da Igreja - Princí

AMENTAR AS ALMAS

 

O mesmo que encomendar as almas, ementar as almas e obradório (Castro Laboreiro). Lembrar os nomes das almas para as encomendar a Deus. A encomendação é realizada dentro de um signo-saimão, para o operador não ser tentado pelo diabo, concluindo a cerimónia com a exclamação:

«Peço um Padre Nosso e uma Avé Maria por todas as almas em geral que estão nas penas do purgatório», seguida da respectiva recitação em voz muito alta.

Em Castro Laboreiro, consoante informação de Leite de Vasconcelos (Etnografia Portuguesa, livro III, p. 319), um homem ia (às quartas e sextas-feiras, de noite) a um lugar ermo e alto, armado, «por causa das coisas más», fazia um signo-saimão no chão, de modo que uma árvore ficasse no meio dele, subia a ela e, em voz fúnebre, entoava um cântico religioso, com o qual provocava medo a quem o ouvisse.

 

PORTUGAL SOBRENATURAL

Manuel J. Gandra

 

FIÃES E PARADA DO MONTE

melgaçodomonteàribeira, 18.02.23

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  branda de mourim  parada do monte

  1. Setembro.

 

Doação conjunta de Afonso Pais e outros consortes, que legam ao mosteiro de Fiães o território da actual freguesia de Parada do Monte, especificando os seus limites.

 

BRAGA, AD – Cartulário do Mosteiro de Fiães, fl. 15v.

Xesús Ferro Couselo, Tumbo de Fiães, Boletín Auriense, Anexo 20

Museo Arqueolóxico Provincial, Ourense, 1995, pp. 59-60

 

(…) Eu Afonso Pais e minha mulher Urraca Dias a vós Abade Fernando e todos os vossos sucessores do Mosteiro de Fiães. Fazemos carta de testamento da nossa herdade própria que compramos a Goina Midici e Pedro Minici e Paio Minici seus sobrinhos, a saber a oitava parte de Parada. Depois eu Afonso Pais juntamente com meus irmãos e meus sobrinhos temos a quarta parte da sobredita herdade; eu Afonso tenho ainda dois quinhões um meu e de meu irmão Álvaro Pais porque o nosso rei D. Afonso me deu em herdade toda a sua herdade e porção. Além disso eu Afonso Pais e Mendo Pais juntamente com nossas irmãs. Eu Fernando Joanes com meu irmão. Eu Martinho Bernardes com minhas irmãs e sobrinhos. Eu Pedro Peres, com meu irmão Gomes, nossas irmãs e sobrinhos. Eu Pedro Garcia e Afonso Garcia com nossos irmãos e irmãs. Eu Mór Mendes e Órega Mendes. Eu Maria Pais. Eu Urraca Peres juntamente com minhas irmãs. Nós todos sobreditos vos doamos toda a sobredita herdade como a puderdes identificar, por remédio das nossas almas e das de nossos pais. São seus limites: pelo Mourilhão e daí ao Curro de Abril e daí a Fervença e daí ao Parte-Águas daí desce pelo rio Menduro, e fecha no Mouro (…)

 

OS LIMITES DA FREGUESIA DE LAMAS DE MOURO E OS CAMINHOS DA (IN)JUSTIÇA

José Domingues

1ª Edição

Novembro 2014

p. 174

TRANSUMÂNCIA EM CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 11.02.23

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teso

MOVIMENTOS TRANSUMANTES DA POPULAÇÃO ENTRE AS BRANDAS E INVERNEIRAS

 

