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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

OS FORAIS DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 28.01.17

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A cultura tem constituído preocupação primária na nossa política municipal. A Câmara de Melgaço tem investido na recuperação do património e na criação de infra-estruturas e equipamentos, assim como na acção cultural e na publicação de livros e textos que registam passagens importantes da nossa história colectiva.

Com a concessão do primeiro foral em 1183, D. Afonso Henriques deu estatuto jurídico e administrativo a Melgaço, fundando assim o nosso concelho.

Ao longo da Idade Média e Moderna foram concedidos mais dois forais, um em 1258 por D. Afonso III e o outro em 1513 por D. Manuel I, vendo assim Melgaço reconhecida a sua autoridade concelhia.

Estando a decorrer a passagem dos 820 anos do primeiro foral de Melgaço, considerou a Câmara Municipal que a publicação dos três forais constituía um investimento cultural que se impunha por se tratar de documentos que são autênticos símbolos de autoridade concelhia e de grande valor patrimonial que marcam três fases importantes da vida da nossa terra.

Ao darmos a conhecer aos Melgacenses e ao exterior marcos tão importantes da nossa história estamos a preservar as nossas raízes e a promover o nosso concelho.

Uma palavra final de agradecimento sincero ao ilustre Melgacense Prof. Doutor José Marques que com esta publicação presta mais um enorme serviço ao nosso Município.

Continuamos a construir o futuro de Melgaço, preservando e engrandecendo os valores da nossa cultura.

 

                      O Presidente da Câmara Municipal

 

 

Os Forais de Melgaço

José Marques

Edição Câmara Municipal de Melgaço

2003

 

A FRONTEIRA DE SÃO GREGÓRIO

melgaçodomonteàribeira, 04.06.16

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ESTADO CEDEU QUATRO EDIFÍCIOS POR CINQUENTA ANOS

 

CÂMARA DE MELGAÇO FICA COM CASAS DE FRONTEIRA 

 

Os quatro edifícios da antiga Estação Fronteiriça de São Gregório, em Cristóval, freguesia mais a norte do território nacional, foram cedidos pelo Estado à Câmara de Melgaço, gratuitamente e por cinquenta anos.

De acordo com o município liderado pelo socialista Manoel Batista, os imóveis, que durante muitos anos constituíam o posto fronteiriço de ligação a Espanha, «vão ser requalificados e devolvidos à comunidade».

Manoel Batista assegurou «já ter projetos para os quatro edifícios, atualmente em avançado estado de degradação», mas que «só divulgará oportunamente».

Com a assinatura do contrato de concessão de utilização da antiga Estação Fronteiriça de São Gregório, e após «inúmeras diligências junto do Ministério das Finanças», a autarquia vê «concretizada uma aspiração antiga».

«Foi já assinado entre o município e o Ministério das Finanças o contrato de concessão que cede, a título gratuito, e por um período de 50 anos, o imóvel do Estado denominado por Antiga Estação Fronteiriça de São Gregório, em Cristóval, Melgaço», adiantou a autarquia.

Para Manoel Batista, «esta medida vai permitir recuperar um património de elevado interesse a nível local e regional, retirando esses edifícios de um processo de degradação contínua».

 

                                                                                                                    Redação/Lusa

 

Diário do Minho, 26.5.2016

 

IGREJA DE CHAVIÃES

melgaçodomonteàribeira, 02.01.16

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PARÓQUIA DE CHAVIÃES (SANTA MARIA MADALENA)

 

Na lista das igrejas situadas no território de Entre Lima e Minho, elaborada pela ocasião das Inquerições de D. Afonso III, em 1258, Chaviães, então denominada “Chavanes”, era citada como uma das igrejas subordinada ao bispado de Tui.

No catálogo das mesmas igrejas, mandado elaborar, em 1320, pelo rei D. Dinis, para o pagamento de taxa, figura apenas a igreja de Santa “Seguinhe” na Terra de Valadares.

A esta igreja estava anexada Santa Maria Madalena de Chaviães.

Em 1444, D. João I conseguiu do Papa que este território fosse desmembrado do bispado de Tui, passando a pertencer ao de Ceuta, onde se manteve até 1512. Neste ano, o arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa, deu a D. Henrique, bispo de Ceuta, a comarca eclesiástica de Olivença, recebendo em troca a de Valença do Minho. Em 1513, o Papa Leão X aprovou a permuta.