“Em várias das serras existem, como nas montanhas galegas e asturianas, brandas ou brañas, umas de cultura (centeio, milho, algumas fruteiras), outras de pastagem de gado miúdo (Raquel Soeiro de Brito). Casas toscas, de pedra solta, sumariamente divididas e mobiladas, servem para habitação de umas semanas de Verão ou quando a família sobe, por uns dias, a amanhar a terra. Casas e terras pertenciam sempre a gente das aldeias próximas, que aí tem as suas habitações fixas e as casas de lavoura permanentes. Só na Serra da Peneda, em torno da vila do antigo concelho de Castro Laboreiro, existem povoações desdobradas: umas três fixas, a 900-1000 m, são habitadas todo o ano: para o norte ficam as brandas (de venerata), povoações de Verão, habitadas até ao princípio do Inverno, onde se cultivam centeio e batatas e apascentam gados, para o sul, num veleiro fundo e apertado, as inverneiras, com campos de milho em alternância com prados, batatas, umas quantas parreiras junto às casas e algumas árvores de fruto. A grande descida faz-se pelas vésperas do Natal, os gados pelo seu pé, as pessoas também, os trastes armados em carros de bois e até o gato atado a um fueiro por uma guita. As casas da inverneira são mais sumariamente construídas, de tosca pedra solta e telhado de colmo, e as pessoas sentem-se menos à vontade «porque as terras são mais apertadas». Uma grande confusão introduzida por casamentos e heranças faz com que brandas e inverneiras não correspondam exactamente, havendo vários habitantes de uma branda que descem a várias inverneiras e vice-versa. Por Abril voltam à serra, vindo às inverneiras por poucos dias olhar o milho, apanhar as batatas, regar o feno e fazer o vinho.” (Ribeiro, 1995: vol. VI, 293-294)

 

O rio Laboreiro constitui o principal elemento ordenador da disposição das brandas e das inverneiras no território. As brandas localizam-se a norte, na parte montante do rio e seus afluentes – precisamente naquela porção de território que avança sobre a Galiza. Já as inverneiras localizam-se a sul, na parte jusante. Também junto ao rio e a meia distância entre as brandas e as inverneiras localiza-se o lugar de Castro Laboreiro – a sede da freguesia – que é um lugar fixo, tal como outros que se localizam um pouco a norte, a montante do rio e imediatamente antes de um conjunto de brandas.

Dentro do clima genérico, que caracteriza a região, formam-se os microclimas próprios e individualizados que variam conforme a altitude dos lugares. As brandas são procuradas durante as estações do ano mais quentes, onde o clima possibilita a pastorícia e o cultivo das terras. Já as inverneiras são procuradas durante as estações do ano mais frias que, devido à sua localização nas partes mais baixas da montanha, são lugares seguros e aconchegantes, onde as encostas do vale protegem os aglomerados da neve e do frio, (Geraldes, 1996: 23).

As brandas encontram-se junto às ribeiras do planalto, nas vertentes das montanhas ou nas lombas junto aos vales e a altitude da sua implantação varia entre os 1000 e 1200 metros. As brandas de Castro Laboreiro são brandes de cultivo e pastoreio, acolhem o pastor, a família, os animais e os respetivos utensílios pessoais. O aspeto «airoso» das brandas, a localização geográfica, o clima, a qualidade dos solos e a possibilidade de expansão das áreas de cultivo, transformam as brandas em locais de eleição para viver, (Geraldes, 1996: 17-19).

As inverneiras implantam-se no vale, a uma altitude compreendida entre os 750 e 1000 metros. São lugares acolhedores e protegidos das intempéries. Estas são procuradas quando as temperaturas ficam negativas e impossibilitam tanto ao homem como aos animais permanecerem nas brandas, (Geraldes, 1996: 19). As inverneiras implantam-se em vales, logo abaixo da superfície do planalto ou mais distantes, encontram-se abrigadas do vento frio e expostas ao clima favorável do meio-dia invernoso, (Ribeiro, 1991, vol. IV: 254).

A ocupação da branda é feita por altura da Páscoa. A população permanece no planalto cerca de 9 meses até à chegada do Natal, altura em que toda a população deve já ocupar as inverneiras.

O meio das brandas é favorável à agricultura e à criação de gado, a existência de água, o clima tão peculiar, o relevo, a arborização e as zonas de montanha, permitem o cultivo e extração de bens da terra. Das terras de montanha extrai-se essencialmente milho, centeio e, por vezes, também a batata, enquanto o trigo se extrai preferencialmente de locais húmidos e férteis. As áreas para cultivo são divididas em barbeitos e leiras, prados e hortas.

A ocupação sazonal proporcionou vivências próprias e únicas, que culminaram num tipo de arquitetura característico de Castro Laboreiro. O clima inóspito e a topografia acidentada fizeram com que, além do duplo povoamento, a arquitetura se caracterizasse pela sobriedade e pela racionalidade, não só ao nível da habitação como também do aglomerado populacional no seu conjunto, (Território Povoamento Construção Manual, 1999: 29-32).