No registo da avaliação dos benefícios da comarca eclesiástica de Valença do Minho, feito em 1546, “Sancta Segoinha de Chaveães”, a que era anexa Santa Maria Madalena rendia 40 mil réis. Pertenciam então à Terra da vila de Melgaço.

Na cópia de 1580 do Censual de D. Frei Baltasar Limpo sobre a situação canónica destes benefícios, Santa Maria Madalena de Chaviães é referida como sendo anexa “in perpetuum” a “Santa Seculinha de Chaviães” por doação feita por padroeiros leigos ao duque de Bragança. A este pertencia o direito de apresentação de Santa Seculinha.

Em termos administrativos, fez parte, em 1839, da comarca de Monção e, em 1878, da comarca e julgado de Melgaço.

Pertence à Diocese de Viana do Castelo desde 3 de Novembro de 1977.

 

 

Retirado de:

http://digitarq.advct.arquivos.pt/details?id=1070105

 

QUEM DÁ MAIS...

melgaçodomonteàribeira, 25.11.15

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e porque não? a minha bisavó era galega e pariu onze portugueses

 

 

GOVERNO VENDEU A UM ESPANHOL PRIMEIROS METROS DE PORTUGAL

 

“São os 60 metros quadrados do terreno mais a norte de Portugal e a mais importante caseta da Guarda Fiscal que o Governo aceitou vender, sem consultar ninguém, a um privado que, por acaso, é espanhol. Denuncia, ao JN, António Sousa, presidente da Junta de Freguesia de Cristóval, em Melgaço, onde se situa a emblemática fronteira de S. Gregório.

 

Esta fronteira era conhecida sobretudo pela intensidade do contrabando e pelo número de pessoas que a usavam para dar “o salto” para Espanha e depois para França. O facto de, neste local, a fronteira geográfica ser feita pelo rio Trancoso, um pequeno afluente do Minho, que permite o atravessamento a pé, fez da fronteira mais a Norte, uma das mais conhecidas do país.

“É uma afronta o Governo aceitar vender os primeiros metros de território português sem sequer informar as autoridades locais”, referiu Avelino Fernandes, antigo guarda-fiscal, que ajudou a colocar o soalho na pequena casa agora vendida a um espanhol.

Para a população de Cristóval, a solução passará pela anulação da venda ou por uma compra ao novo proprietário. “A nossa ideia é restaurar a casa, içar a bandeira portuguesa e colocar no local informações sobre a história da fronteira”, afirmou Avelino Fernandes.

Manoel Batista, presidente da Câmara Municipal de Melgaço, não se mostra tão confiante no regresso da casa da Guarda Fiscal (onde o rés do chão funcionava como uma prisão provisória para os contrabandistas) a mãos portuguesas. “O município não foi informado, mas a casa e o terreno foram vendidos”, referiu. E continuou: “A solução passa pela qualificação dos restantes edifícios da fronteira como sendo de interesse municipal, o que já cria alguns entraves à venda e à realização de obras”.

“É lamentável, a todos os níveis, que tenham sido vendidos os primeiros metros de Portugal e que ninguém faça nada”, condenou por sua vez Jorge Ribeiro, deputado municipal do PSD. “É triste que, do lado espanhol, o edifício da fronteira esteja impecável e que, uns metros mais à frente, depois da ponte do rio Trancoso, Portugal tenha vendido os primeiros palmos de terra de uma nação”, indigna-se o deputado.

Contactado pelo JN, o novo proprietário do terreno e da antiga casa da Guarda Fiscal na margem do rio Trancoso não quis fazer comentários sobre o negócio.

 

Publicado em: Jornal de Notícias

Emília Monteiro

13/4/2014

 

O CRUZEIRO DA ORADA

melgaçodomonteàribeira, 18.11.15

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Cruzeiro da Orada 

 

CRUZEIROS

 

 

Aparentando maior antiguidade outro cruzeiro se levantou na Orada, à margem da estrada macadamizada e precisamente no sítio onde se tocam as extremas das freguesias de Santa Maria da Porta e Santa Maria Madalena de Chaviães. Colocado noutros tempos junto da Capela de Nossa Senhora da Orada para o actual sítio foi transferido por ocasião da abertura da estrada nacional de Melgaço para São Gregório.

Como então o deixaram bem junto à parede do suporte do terreno onde fora colocado e só com muita dificuldade as procissões religiosas andavam à sua volta, a junta de freguesia da vila em sessão de 15 de Fevereiro de 1898 deliberou colocá-lo no centro do pequeno recinto e em consequência mandou terraplanar o terreno e encarregou um dos vogais de proceder à nova colocação deste modesto monumento, símbolo da religião cristã do nosso povo.

À arte nada deve o cruzeiro e entrementes a imagem do Cristo crucificado, de bárbara e tosca configuração, contorcido e sem proporções, afinal um aborto saído das mãos de ignorado lapicida, tem muitos e muitos devotos.

Datado de 1567 ele é um ex-voto dos melgacenses daquela era, ali colocado naquele ano de peste, para agradecer a Deus ter poupado Melgaço aos seus horrores ou a pedir um Pai nosso por alma dos ceifados por ela nestas redondezas. Muitos e mui fervorosos devotos teve este cruzeiro, mas foi a sua inércia e o seu desinteresse pela letra de forma quem conseguiu travar uma campanha jornalística encetada num semanário local para aquela imagem de Cristo ser dali arrancada e substituída por outra trabalhada com arte flamejante e resplandecente. No jornal defendiam-se as belas-artes, mas inadvertidamente se atacavam a crença e a tradição e como o povo mal sabia ler, esta obra dos nossos maiores não foi profanada.

 

(Publicado em Notícias de Melgaço de 18/3/1956)

 

Obras Completas

Augusto César Esteves

Volume I  tomo 2

Edição Câmara Municipal de Melgaço

p. 552

 

VIA ROMANA VALENÇA-MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 27.07.13

 

Ponte da Cava da Velha, Castro Laboreiro

 

 

ITINERÁRIO DA VIA ROMANA VALENÇA – MELGAÇO

 

 

   Os vestígios romanos ao longo da margem esquerda do rio Minho podem estar associados a uma via que, derivando da via XIX em Valença, seguia em direcção a Melgaço e daqui para Espanha ou para Castro Laboreiro.

   Esta hipotética via assenta num duvidoso miliário achado entre Ganfei e Verdoejo que seria mais facilmente atribuível à Via XIX que passava ali bem perto em Valença na velha Ponte de Mouro (Barbeita) que na sua forma actual é uma construção medieval aparentemente sem qualquer elemento romano e na Ponte da Calçada em Troporiz que integra pedras almofadadas possivelmente com origem romana. Mas como esta ponte está mais alinhada num eixo N-S, é provável que pertencesse à via com origem em Braga e que vinha por Arcos de Valdevez até à travessia do rio Minho perto de Monção.

   Assim, é mais provável que seja um itinerário com origem medieval, até porque uma via ao longo da margem de um rio não é prática romana.

 

EVENTUAL LIGAÇÃO MONÇÃO-MELGAÇO: Reiriz, Troviscoso (calçada), Bela (povoado no monte de Ns. Ascensão), Barbeita, Ponte Romano?-Medieval de Mouro sobre o rio Mouro, Barbeita (1 arco), Ceivães, Valadares, Sá, Penso, Paderne (Termas do Peso e Cevidade de Paderne), Ponte Romano-Medieval sobre a ribeira da Folia, Remoães (nas Termas do Peso), Remoães, Melgaço.

 

EVENTUAL LIGAÇÃO MELGAÇO-CASTRO LABOREIRO: de Melgaço poderia ligar a Castro Laboreiro por Lamas de Mouro (Ponte Medieval em Porto Ribeiro) e daí para Castro Laboreiro segue pelo CM1160 por Laceiras, Assureira, Ponte Medieval da Cava Velha, sobre o rio Laboreiro, com silhares aparentemente almofadados, Ponte Medieval de S. Brás sobre a ribeira de Barreiro, com silhares almofadados do lado nascente, Assureira, Dorna, Ponte Medieval de Dorna sobre a ribeira de Dorna; também de Ameijoeira sairia uma via para NE pelo CM1159, por Bago de Baixo, Bago de Cima, Curveira, Bico, Cainheiras Ponte Medieval das Cainheiras, sobre a ribeira das Cainheiras, Portas, Barreira e Bande já na Galiza.