 

ARQUITECTURA DE TRANSUMÂNCIA: ENTRE AS BRANDAS E INVERNEIRAS DE CASTRO LABOREIRO

Vânia Patrícia Sousa Reis

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Universidade Lusíada do Porto

Porto, 2014

 

O SÁBIO DE VILADRAQUE

melgaçodomonteàribeira, 04.02.23

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canastro em viladraque

AFONSO, MANUEL

Conhecido por Sábio de Vila Draque (Paços, Melgaço). Natural de Castro Laboreiro, falou no ventre da mãe, circunstância que lhe conferiu a virtude, manifestada aos seis anos de idade de adivinhar (mediante cartomancia) e curar.

Informa Leite de Vasconcelos (Etnografia Portuguesa) que a sua terapêutica se baseava nuns pós de santos, aos quais chamava negrozelo, fornecidos por frades espanhóis de Cela-Nova.

Com tais pós embrulhados num papel, fazia curas do ombro direito para o joelho esquerdo e do ombro esquerdo para o joelho direito, dizendo:

«Negrozelo (i. e., ó doença! ó mal!)

Vai-te embora deste corpo,

Deixa-o são e salvo,

Com pós de santos e negrozelo»

Também curava dor de dentes, de ossos e de pés, com pedra-de-ara, embrulhada em papel e movendo-a em cruz.

 

PORTUGAL SOBRENATURAL

Manuel J. Gandra

ESTRADA NOVA, MAS...

melgaçodomonteàribeira, 28.01.23

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ACIDENTES NA ESTRADA NOVA DE CASTRO LABOREIRO

O autocarro que fazia a carreira para Castro Laboreiro a 25/1/1952 teve que ficar por Pomares, pois a neve era tanta que não havia hipótese de prosseguir. Apesar da estrada ser nova, já se reclamavam obras!

Escreveu-se no Notícias de Melgaço, nº 1019, de 30/3/1952: «Ainda está na memória de todos o grave desastre que sucedeu com a camioneta de José Albano Fernandes onde, além de muitos feridos e prejuízos materiais, houve duas mortes. Desde então mais alguns desastres se têm registado de menos importância, como ainda há bem pouco tempo o ocorrido com a camioneta de Abel Alves “Chimpa”, que só por um milagre não houve vítimas. E para evitar este estado de coisas daqui lembremos a conveniência de aproveitar a época de verão para concluir a pavimentação da referida estrada, pois que dias há no inverno que aquela importante povoação fica bloqueada e com as suas comunicações cortadas com o resto do concelho, o que lhe ocasiona graves prejuízos, ficando além disso sem assistência médica durante o tempo das grandes nevadas…»

 

Dicionário Enciclopédico de Melgaço II

Joaquim A. Rocha

Edição do autor

2010

p. 305

 

A CEMA E O BALTAZAR

melgaçodomonteàribeira, 21.01.23

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XVIII

FINAL

O Manel do Cerinha pelou oito meses de cadeia. Não conseguiu esquivar-se da acusação de defloramento da namorada que abandonou. Os rapazes comentavam estes casos como advertência uma vez que todos já namoravam.

- Quando chega certa hora a gente perde as estribeiras e esquece as consequências que virão, dizia o Zeca Chatice.

- Já dizia o Tito Betrano, o moleiro, que tinha uma rebanhada de filhos:

- O Timóteo contava, na alfaiataria do Mundo da Feira Nova, que, na hora da chegada, fez uma marcha-a-trás tão violenta que caiu escada abaixo.

E como o tema agradava àquele grupo de rapazes, o Manel Félix lembrou o caixeiro-viajante que volta e meia aparecia em Melgaço vendendo os produtos de que era representante. Hospedava-se na Pensão Braga. Numa das hospedagens ajeitou-se com a Cema, bonita rapariga com 16 anos, que trabalhava como arrumadeira, filha da cozinheira. O pai da rapariga deu parte no tribunal. O Baltazar foi chamado a dar explicações; como era casado, para evitar repercussão que lhe causaria transtornos familiares e comerciais, não tendo como negar o sucedido, optou pela conciliação proposta pelo delegado. Pagou a astronómica importância (para o tempo) de vinte contos (20.000$00).