 

Retirado de:

 

Itinerário das Vias Romanas em Portugal

 

http://www.viasromanas.planetaclix.pt/#valençamelgaço

 

O MENSAGEIRO DO CONDE

melgaçodomonteàribeira, 14.05.13

 

Convento das Carvalhiças e capela da Senhora da Pastoriza

 

 

CAPELA DA SENHORA DA PASTORIZA

 

FUNDAÇÃO

 

« ... havendo respeito a estar vago o posto de capitão da Companhia de Infantaria da Ordenança da freguesia de S. Paio, de Remoães e Várzea, da vila de Melgaço, por promoção de Matias de Sousa e Castro, Capitão dela ao posto de sargento mor da mesma ordenança, e a Domingos Gomes de Abreu me representar que indo ao Reino de Galiza por ordem do conde de Atalaia Governador das Armas da Província do Minho a negócio que podia ser útil a meu serviço aonde fez o que se lhe ordenou, de que resultou ser preso e metido nas minas do Castelo de Castro, onde esteve cinco dias, e daí foi remetido ao castelo de Santo António da Corunha donde foi levado preso e manietado e acompanhado de sete soldados a cavalo e outros tantos de pé ao de Cárcere Real, aonde lhe deram tratos e o sentenciaram a que não entrasse mais nos domínios de Espanha, fazendo muitas súplicas, para conseguir liberdade; e que também acompanhara o Governador da dita vila de Melgaço no rebate que nela houvera em 10 de Maio do ano passado de 1704 com sua pessoa e criados; e que fora também reconhecer o inimigo que vinha lançar ponte à barca nova de Valadares, animando o povo para defesa da passagem... »

    Esta singela e brilhante apresentação do fundador da Capela de Nossa Senhora da Pastoriza aparece assim feita pela filha de D. João IV, a senhora « Dona Catarina, por graça de Deus Rainha de Inglaterra, Escócia, França e Irlanda, Infante de Portugal, como Regente destes Reinos, no impedimento de meu irmão, o Senhor Dom Pedro, por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, Senhor da Guiné, etc. » na carta patente passada em 19 de Agosto de 1705 ao fogoso capitão de ordenanças nascido em Melgaço. Falando-lhe de vitórias e de amarguras, e lembrando-lhe os dias fulgurosos de glória e os sombrios dos tratos de polé, a Regente fez dele um segundo Prometeu, gravando-lhe no cérebro um outro abutre – a lembrança do passado no cárcere da Corunha. A noite, as horas silenciosas da noite, traziam-lhe à mente a obrigação contraída com a Mãe de Deus na Corunha, numa das horas de mais abatimento e de maior temor; o dia esplendoroso mais os cuidados inadiáveis da vida quotidiana faziam-lhe, porém, esquecer o compromisso tomado.

    A memória, contudo, nunca o deixou olvidar nem os trabalhos passados nem as angústias sofridas no Reino da Galiza pelo mensageiro do Conde da Atalaia.

    Uns e outros tinham penetrado fundo no seu peito e amarfanhado o seu coração; queimavam-lhe ainda o cérebro quando em 1707 dirigiu este requerimento a Dom Rodrigo, Arcebispo Primaz: « Diz o Capitão Domingos Gomes de Abreu, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, e familiar do Santo Ofício na vila de Melgaço, que no ano de 1703 foi mandado pelo Conde da Atalaia ao reino da Galiza a certo negócio de serviço de sua Majestade que Deus guarde de que resultou prendê-lo o governador de Vigo em sua Casa metendo-o nas minas do Castelo de Castro, onde o teve cinco dias e daí o passaram a Corunha ao Castelo de Santo António e de lá o passaram a Cárcere Real para lhe darem questão de tormento, e vendo-se nestas aflições invocou e chamou para seu amparo a Nossa Senhora da Pastoriza, por ter ouvido dizer os inumeráveis milagres que naquela terra fazia, e tinha feito, prometeu-lhe fazer uma capela na sua terra, se ela permitisse vir ele para ela, e como alcançou da Senhora o que lhe pediu como pecador, quer este fazer-lhe a Capela no Coto da Pedreira desta freguesia por ser lugar pouco onde costumam ir os clamores desta vila não havendo neste lugar mais do que uma cruz e ser o lugar que ele com individuação elegeu no tempo que fez a promessa, que farão cinco meses e cinco dias até que por decreto especial foi degradado para fora dos Estados de Espanha, com a pena de vida, prevendo o cómodo da parte para a dita capela, a quer fazer à sua custa e pôr-lhe os ornatos necessários e nomear-lhe bens livres dízimos a Deus que valham melhor de dois mil cruzados que serão postos por avaliação de louvados pelo que – Pede a V. Ilustríssima, informado desta verdade do sítio, lhe conceda licença para fazer a dita capela, por ter já a pedra disposta e com esta concedida mereça V. Ilustríssima a protecção da dita Senhora em permitir o voto prometido

E.R.M.»

 

                                       (Publicado no Notícias de Melgaço em 15/1/56)

 

Obras Completas: Augusto César Esteves

Nas Páginas do Notícias de Melgaço

Edição Câmara Municipal de Melgaço

Volume I Tomo 2

2002

Pág.s 438, 439

 

AS MAMOAS CASTREJAS

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS

 

MAMOAS DO NORTE DE PORTUGAL:


ESTADO DA QUESTÃO EM 1981

 

Por: Vítor Oliveira Jorge

 

Professor Catedrático da Faculdade de Letras da U.P.

 

   O distrito de Viana do Castelo é muito rico em monumentos dolménicos. As concentrações megalíticas iniciam-se aliás junto à fronteira (a respectiva linha passa por alguns monumentos), prolongando para sul as necrópoles da zona meridional da província de Pontevedra.

   No concelho de Melgaço, destaca-se a este respeito a freguesia de Castro Laboreiro, Em finais de 1978, a Unidade Arqueológica da Universidade do Minho realizou o levantamento sistemático das suas mamoas, integrado num trabalho semelhante extensivo a todo o Parque Nacional da Peneda-Gerês, no qual existiriam cerca de 200 monumentos; desses, a maior parte situar-se-ia precisamente no planalto de Castro Laboreiro, a cotas a cerca de 1200 m. Aí teriam sido identificadas  64 mamoas e uma cista. É o que se pode ler num folheto sobre a acção da U.A.U.M. intitulado “ Actividade Arqueológica – 1976 – 1980”, em que se escreve: “ as mamoas formam conjuntos de 3 a 9 unidades, preferencialmente localizados nas chãs do planalto. A maior parte destes conjuntos encontra-se em aparente relação com um monumento isolado no alto do monte mais próximo. São poucas as mamoas que se localizam nas vertentes ou no fundo das corgas. O material usado na construção destes túmulos foi o granito que constitui o substrato de uma larga faixa do planalto de Castro Laboreiro.

   “Grande parte destes monumentos sofreu ao longo de diferentes épocas violação da câmara, verificando-se mesmo, nalguns, o desmantelamento parcelar da mamoa”.

   Todavia, posteriormente, teriam sido identificados mais monumentos (de carácter dolménico e “cistas”) que, no seu conjunto, e segundo uma informação pessoal, atingiriam a cifra de 80.

   Em 1978, e a convite do Parque Nacional, deslocámo-nos a Castro Laboreiro na companhia de diversos arqueólogos, tendo então observado os monumentos seguintes:

   - Mamoas da Corga das Antas (2), nas proximidades do monte chamado da “Paicota”. Trata-se de monumentos de grandes dimensões, muito bem conservados, situados a alguns metros um do outro. Um deles, com 25m de diâmetro, não apresentava sinais de violação, o que é extremamente raro. Segundo o P. Aníbal Rodrigues, no Outeiro da Paicota haveria outra possível mamoa;

   - Mamoa junto da “Pedra Cavalgada”, nas proximidades do marco fronteiriço nº 18. Destaca-se enormemente na paisagem, sendo de grandes dimensões;

   - Mamoas da Pedra Cavalgada (4) – conjunto de quatro monumentos, situados e um e outro lado do caminho;

   - Mamoas da Corga do Porto dos Bois (3);

   - Mamoa do marco geodésico do Giestoso (1337 m de altitude), este marco foi implantado sobre o monumento, que domina inteiramente toda a área visitada;

   - Mamoas a sul do marco fronteiriço nº 25 (2), situadas nas proximidades da “Mota Furada” ou do Alto da Lama da Paz; uma delas contém ainda elementos da estrutura megalítica. Destacam-se nitidamente na paisagem;

   - Dólmen e mamoa da “Mota Furada”- dólmen com corredor (ao que nos informaram, ainda intacto), virado a nascente. A tampa foi partida recentemente em três fragmentos. Laje de cabeceira de grandes dimensões. É notória a forma de alguns esteios da câmara, aparentemente mais largos do que altos.”Mota” é a designação que o povo local dá às mamoas;

   - Mamoa da Cabeça de Meda, nas imediações do marco geodésico do Giestoso;

   - Dólmen de Pio Carneiro (Portos). Com uma mamoa de grandes dimensões. A laje de cobertura foi partida recentemente. Um dos esteios apresenta três concavidades circulares, cuja origem humana é duvidosa.