O caso serviu de tema para a paródia que o Vasco incluiu no teatro que estava ensaiando:

e fazem os homens tontos.

Cuidado seu Baltazar

não se queira arruinar

que o preço são vinte contos.

 

Nesta mesma revista teatral parodiava, também, o retratista Dom Francisco da Feira Nova que descobriu o Scheelita no monte da Gavieira, e a piscina que o Emiliano queria fazer no regato do Rio do Porto.

* * *

Estes “nada” que aconteciam em Melgaço, no ponto de vista dos jovens, sucediam-se merencoriamente em relação ao cinema que em uma hora exibia muitas vidas e muitos acontecimentos entrelaçados.

 

“Que raio de terra onde nada acontecia, comentavam!”

 

                                                                  MANUEL FÉLIX IGREJAS

 

Publicado no jornal “A voz de Melgaço”

1 de Abril de 2015

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO CASTRO LABOREIRO II

melgaçodomonteàribeira, 14.01.23

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CASTRO LABOREIRO – ENQUADRAMENTO HISTÓRICO II

 

O período da reconquista foi marcado por sucessivos avanços e recuos territoriais, mas nos finais do século IX, os reinos do Norte encontravam-se consolidados em três unidades, as Astúrias (ou Leão), Galiza e Castela. A sua malha administrativa estava parcelada em terras e estas eram atribuídas a um conde, para as governar. As sucessivas discórdias resultantes da formação dos reinos e do seu desenvolvimento, tornaram a Galiza independente e desmembrada em duas partes, “dando o sul a Ramiro Ordóñez que foi assim “rei de Portugal” antes de herdar a totalidade dos domínios do seu pai, como Ramiro II (931-951)” (Marques, 1996, p. 26). Mais tarde, o território entre o Lima e o Douro, ficou desagregado da Galiza e entregue a um duque. Esta nova unidade política tinha a sua sede em Portucale, sendo governada por nobres locais destacados pelo reino de Leão e estando vinculada politicamente aos seus interesses.

Aquando da consolidação do condado Portucalense surge D. Afonso Henriques (1139-1185), filho de D. Teresa e do Conde D. Henrique, herdeiro deste território. Em rebelia contra a mãe, inicia um processo de desvinculação do reino de Leão. Com a sua ambição ao título de rex e eficaz expansão territorial, torna-se vassalo da Santa Sé e não do imperador dos reinos cristãos do Norte da Península, D. Afonso VII (1111-1157), tornando-o um soberano superior ao imperador. É neste contexto expansionista que D. Afonso Henriques toma Castro Laboreiro.

Para este período histórico, do século IX ao século XII pode mencionar-se um conjunto de elementos que atestam a presença das monarquias do Norte e da vinculação do território de Castro Laboreiro ao reino de Portugal, nomeadamente fontes históricas e elementos arquitectónicos, principalmente de carácter militar e, em grande quantidade.

Após o primitivo período Afonsino, em termos gerais, a administração do território de Castro Laboreiro entre o século XIII e século XIX, pertenceu à Provedoria de Viana do Castelo, à Comarca de Barcelos (Casa de Bragança), era Comenda da Ordem de Cristo e situava-se na Província do Minho. Castro Laboreiro foi instaurado como sede de Concelho em 1271. Segundo os mapas consultados, a circunscrição do território de Castro Laboreiro, alterou-se pouco durante as reformas do Antigo Regime, mantendo-se muito fiel à sua delimitação original. Com a Revolução Liberal, após 1832, Castro Laboreiro passa a integrar-se na Comarca de Ponte de Lima e mantém-se Concelho. Durante o período de estabilização, a partir de 1842, Castro Laboreiro integra-se no distrito de Viana do Castelo e perde o estatuto de Concelho em 1855. Passa a ser Junta de Paróquia e posteriormente Junta de Freguesia até 1974. Neste ano torna-se numa comissão administrativa, que terá duração de, aproximadamente, 2 anos, acabando depois por retornar o anterior estatuto de Junta de Freguesia. A reforma administrativa de 2013 consuma uma união política com a freguesia vizinha de Lamas de Mouro, formando a União de Freguesias de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro.

 

CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO

CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO

Diana Carvalho

Mestranda em História e Património

Dianacarvalho.pt@gmail.com

 

ABELTERIUM

Volume III

Maio 2017