   Há alguns anos, o Sr. Padre Aníbal Rodrigues publicou uma pequena nótula sobre os Dólmenes de Castro Laboreiro, segundo a qual eles seriam “geralmente constituídos por sete esteios e uma mesa ou chapéu”.

   O conjunto megalítico de Castro Laboreiro é, sem dúvida, um dos mais importantes do Norte do país, impondo-se a publicação do inventário realizado, e a efectivação de escavações cientificas em alguns monumentos. O facto de as mamoas surgirem nuclearizadas, e de algumas assumirem uma posição dominante na paisagem, relativamente às demais, é também de muito interesse, pois, tal como acontece em algumas necrópoles transmontanas, pode representar uma hierarquização tumular em relação com aspectos sociais, cronológicos, ou tão só simbólicos. A presença, ao que parece, de “cistas” nas proximidades de monumentos de maiores proporções, é também um dado que conviria ser investigado.

 

Ler o documento completo em:

 

 

 http://ler.letras.pt/uploads/ficheiros/2095.pdf

 

 

Felizmente o cenário actual é bem diferente, várias foram as mamoas escavadas e estudadas no Alto da Portela do Pau, bem como a mamoa do Batateiro na freguesia da Gave. É de enaltecer o trabalho do Professor Doutor Vítor Oliveira Jorge e das suas equipas que há décadas dirige os trabalhos arqueológicos no Planalto de Castro Laboreiro. E ao grande castrejo Padre Aníbal Rodrigues que nunca esmoreceu com as dificuldades e lutou para que os “seus” monumentos não fossem esquecidos, a minha homenagem – Obrigado Padre Aníbal.

 

VANDALISMO NO PLANALTO CASTREJO

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

ARTE MEGALÍTICA NO PLANALTO DE CASTRO LABOREIRO

 

(MELGAÇO, PORTUGAL)

 

 

  

Equipa arqueológica V. O. Jorge

 

Por António Martinho Baptista

Centro Nacional de Arte Rupestre

Vilanova de Foz Côa

 

 

   Em Abril de 1990, na sequência de uma violação recente, detectámos a presença de gravuras e restos de pintura na Mota Grande, a maior mamoa do planalto de Castro Laboreiro. Tendo em atenção a importância do achado e no sentido de salvaguardar futuros vandalismos no monumento, realizámos de imediato o levantamento das gravuras dos dois esteios decorados que foi possível identificar. Posteriormente e porque o monumento, embora se localize em plena linha de fronteira, está já na mancha galega do planalto, comunicámos estes achados aos responsáveis do Património Histórico da Galiza. Por não considerarmos este levantamento como um trabalho acabado, nunca o publicámos. No entanto, e talvez na sequência do nosso alerta, o Boletín Avriense revelou a presença da arte megalítica da Mota Grande através de um pequeno artigo, com um desenho sumário e imperfeito dos motivos.

 

   Durante as campanhas de 1993-1994, foram descobertos novos restos de arte megalítica noutros dos tumulus da Portela do Pau, a mamoa 2, descoberta que decorreu fruto da escavação. Conhecem-se assim no grupo de mamoas da Portela do Pau dois dólmenes decorados, havendo possibilidades de trabalhos futuros poderem detectar novos restos artísticos. Também o levantamento arqueológico da arte megalítica desta mamoa 2, devido ao tipo de vestígios que ostenta e à interrupção dos trabalhos em 1995, nunca foi convenientemente terminado, sendo passível de pequenos acertos no futuro.

   Pese embora estes factores, são esses dois levantamentos "quase completos" que trazemos à apreciação deste Colóquio.

 

   As datações absolutas a partir de amostras de carvões, atribuíveis ao momento de "condenação" da câmara, deram cronologias da primeira metade do IV milénio A.C. De acordo com a hipótese interpretativa apresentada por Vítor Oliveira Jorge na publicação destas datações (1996), a mamoa 2 teria sido construída "durante a segunda metade do V milénio A.C.". É a este momento que deve ser atribuído o seu "projecto decorativo", que deve ser encarado como uma obra total, realizado num único momento.

   A decoração da Mota Grande, integrada no mesmo conjunto de mamoas, deve ser atribuída "sensu latu" ao mesmo período cronológico.

 

Retirado de:

 

http://www.ctv.es/USERS/sananton/coloqmeg.pdf